Ao menos para a Grécia e/ou ao menos nesta década.
As eleições francesas do último domingo ofuscaram o evento realmente mais importante para a solidez do grupo nos próximos anos: as eleições na Grécia.
Até aqui, a população helênica vinha, a trancos e barrancos, tentando suportar um governo de coalizão. Um governo que unia a centro-esquerda e a centro-direita de forma artificial, com o intuito de garantir os empréstimos do FMI e do Fundo de Estabilização Europeu.
Mas o povo grego não foi em nenhum momento muito paciente. Movimentos populares, barricadas, greves e manifestações ainda mais violentas ocorreram quase incessantemente desde o estopim da crise, quando o governo admitiu que as contas públicas estavam sendo fraudadas e que o país não conseguiria se financiar nos mercados internacionais.
O resultado se viu neste fim de semana: os dois principais partidos políticos do país, Nova Democracia e PASOK, favoráveis ao programa de austeridade exigido pela troika que financia os empréstimos perderam terreno e já admitiram não serem capazes de formar um governo.
O partido de extrema esquerda, Syriza, conseguiu a segunda posição nestas eleições parlamentares, e agora tenta formar o novo governo. Porém, eles já afirmaram: se subirem ao poder, rejeitarão as atuais condições de resgate econômico, suspenderão o pagamento da dívida e estatizarão o controle dos bancos.
Se não conseguir reunir ao menos metade dos assentos do parlamento, novas eleições terão de ser marcadas, e compromete-se o pagamento dos títulos da dívida com pagamento mais próximo. Se conseguir, acontecerá algo ainda mais drástico: os pagamentos serão cessados e, provavelmente, a Grécia sairá da Zona do Euro – e em menos de um ano.
Teoricamente, isto não seria tão ruim. A Grécia poderia reequilibrar suas contas públicas e, após o rearranjo interno, quem sabe até voltar para a moeda única. Porém, há alguns pontos importantes a destacar:
– Os mercados reagem às notícias. Nos últimos dias, as bolsas de boa parte do mundo cairam fortemente com estas notícias ruins, em Portugal e Espanha, ainda mais. Isto porque (ainda) se acredita que estes países possam ser os próximos da fila. Não necessariamente isto aconteceria, mas se o valor dos ativos se desvalorizar, ocorrer uma fuga (ainda maior) de capitais destes locais, pode sim se tornar uma profecia auto-realizável.
– A União Europeia (e, principalmente, a Zona Euro) terá exigências muito maiores para a aceitação de novos membros. Um bêbado nunca deixa de ser viciado, ele pode simplesmente estar em abstinência. E o medo da necessidade de novos pacotes como estes aumentará.
MEDO. Este se torna hoje o maior vilão de uma união ainda mais forte na Europa.
De certa forma veo a zona do euro tentando manter a sua integridade assim como nós, no Brasil, temos bolsões de pobreza e de geração de dinheiro, contraponto as zonas norte-nordeste com a xona sudeste-sul. Por sermos uma nação única acabamos arcando com todos os custos de todos. A questão da zona do euro, na minha ignorância, em menor ou maior grau, também flutua nisso. Entre os paísis cujos PIBs levam-na para frente e aqueles que cheios de dívidas e problemas sociais a impedem de progredir. Seria a minha observação muito vazia, Francis?
Nem um pouco vazia, Breno, mas infelizmente ela não é 100% correta. Em primeiro lugar, ao contrário do Brasil, a Zona Euro não é um estado-nação, e cada Estado possui políticas fiscais (e as consequentes gestões de recursos) próprias. Isto impede uma coordenação (e fiscalização, principalmente) do desenvolvimento das periferias (como ocorreu na Alemanha Oriental após a unificação, a menina dos olhos dos alemães).
Outro ponto importante a levantar é o crescente (e sempre forte) nacionalismo que existe na Europa. Você esteve lá e pode ter uma amostra: imagine um movimento “o sul é o meu país”, elevado à 80a potência. As populações dos países mais ricos querem que os países periféricos se desenvolvam, sim, até porque isto favorece o desenvolvimento de suas próprias nações. Mas eles não querem entregar isto de graça, querem garantias, e a paciência destes povos está cada dia mais curta.