Talvez até pessoas que frequentam o Rio de Janeiro não tenham percebido, mas está a cidade está realizando uma das maiores reformas urbanas da história em sua região portuária: o plano Porto Maravilha. Seguindo o exemplo de cidades como Baltimore, Londres, Buenos Aires e, principalmente, Barcelona, o Rio de Janeiro realiza um ambicioso e complexo plano, que dará nova cara à região central da sede dos próximos Jogos Olímpicos.
O MAR (Museu de Arte do Rio) e o Museu do Amanhã, projetado pelo renomado arquiteto Santiago Calatrava, serão construídos na região, dando vigor cultural e artístico a região. A demolição da perimetral, a construção de túneis e a priorização dos pedestres, além de um VLT, darão uma nova região de lazer à cidade.
Além disto, o plano inclui:
- Construção de 4 km de túneis;
- Reurbanização de 70 km de vias e 650.000 m² de calçadas;
- Reconstrução de 700 km de redes de infraestrutura urbana (água, esgoto, drenagem);
- Implantação de 17 km de ciclovias;
- Plantio de 15.000 árvores;
- Construção de três novas estações de tratamento de esgoto.
Vale a pena conferir o vídeo institucional, que dá mais vida às obras mencionadas:
Como a Exame pontuou, a forma que este grande empreendimento está sendo financiada é inovadora:
No conjunto, a reforma no porto carioca é a maior obra de revitalização urbana do Brasil e, segundo levantamento da consultoria KPMG, uma das dez maiores do mundo, lista que inclui a reconstrução da área do World Trade Center, em Nova York.
“Não resta dúvida de que agora a revitalização do porto é uma realidade”, diz Richard Dubois, sócio da consultoria PwC no Brasil. Além daquilo que já foi iniciado, há mais de 70 obras aprovadas para a área, incluindo prédios de escritórios e residenciais privados.
Atrair as empresas privadas, aliás, foi essencial para tirar o Porto Maravilha do papel. Isso foi possível porque a prefeitura do Rio criou condições para firmar parcerias, dar segurança aos investidores e acelerar as obras. Por um lado, adotou um modelo diferente de parceria público-privada.
Normalmente, uma PPP é feita para uma só obra. Por essa lógica, a prefeitura teria de firmar dezenas de PPPs na área do porto, uma para cada empreendimento, o que tenderia a arrastar a empreitada. A saída foi juntar todas as obras de infraestrutura e serviços num pacote e levá-lo a uma licitação.
Com uma oferta de 7,6 bilhões de reais, venceu o consórcio Porto Novo (que reúne as construtoras OAS, Carioca e Odebrecht). A concessionária tem até 2016, ano da Olimpíada, para entregar obras como duas avenidas e 700 quilômetros de redes de água, esgoto, luz e telecomunicações.
A Porto Novo ainda será responsável pela prestação de serviços como manutenção das vias e controle do tráfego até 2026. A ideia é ganhar em eficiência. “A iluminação da região será em LED, e os coletores de lixo, subterrâneos”, afirma José Renato Ponte, presidente da Porto Novo.
“São tecnologias mais caras agora, mas que irão gerar economia no longo prazo.” Para levantar o dinheiro necessário à infraestrutura, a prefeitura adotou um sistema de venda de títulos às incorporadoras interessadas em construir prédios mais altos do que normalmente seria permitido.
Os recursos arrecadados com os títulos são aplicados na melhoria da região onde o prédio ficará. Esse sistema foi usado em São Paulo na reurbanização da avenida Faria Lima. A prefeitura paulistana leiloou os títulos gradualmente ao longo de anos. No caso do Rio, todos os títulos foram vendidos em 2011 para a Caixa Econômica Federal.
O banco estatal assegurou assim uma bolada de uma só vez — pondo 3,5 bilhões de reais em um fundo que vai financiar as obras. Agora, a Caixa está revendendo os papéis para incorporadoras. “A estratégia mostrou ao mercado que há recursos garantidos para a urbanização”, diz Maurício Endo, sócio da KPMG.
Mais que recuperar prédios e ruas estragados, a proposta do Porto Maravilha é criar um ambiente agradável para trabalho, moradia e passeio. Hoje, há 20 000 moradores na área, boa parte em ocupações ilegais. A expectativa é que, em oito anos, abrigue 100 000 usufruindo de qualidade de vida.
A reforma busca tornar o local também atração para turistas. De 1992 a 2010, o número de visitantes de Barcelona foi de 2 milhões anuais para 8 milhões.
O Rio demorou 30 anos para que uma revitalização de fato começasse pelo mesmo motivo que Buenos Aires levou mais de 50 anos até concretizar a reforma de Puerto Madero e São Paulo ainda pena para repaginar seu centro: faltam ações integradas, com abertura de espaço para a chegada de pessoas que morem e deem vida nova ao lugar.
“Normalmente, uma revitalização urbana tão grande só acontece quando não uma, mas uma série de obras de infraestrutura são feitas conjuntamente”, diz Trent Lethco, urbanista da Arup, um dos maiores escritórios de planejamento urbano de Nova York. “O Rio inovou porque concedeu todo o pacote a uma empresa privada.” O começo é promissor — para o bem do Rio, tomara que o plano vingue.
Se o plano der certo, o Rio se colocará no centro do mundo turístico. E é essa a ideia. Leia mais sobre o Porto Maravilha no site oficial, através deste link.