Goiânia, 02 de julho de 2013
Chiquita querida,
Contigo continua tudo bacana? Não sei como anda a situação aí na Martinica, mas aqui entre nós está alarmante. Não temos, pra vestir, nem uma casca de banana nanica.

Tó, procês.
Não sei se você se lembra, Chiquita, mas o Borges diz uma coisa linda em O Milagre Secreto: “Não há homem que fora de sua especialidade não seja crédulo”. Você sabe que economia em seus mais diversos campos semânticos nunca foi meu forte. E num vem que ontem, meu patrãozinho me mandou uma matéria acachapante? O Brasil teve sua pior balança comercial em 18 anos [gritos ao fundo, explosões, raios, trovões, pessoas correndo em desespero].
Eu não tenho certeza de que eu saiba o que exatamente significa ter uma balança comercial mais pior de ruim dos últimos 18 anos, mas credulamente eu me ressinto de que seja assim. Primeiro, Chiquita, porque 18 anos é muito tempo. A última vez que aconteceu de haver um tempo dezoito anos atrás eu tinha 09 anos de idade e isso é uma tragédia na vida de qualquer pessoa. Só de lembrar que desde minha tenra e gaiata idade de nove anos o Brasil não estava tão ruim quanto está agora eu me arrepio todo. Tudo bem que aos nove anos eu não tinha lá muita certeza de que o Brasil estivesse uma bosta, mas enfim são dezoito anos não tão ruins que poderiam ter-se mantido.
La Revolution Populaire Bresilienne arrefeceu um tico, o Brasil ganhou a Copa das Confederações [É GOL! GOOOOOOOOOOOLLLL] e todo esse patriotismo embutido nesses eventos coetâneos me fizeram lembrar dos bons tempos… Lembra, Chiquita? Esse Brasil já foi uma beleza, né?
Magina só: ano da graça de mil quinhentos e alguma coisa e lá vem a portuguesada desbravar as terras brasileiras em busca de riquezas nunca dantes exploradas. E a Terra de Santa Cruz se torna a terra do pau-brasil. Como você não deve estar muito familiarizada com o atualmente extinto pau-brasil faço uma recomendação: não pesquise no google o que seja pau-brasil sem estar no safe mode. Repito: não pesquise sem estar no safe mode!
Depois fomos a terra da cana-de-açúcar, terra do ouro, terra do café, terra da borracha e finalmente, Chiquita, chegamos à melhor posição entre as nações: a terra da banana [musa paradisiaca]. Veja só, Chiquita, sempre tivemos um carro chefe nas nossas queridas exportações pra contrabalançar a importação de todos os outros gêneros básicos pra sobrevivência humana fossem manufaturados fossem industrializados. Quando chega a banana, nós começamos com aquelas industriazinhas que todo mudo conhece e fomos crescendo. Aos trancos e barrancos conseguimos diversificar nossa exportação. Tudo bem que ainda jogamos matéria prima pro mundo que nos devolve tudo devidamente processado, selado, carimbado, rotulado e industrializado.
E nos sobrevém esse golpe! Dezoito, Chica, dezoito! Deus sabe o que faz. Embora eu tenha um pouco de receio de deixar tudo nas mãos de Deus. Afinal, dizem que ele é brasileiro. E veja só o que conseguimos: o pau-brasil de tão explorado foi quase extinto; o açúcar, feito mal e porcamente, perdeu espaço pro açúcar de beterraba feito por holandeses nas Antilhas; o ouro quase todo foi parar em Inglaterra por via de Portugal; os barões do café quebraram tão estrambolicamente que queimavam café em praça pública porque era mais lucrativo que vender; a borracha perdeu espaço para o cultivo organizado do sudeste africano. Ficamos nós aqui, olhando os estrangeiros nos comprarem as bananas que ainda vendemos a preço de banana e nos dando uma bela de uma banana em troca.