Talvez vocês tenham achado que eu deixei passar batido a divulgação do PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2012, na última sexta-feira. Não deixei. Mas sinceramente, não sabia o que comentar para não ser mais do mesmo.
Do IBGE:
Em relação ao segundo trimestre de 2012, o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre cresceu 0,6% na série com ajuste sazonal. O maior destaque foi a agropecuária, que cresceu 2,5%, seguida da indústria (1,1%). Os serviços tiveram variação nula. Na comparação com o terceiro trimestre de 2011, o PIB cresceu 0,9% e, dentre as atividades econômicas, destacaram-se o aumento da agropecuária (3,6%) e o dos serviços (1,4%). A indústria caiu 0,9%. No acumulado nos quatro trimestres terminados em setembro de 2012, o crescimento foi de 0,9% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, enquanto que no acumulado dos três primeiros trimestres de 2012, o PIB cresceu 0,7% em relação à igual período de 2011. O PIB em valores correntes alcançou R$ 1.098,3 bilhões.
Vamos aos gráficos, porque nem você nem eu gostamos de blá blá blá em economês:
Se você olha o primeiro ou o segundo gráfico (especialmente o segundo, que tem uma periodicidade maior e por isso tende a ter respostas mais suaves), você diria: Francis, mas tá melhorando!
OK. Está. Mas a que ritmo?
Para isto é bom olhar o primeiro gráfico com atenção: no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009, o PIB brasileiro despencou. Foi acachapado pela crise internacional, quando as fontes de crédito minguaram e nenhuma economia do mundo se mexia. Até mesmo a China experimentou naquele momento uma desaceleração representativa (para os padrões chineses).
Recentemente, o governo tem até abdicado de um maior controle sobre a inflação para tentar levantar a economia, cria mais e mais pacotes para a indústria voltar a crescer, mas ainda assim assiste impotente a falta de vigor do PIB. O PIB potencial do Brasil (que já foi estimado em 4,5% a 5% há não muito tempo) deve estar perto de 3% a 3,5% atualmente. PIB potencial é quanto um país consegue crescer sem gerar pressão sobre os fatores produtivos (ou seja, sem faltar mão-de-obra, sem inflação descontrolada, etc.
Isso é nível de país desenvolvido. No terceiro trimestre, o Brasil só não foi pior que o Paraguai na América Latina. Mesmo com todos os incentivos. Agora, a pergunta: Por quê?
E aí eu volto a me repetir…
– O governo atrapalha a economia. Muitos tributos, burocracias, normas impraticáveis, desatualizadas e infindáveis, um dos piores ambientes de negócios do mundo (já tentou abrir – ou ainda pior: fechar uma empresa no Brasil? Sem a ajuda de um advogado, é praticamente impossível)…
– Infraestrutura deficiente ou inexistente. Portos defasados, ferrovias escassas, estradas esburacadas e estreitas, banda larga entre as mais lentas do mundo, etc.
– Mão-de-obra qualificada rara e cara. Engenheiros recém-formados recebem mais no Brasil que em países desenvolvidos atualmente. Fora as garantias sociais e impostos. E não entregam metade da produtividade. Isso sem falar dos funcionários públicos, onde a meritocracia não está nem no dicionário: quanto mais ineficiente, melhor.
– Custo Brasil. No Brasil, tudo é mais caro. Para conseguir insumos básicos, paga-se mais que em outros lugares. Fica difícil competir com os produtos estrangeiros…
E assim por diante.
Agora, digam-me: de que ajuda reduzir os juros sobre empréstimos (em uma população já altamente endividada) e conceder reduções pontuais de impostos sobre bens de consumo, se o problema está beeeeem mais em baixo?
Cof cof lobby cof cof.
Mas eu não sei de nada, claro. Nem eu, nem o governo.