Nesta quarta-feira, 4 de fevereiro, dois homens homossexuais foram mortos no Terminal de Vila Velha, no Espírito Santo. Jhony Lima e Saulo Ferreira Tavares, de 19 e 24 anos, estavam dentro de um ônibus quando foram esfaqueados por outro passageiro “sem motivo aparente”. Veja a notícia aqui.
Este é apenas mais um caso, de tantos que se acumulam, de vítimas de homofobia no Brasil. O Brasil é campeão mundial em assassinatos por homofobia: em 2013 (estatística mais recente disponível, compilada pelo Grupo Gay da Bahia), foram 312 vítimas fatais – uma a cada 28h.
Vítimas fatais são apenas o sintoma mais grave de uma realidade que afeta a maior parte – se não a totalidade – dos membros da comunidade LGBT nacional. Violência psicológica, discriminação e demais violações possuem estatísticas muito esparsas e imprecisas, mas são corriqueiras em todo o país – em muitos casos, ocorrendo dentro de casa.
O projeto de lei que equipara a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero ao racismo, a PLC 122, segue emperrado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Esta é mais uma demonstração do descaso da atual liderança nacional com os direitos humanos, nomeadamente em relação à população LGBT.
Em 2012, ganhou repercussão a notícia de que o governo barrou a circulação de uma campanha de prevenção do HIV/AIDS focada no público homossexual – um dos mais expostos ao vírus. Isto em sequência à controvérsia do “kit anti-homofobia”, engavetado por pressão de grupos mais conservadores da sociedade, que levaria conhecimento sobre a diversidade sexual às escolas brasileiras.
No âmbito global, especialmente nas sociedades ocidentais, há muitos séculos os homossexuais são perseguidos, desrespeitados, menosprezados. Sugiro o filme “O jogo da imitação”, destaque de indicações para o Oscar 2015 e atualmente nos cinemas.
Infelizmente, ainda é frequente se ouvir: “Não tenho problema com gays, só não quero que se beijem na minha frente”. Ou: “O que as crianças vão pensar se virem dois homens de mão dada na rua?” Se você se sente incomodado por demonstrações de afeto entre iguais, você é homofóbico SIM. Se você diz que seu amigo são-paulino é bambi, ou que “fulano tem que parar de bichice”, você é homofóbico SIM. Se você tem “orgulho de ser macho”, amigo, você além de machista e ignorante… é homofóbico.
Eu confesso. Ao ver um casal gay em um café, ainda sinto uma onda de excitação e euforia, dado que isto é incomum. E eu estou errado. Cada um tem o direito de ser como é sem reações exacerbadas, positivas ou negativas.
A mudança vem de cima: as autoridades precisam dar o exemplo. Tratar o diferente com respeito é o primeiro passo. Assim como no Brasil existe uma dívida histórica com a população afrodescendente, ainda mais enraizado está o preconceito de orientação sexual e identidade de gênero – pois está presente em nossa identidade brasileira antes mesmo dela ser formada.