O povo brasileiro é conhecido internacionalmente (e auto-denominado) um dos mais simpáticos do planeta. É um povo comunicativo, afável e atencioso, especialmente com “gringos”. Pois bem, o governo parece achar que isso representa uma certa passividade e inferioridade dos brasileiros. Substancialmente, na relação complicada com a Espanha. Não é de hoje que os dois governos trocam farpas, mas hoje (2 de abril) o Brasil implementa a medida de reciprocidade.

Aeroporto de Barajas, em Madrid, onde mais de mil brasileiros foram barrados em 2011
Do UOL Notícias:
As exigências incluem passaporte válido por seis meses, bilhete aéreo de ida e volta, comprovação de recursos para estadia e hospedagem garantida –exatamente as mesmas obrigações que brasileiros têm de cumprir quando querem entrar na Espanha.
Há anos os dois países trocam acusações de maus tratos a seus turistas. Em 2007, os espanhóis barraram 3.013 brasileiros no aeroporto madrileno, segundo o Itamaraty. No ano seguinte, foram 2.196. Em 2009, houve queda para 1.714 e em 2010, para 1.695. Os números do ano passado ainda não foram concluídos, mas até agosto de 2011 pelo menos 1.005 brasileiros foram rejeitados na principal porta de entrada para a Espanha.
Em entrevista ao jornal “El País”, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que “as situações arbitrárias” realizadas pela Espanha afetam “pessoas que têm a documentação em dia e são levadas a uma sala separada do aeroporto [de Madri] para ser investigadas pela polícia”.
Observem: ao longo dos últimos 4 anos, o número de brasileiros barrados em Madrid caiu quase 60%. É uma evolução considerável, ainda que o número de nacionais que retornaram ainda seja alto.
Segundo informações do BBC Brasil, de 2011 (relativas a 2010, último ano com informações consolidadas:
O Brasil mantém a primeira posição entre as entradas negadas nos aeroportos europeus desde que a Frontex começou a contabilizar o dado, em 2008, mas a agência destaca que o número de casos caiu 24% no ano passado em relação a 2009. “A razão está relacionada à crise econômica. Com menos oportunidades de emprego, a UE se tornou um destino menos atrativo para os imigrantes. Por isso houve uma queda significativa no tráfego aéreo para a UE, inclusive a partir do Brasil”, explicou à BBC Brasil Izabella Cooper, porta-voz da Frontex. (…)
No ano passado, a Frontex também detectou 13.369 brasileiros vivendo ilegalmente em algum país da UE, a maioria deles em Portugal, Espanha e França. O número representa 3,8% do total de residentes ilegais identificados no bloco em 2010 e coloca o Brasil na sexta posição da lista, liderada por Marrocos, com 6,3% do total.
Vejam que o posicionamento da porta-voz da Frontex e do ministro das Relações Exteriores do Brasil são bastante distintas. Ela prioriza os imigrantes ilegais, enquanto ele afirma que pessoas em situação legal são barradas. Difícil julgar sem ter conhecimento de cada caso, mas acredito que ela esteja certa: o número de brasileiros que tentam a sorte no exterior é grande. Muitos, fazem-no sem os documentos corretos, e por isto são mandados de volta. Por outro lado, o Brasil é apenas o sexto país em número de imigrantes ilegais, mas o mais barrado. Por quê?
As medidas que nosso ministério tomou neste momento são aprovadas por 95% dos mais de 3 mil internautas que opinaram em enquete do UOL, o que me surpreendeu. Ainda que o país tenha este direito, e com isto demonstre que não é tão passivo quanto a forma de tratamento de seus cidadãos quando no exterior, estas medidas tem um efeito negativo na imagem do país. O Brasil já é distante dos principais turistas do mundo, e de difícil acesso (idioma, violência e custo das passagens são grandes entraves). Com isto, o interesse dos turistas globais pode diminuir ainda mais. Especialmente em um momento de crise, quando até os Estados Unidos estão flexibilizando suas fronteiras… Estaria o Brasil na contra-mão do planeta, reforçando o caráter protecionista deste governo?
O que você acha destas medidas do governo?