Nota: os duques de Cambrige foram recentemente visitados pela cegonha. Na tarde de anteontem, o duque e a duquesa de Cambrige tiveram sua grata espera terminada: nasceu-lhes um robusto rebento, alegria dos noviços pais e avós.
Curvem-se [pra pegar o nenem, minha gente]
Não, meus leitores pouco fúteis, este espaço não se tornou uma coluna social nem eu nasci pra Ibrahim Sued. Muito embora essas duas ressalvas permaneçam sempre: sorry, periferia, eu sou monarquista, o patrãozinho pediu e aimeujisús nasceu o filho do príncipe William e da Kate Midleton!
Eu gosto muito do sentimento anti-monárquico geral. Acho simpático, acho fofo, acho lúdico. Muito embora todo mundo goste de um rei do pop, rainha dos baixinhos, rei dos pneus e assim segue… basta haver um casamento real lá no canal da mancha que entra-se em alvoroço. Ainda mais que uma carismática plebeia conquista o coração principesco do herdeiro do trono. Algo tão romanceado que parece até ficção. E não passa muito tempo os testículos reais resolvem emprenhar os ovários recém enobrecidos e lá vem óvulo fecundado e toda aquela biológica mágica que se chama prenhez. Todos se emocionam com a gravidez e a pobre menina rica [bem rica] é perseguida até quase na maternidade. Ocasionando eventuais suicídios e posterior alvoroço no entorno do futuro [hoje recente] parto.
A não ser alguns semi-interessantes seres humanos que acham que desprezar símbolos os liberta da existência de símbolos, esquecendo-se desgraciosamente de que são os símbolos que nos diferenciam do resto dos nossos irmãos cordatos, todo mundo fica num pé só pensando do agora futuro rei da Inglaterra. Essa futuríssima Graciosíssima Majestade, terceiro na linha sucessória e príncipe de sangue é algo que nos ultrapassa como indivíduos. Um ser humano de três dias de nascido e já é um símbolo. E a este símbolo serão acrescidos outros que culminarão com sua coroação, pela graça de deus e vontade dos bretões, como rei da Grã-Bretanha.
Mas qual será o fascínio que nos causam estes símbolos? De onde vêm? De que se alimentam? Para onde vão? Hoje no Globo Repórter. Gostaria de poder responder essas e outras perguntas. Não posso. Eu escreveria aqui todas as teorias de Freud se eu tivesse lido mais Freud. Talvez Totem e Tabu me ajudasse. Não li Totem e Tabu. Mas ainda assim eu fico aqui embasbacado com o poder violento que estes símbolos mesmo que distantes no tempo e no espaço têm sobre nós. Nosso messianismo sebastianista tão enraizado nas crenças populares deve ultrapassar a barreira da cultura estabelecida e fincar pé em todos os corações mundo a fora… ou talvez seja apenas o midiatismo que joga um pobre recém-nascido e sua parturiente progenitora no mundo dos jornais, televisão e internet pelo simples fato de serem objeto de curiosidade.
Não sei se o status de celebridades que Lady Di deu à família de Windsor é a explicação mais franca. Não sei se o poder dos símbolos é a explicação mais franca. Não sei se a curiosidade é a motivação mais provável. Sei que anteontem vi um pequeníssimo comentário no facebook: “Visita do papa e nascimento de um príncipe: voltei pra idade média?”. Não sei te responder, amigo. Mas eu sinceramente gosto da Idade Média. Gosto de como ela lida com os símbolos principalmente porque eu, como já expressei logo acima, acho que a capacidade de criar símbolos é o que nos diferencia dos outros animais. Um retângulo de madeira não é mais que um retângulo de madeira a não ser que seja uma porta. Porta é um símbolo. E se for a porta de uma casa que você conhece é um símbolo sobre um símbolo. A porta da casa em que pela primeira vez você ouviu eu te amo da boca do seu amor é um símbolo sobre um símbolo sobre um símbolo. Assim caminha a humanidade.
Só espero que a real cegonha com toda a pompa e circunstância que lhe é devida tenha entregue o símbolo do símbolo do símbolo do símbolo com muito cuidado para que um dia, quando entronado e regendo sobre todos os bretões, este hoje royal baby não venha a aprender com a Rainha de Copas e não saia por aí gritando a tudo e a todos: “Cortem-lhe a cabeça!”