Não, não está na hora de voltar para o Brasil


Essa semana, ganhou grande repercussão o texto do Márcio Leibovitch no Projeto Draft sobre retornar para o Brasil após viver 11 anos como imigrante/expatriado no Canadá com a sua família.

Se você ainda não o leu, corre lá que eu espero.

Eu gostei muito do texto do Marcio, especialmente porque ele destacou que: 1) cada pessoa tem uma experiência diferente, e o que funciona para ele (ou para mim) pode não ser válido para você; 2) Ele mudou radicalmente de ideia, e está aberto a isso.

Mas não, não está na hora de voltar para o Brasil.

Eu já fui expatriado, repatriado e me tornei expatriado novamente. Passei dois anos morando em Portugal e, como o Márcio destacou, diferenças culturais, a distância e o inverno me levaram de volta para o Brasil. Quando se está longe, as coisas ruins não parecem tão ruins em nossa memória, enquanto as boas… Dá saudade.

No meu caso, também pesou a crise econômica e a expectativa de deslanchar na minha carreira ao voltar para o Brasil.

Pois bem, isso não aconteceu e todos os aspectos negativos da balança pesaram (muito) mais do que eu esperava. Assim, eu decidi me jogar no mundo novamente.

Já morei na Coreia do Sul, EUA, Canadá, Alemanha, Suécia e Noruega neste período e tenho certeza que não quero voltar para o Brasil. Confira nos quatro pontos abaixo o porquê.

1) Custo de vida

O Brasil está entre os lugares mais caros para se viver. São Paulo é a 10a e o Rio a 12a cidades mais caras para se viver, entre 214 analisadas pela Bloomberg. A desvalorização do real no ultimo ano pode ter reduzido o ranking de nossas maiores cidades em comparação internacional, mas os salários não subiram no mesmo ritmo.

Some-se a isso uma das maiores cargas de impostos do mundo e uma deficiência crônica nos serviços públicos (segurança, saúde, educação, etc) e o poder de compra do brasileiro se reduz a… nada.

Vale mais a pena receber 3,000 euros na Espanha ou na Alemanha que 10,000 reais no Brasil – após pagar as principais contas, sobra mais dinheiro por aqui.

2) Qualidade de vida

Que o Brasil é um dos lugares mais perigosos do mundo, todo mundo sabe. Das 50 cidades mais violentas no planeta, 19 ficam no Brasil. É assustador.

Mas além disso, ha muitos outros aspectos que tornam a vida fora do Brasil muito melhor que em nossa pátria. O trânsito. O transporte público ineficiente e desconfortável. O “jeitinho brasileiro”. A cultura de sempre tentar tirar vantagem.

Um exemplo pessoal: na Alemanha, eu não tenho carro – e nem preciso ter. Aqui em Berlim, há pelo menos 3 serviços diferentes de car sharing, em que eu posso pegar um carro disponível perto de mim quando precisar, dirigir e deixá-lo em meu destino, pagando apenas por minuto dirigido. Eu uso o DriveNow, que possui apenas BMWs e Minis – inclusive conversíveis – e pago de 30 a 35 centavos por minuto.

Ainda não comprei minha bicicleta, e também há um sistema de bike sharing que uso com frequência. No Facebook, há um grupo onde as pessoas disponibilizam coisas que não precisam mais, para que outros possam usar – móveis, roupas, até mesmo eletrônicos. Outra coisa: no verão, poucas pessoas trabalham após as 17h – todos vão aos diversos parques da cidade e aproveitam o tempo bom.

3) Valores

Esse tópico poderia estar sob qualidade de vida, mas é tão relevante que merece destaque. Eu descobri que preciso morar em um lugar com valores alinhados aos meus.
Hoje, eu amo a pontualidade e precisão dos alemães. Eles são completamente previsíveis, ate mesmo entediantes para alguns, mas dificilmente eles não cumprem o que combinam. Isso vai desde um barzinho com os amigos (as vezes combinado com três semanas de antecedência) até o consumo de aspargos brancos ou cogumelos chanterelle nas respectivas épocas (acredite, dificilmente você encontrará um restaurante alemão sem as especialidades da época).

Os alemães respeitam muito uns aos outros, e isso é um fator crucial em sua cultura, que me leva ao próximo tópico…

4) Homofobia

Esse tópico pode parecer não se relacionar a todos – mas é crucial para o meu conforto e bem estar. Nas ultimas semanas, uma campanha de dia dos namorados d`O Boticário e um protesto durante a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo levantaram alguns dos discursos mais conservadores e discriminadores no Brasil. Deputados a colegas de trabalho, muitos destilaram homofobia em graus alarmantes por todo o país.

O Brasil vive tempos muito conservadores que, atrelados a violência, o torna um dos lugares para se viver atualmente – comparável a ditaduras macabras na África, pior até que estados islâmicos.

No Brasil, eu não posso beijar meu namorado em público. Sequer posso segurar sua mão. Pais e filhos também não podem. Travestis e transexuais são mortas com frequência. O Brasil lidera os assassinatos por homofobia com sobra, e o governo faz vistas grossas – conivente com o desrespeito e os extremismos, ele teme se posicionar em relação a temas polêmicos.

Na Alemanha, o casamento gay sequer é legalizado (ao contrario do Brasil), mas me sinto muito mais seguro aqui.

O inverno é difícil? É. Quem já passou seis a oito meses com temperaturas baixas e uma escuridão assustadora sabe o quanto isso afeta o nosso psicológico. Mas nada se compara a passar 12 meses se escondendo de si mesmo.

Quanto ao idioma e às diferenças culturais, vai de cada um e de cada lugar – se você está realmente disposto a se integrar, logo você virou um craque. É claro, você não terá assistido aos mesmos desenhos animados ou ido aos mesmos parques de diversão que seus amigos na infância. Mas isso gera mais assunto para conversa!

Quanto à distância, de fato, se você é grudado em sua família e amigos brasileiros, ficará muito difícil morar longe.

É preciso seguir em frente sem medo do futuro, deixando o passado na gaveta de recordações. Faz-se novos amigos. Conhece-se um novo mundo. E se aprende muito.

Márcio, talvez tenha chegado a sua hora de voltar para o Brasil. Eu torço para que você não se arrependa, como tantos que conheço (inclusive eu) se arrependeram. Mas se isso acontecer, não tenha medo de voltar para o mundo!

Quanto a mim… não, não chegou a hora de voltar para o Brasil. E eu sinceramente acho que essa hora nunca vai chegar.

As duas primeiras imagens são minhas. As demais, encontrei nos sites da Knorr e CSD Berlin.

111 pensamentos sobre “Não, não está na hora de voltar para o Brasil

  1. maria de roussan disse:

    Temos um programa de radio em Montréal e gostaríamos de entrevista-lo por telefone.

    • franciskinder disse:

      Ola, Maria! Seria um prazer. Mande-me um email (kinderfrancis@gmail.com) e combinamos os detalhes! Ate mais!

      • andrea disse:

        eu moro ha 23 anos em Israel e apesar de saber de todos os defeitos e qualidades de Israel e do Brasil optei por continuar a viver aqui simplesmente pela minhar religiao judaica oque me facilita muito meu modo de viver. isso nao quer dizer que esse ou aquele pais e melhor ou pior que o outro, nao simplesmente decisoes que adequaram ao meus objetivos, valores, cultura e outros de vida. Concordo com voce sobre a Alemanha… e um povo com uma cultura, disciplina, sistema, respeito, que chega as vezes a perfeicao.. Adora os produtos eletronicos, os carros, a Lufstansa e outras coisas mais da Alemanha. Minha avo veio da Austria que e bem parecida. Mas eu jamais moraria na Alemanha simplesmente pelo fato de nao perdoar e nao conseguir me imaginar vivendo num pais que fez ate pouco tempo atraz, oque fizeram com grande parte com meu povo. Talvez se eu nao fosse judia, poderia ate morar na Alemanha nao porque o Brasil e totalmente uma merda e a Alemanha e completamente otima.

      • eu tenho 15 anos eu não troco o meu País por nada eu amo de verdade O Brasil claro que é apenas bobeira eu estar nesse site pesquisar tudo Do Brasil eu pesquiso tudo Do meu incrível Pais é óbvio eu sempre vou continuar sendo brasileira

    • Lila Kuhlmann disse:

      Voce também poderia entrevistar o Vanconcelos, abaixo. Ele tem MUITO a oferecer, creio eu.

      • vasconcelosbr disse:

        Acho também que seria válido entrevistar alguém que não saiu do país por opção e tem orgulho de onde mora.

        Daria mais imparcialidade ao debate sobre o tema (olha eu me oferecendo pra atrapalhar o show dos outros, eheheh)!

  2. CLAUDIA GUIMARAES disse:

    amei…eu tbem estou fora do BRASIL A 26 ANOS E NAO ME ARREPENDO DE NADA.

  3. Forte disse:

    Sou paulista e desde 2004 fora do Brasil, tentei em 2010, fiquei 1 ano e tive a certeza que nao quero mais voltar!…10 anos fora e nao me arrependo!

  4. vasconcelosbr disse:

    Vou deixar minha contribuição para este excelente debate.

    Li os dois textos na íntegra, tanto o “Está na hora de voltar ao Brasil”, quanto o “Não, não está na hora de voltar ao Brasil”.

    Eu estou no Brasil há 34 anos (desde que nasci, eheheh).

    Neste meio tempo, tive a oportunidade de viajar para conhecer alguns países (Canadá, EUA, Argentina, Republica Tcheca, Alemanha, Itália, França, Inglaterra, Espanha, etc).

    Nunca “morei” em nenhum deste países, mas também nunca fiz “turismo de compras”.

    Sempre acreditei que o mais interessante de cada país é o seu povo, as pessoas, e conheci muita gente por onde passei. Com algumas pessoas criei, inclusive, laços reais de amizade (coisa difícil de conseguir, acreditem).

    Portanto, ainda que pese o curto espaço temporal vivendo em outros países (onde fiquei mais tempo foi no Canadá, por 30 dias) me considero apto a opinar sobre qual o meu sentimento em estar fora do país.

    Mas de maneira resumida, diria que este debate não se resume a descobrir “qual é o melhor para se viver?”.

    Mais do que subjetivo, esta abordagem é carregada do tal “viés de confirmação”.

    São os que moram no exterior ou no Brasil em busca de argumentos que justifiquem e legitimem as suas respectivas escolhas, de morar fora ou morar no Brasil.

    Estas escolhas são, tão somente, definidas pelo propósito de vida de cada um.

    Cada um de nós, com base em suas necessidades e anseios, decide onde e como quer viver.

    Se eu valorizo mais a família, os amigos, o conforto, o clima, o dinheiro, as pessoas…

    Estes valores irão com por minha personalidade, com traços nacionalistas, ufanistas, xenófobos, ou de “cidadão do mundo”.

    E ninguém pode dizer que alguém está errado em função dos seus valores, ou que existe a escolha certa, mesmo que seja apenas pra hoje.

    Não existe escolha certa, existe a escolha que se encaixa melhor com o seu propósito de vida.

    Contudo, não posso me calar diante de algumas premissas que vão além do tal “viés de confirmação”, e distorcem a realidade de coisas mais objetivas, criando um rótulo falso sobre o Brasil.

    1º – CUSTO DE VIDA

    De fato, o custo de vida em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo são absurdos. Mas os dados informados pelo amigo estão desatualizados (são de 2011) e distantes da realidade.

    São Paulo e Rio de Janeiro constam da lista das 133 cidades analisadas: ficaram com a 50ª e a 61ª colocação no ranking.
    http://veja.abril.com.br/noticia/economia/conheca-as-dez-cidades-mais-caras-do-mundo-para-se-viver/

    Além disso, esta é uma análise duplamente míope: pois se a premissa do custo de vida da cidade fosse suficiente para julgar a qualidade de vida em um país, a França (Paris),
    Noruega (Oslo), Suíça (Zurique) e Austrália (Sidney ) seriam bem piores de se viver que São Paulo e Rio de Janeiro, posto que estão no topo das cidades mais caras do mundo.

    Esta premissa, como sabemos não é válida.

    Outrossim, nas cidades mais caras, os salários são maiores. Não são poucos os executivos em São Paulo ou no Rio de Janeiro que possuem uma renda anual acima de 1 milhão de reais.

    Na verdade, qualquer empresário de médio porte possui esta renda anual e convive muito bem com os preços da cidade (assim como isto também acontece nas outras cidades citadas acima).

    Para os trabalhadores assalariados, a vida é mais difícil em qualquer cidade, que naturalmente migram para os subúrbios, onde o custo de vida é menor.

    Ou alguém vai tentar me convencer que, em Paris, os funcionários da McDonalds moram no “7ème arrondissement” (o bairro da Torre Eiffel)?

    Não. Eles moram amontoados em apartamentos minúsculos ao nordeste da cidade (quando não em outras cidades-satélites) junto com os imigrantes, onde os turistas não visitam.

    2 – QUALIDADE DE VIDA

    Violência… Tema realmente relevante! Nada pior que viver em uma cidade violenta, onde a sua integridade encontra-se em risco permanente, sem a devida tutela do Estado.

    Mas vamos às premissas conflitantes: 19 cidades brasileiras estão entre as 50 mais perigosas do mundo… Ok!

    Não vou sequer entrar no mérito de que existem outros 5.561 municípios brasileiros menos violentos para se viver, pois também seria uma premissa tendenciosa.

    Vamos continuar na mesma premissa, de que esta lista reflete a violência do país (e não destas cidades)… Na mesma lista, existem 4 cidades dos Estados Unidos.
    Podemos, portanto, concluir que “Não, não está na hora de ir para os EUA” ?

    Afinal, “todos sabemos” tratar-se de um dos países mais violentos do mundo (afinal, 04 de suas 18.218 cidades estão naquela lista), isto sem falar da intolerância racial e do terrorismo que “assolam” o país?

    Era só o que faltava, né?

    Eu resido em Brasília, moro em uma casa sem muros na frente, meus sobrinhos brincam com meu cachorrinho pela rua até altas horas da noite, e eu vejo senhoras nas suas cadeiras na frente das casas conversando, sem medo do bicho-papão.

    Será que eu não moro no Brasil? Ou o Brasil é imenso, e não dá pra rotular um país inteiro pelos casos isolados de algumas cidades apenas pra justificar minhas decisões de morar em outro lugar?

    Ah! Também temos empresas de compartilhamento de carros aqui no Brasil, mas isto é apenas um mercado a ser explorado, assim como na Alemanha, pois ao contrário de você, os alemães precisam muito de carro, haja vista que são um dos maiores mercados automotivos do mundo (com vendas anuais maiores até que no Brasil).

    3 – VALORES

    Pontualidade realmente não é o nosso forte, mas eu não ampliaria a pontualidade alemã ao conceito de respeito ao próximo, como se pontualidade fosse a única maneira de manifestar respeito pelo próximo.

    Os brasileiros possuem outras formas de manifestar respeito pelo próximo, e uma delas é a amizade e o perdão.

    Os brasileiros prezam muito pelas suas amizades/laços familiares e são imensamente capazes de perdoar. Mas claro, isto também não nos torna com valores superiores aos dos alemães. São apenas formas diferentes de manifestar apreço.

    “O Brasil vive tempos muito conservadores que, atrelados a violência, o torna um dos lugares para se viver atualmente – comparável a ditaduras macabras na África, pior até que estados islâmicos.”

    Amigo, o Brasil é um país de diversas etnias e religiões. Assim como existem neonazistas na Alemanha (e por toda a Europa) aqui no Brasil também existem grupos ideológicos radicais.

    Diferente do que aconteceu no passado da Alemanha, aqui no Brasil nós não mandamos queimar que pensa ou age diferente, e por isso os evangélicos existem e são aceitos, inclusive, no governo brasileiro.

    Eles possuem uma visão radical sobre a homossexualidade e este tema É SIM pauta permanente no governo brasileiro e na mídia.

    Os evangélicos não são maioria e, ao contrário do que você disse sobre a Alemanha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo aqui é permitido sim.

    http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConteudo=238515

    Portanto, acho que “está na hora de você ler mais sobre o seu país”, e talvez visitá-lo mais, pois um país que sedia a maior parada gay do mundo está longe se comparar às “ditaduras macabras da África” ou mesmo aos Estados Islâmicos.

    Amigo, não quero com isto dizer que você está errado em viver em outro país.

    Acho até que seja uma das experiências mais incríveis no desenvolvimento do caráter e da carreira profissional de qualquer pessoa (a vivência da alteridade cultural).

    Se viver e trabalhar longe do seu país coaduna com os seus valores, PARABÉNS! Você não é hipócrita! Vive de acordo com os seus valores e propósito de vida!

    Contudo, avalie se os seus argumentos mais objetivos condizem com a realidade, ou se são apenas premissas distorcidas para justificar internamente suas decisões, que no final das contas contribuem apenas reforçar rótulos equivocados e prejudicar a imagem do nosso país.

    Quem realmente está de bem com suas decisões, não precisa disto.

    Um forte abraço e desculpe se fui indelicado, mas uma das formas do brasileiro mostrar “respeito” pelos demais, é dedicando tempo a produzir textos como este, que possuem embasamento calcado na realidade.

    • Luanda disse:

      Posso aplaudir de pé…. olha vc disse tudo que eu gostaria de uma dia dizer, como diz a frase ” qdo crescer quero ser igual a vc” obrigado por ser patriota, obrigado por existir se o Brasil tivesse mais pessoas como vc tanta coisa.seria diferente… Orgulhosa demais de ler issk

    • Luciana Badra disse:

      Moro atualmente em Toronto e sou obrigada a concordar integralmente com você. Excelente texto, imbatível quanto às informações fidedignas e embasadas. Não aguento esse “acho que” dos argumentos infundados, da falta de sensatez e de patriotismo. Brasileiros acham mais fácil sair do seu país do que lutar por ele. É o jeitinho brasileiro de ser como avestruz e enfiar a cabeça na areia. Moro em Toronto e estou SIM voltando para monha pátria, minha casa. Bem sucedida aqui, bem sucedida no Brasil. Mas, de verdade, there’s no place like home!

      • vasconcelosbr disse:

        Belíssimo, Luciana! Acredito muito que sua experiência no Canadá (amo demais este país) pode contribuir para um Brasil melhor!

        Penso em abrir uma empresa nos EUA ano que vem, um comércio simples, apenas para pegar experiência aos poucos com as boas práticas de comércio que os americanos possuem.

        Mas não quero fazer isto apenas para “ganhar mais do que ganharia no Brasil fazendo a mesma coisa”, e sim para trazer boas práticas comerciais aois meus negócios que já tenho no Brasil.

        Não tenho aversão aos estrangeiros, menos ainda às outras nações.

        Mas se existe um país que precisa e merece o meu empenho e o meu muito obrigado, é o meu Brasil.

      • Lila Kuhlmann disse:

        Luciana, volta sim, e tenta fazer a sua parte. Estamos engatinhando no sentido da cidadania, mas esse processo já começou. As pessoas já estão levantando a voz e vamos aprender a reivindicar. Mas, também, temos todos uma responsabilidade social. Vc vai aprender muita coisa bacana por aí e poderá fazer a diferença aqui.
        Entretanto, se mudar de ideia (isso pode acontecer), tenta colaborar de longe. O nosso país precisa de gente que o ama para começar a mudar.
        beijos e sucesso

    • Cecilia C Leite de Barros disse:

      Gostei muito do seu texto! O Brasil tem muitos problemas, como aliás todos os outros países, as experiências pessoas variam muito e por sua subjetividade não é correto fazer análises tão definitivas.
      Só gostaria de acrescentar que compete ao povo, em grupo e individualmente, tentar e mudar as coisas que não estão bem no país. Será que a Alemanha, por exemplo, era um lugar tão agradável de viver a 100 anos atrás? Precisamos discutir as questões de homofobia, direitos individuais, religiosos e respeito ao povo naquela época? A maioria dos alemães não fugiram do país, ficaram e mudaram a duras penas aquela realidade.
      O Brasil está caótico, mas se vc nasceu aqui esse é o lugar onde vc é um cidadão de verdade, vamos parar de detonar o país e começar a nos mexer para transformá-lo em um lugar melhor, pois o potencial do país e grande, o povo é que tem que se provar.

      • vasconcelosbr disse:

        Exato, Cecília!

        Outro dia postei um texto sobre a “síndrome de vira-latas” do brasileiro.

        Não aguento ver estes reducionismos que, com base na experiência (de fato) negativa de algumas cidades, atribuem a um país continental o rótulo de violento, intolerante, desorganizado, respeitoso, eficiente…

        Seria o mesmo que rotular o Canadá pelos 30 dias que passei por lá, onde conheci 15 pessoas e visitei 11 cidades. Um país maior que o próprio Brasil!

        Se cada pessoa é um universo infinito de possibilidades, imaginem como diversas podem ser as vivências e as experiências em um país inteiro, com 200 milhões de pessoas/universos?

        Da mesma forma que não me vejo no direito (nem preciso) julgar uma pessoa como boa ou má (este dualismo é ridículo), também não faço isto com países ou cidades.

        Menos ainda com o país que me pariu.

      • ou seja eu sempre vou amar continuar sendo cidadã brasileira eu não gostaria de trocar o meu País claro que eu amo de verdade o meu País alegre

    • Anne disse:

      Parabéns! Ótima réplica. Só passei para dizer que depois de 15 anos na Alemanha, voltei pro Brasil sim, e não me arrependi. Já fazem mais de dois anos. Rendimento semelhante, qualidade de vida muito superior. É uma decisão individual, e depende de inúmeros fatores. É bacana ser viajante, pular de lugar em lugar. Mas chega uma hora em que você tem que se decidir aonde quer ter um ninho, um lar, aonde consegue se imaginar vivendo por muito, mas muito tempo mesmo. E para isso, precisa ter raízes boas nesse lugar, e pessoas que você ama.

      • vasconcelosbr disse:

        Sim, Anne! É muito subjetivo o conceito de “casa”.

        Eu acho que viver em outro país sem ter planos de voltar ao Brasil para mim não serve, pois meus propósitos de vida não coadunam com esta postura diante do meu país e meu povo.

        Mas isto não significa que tem que ser o propósito de vida de ninguém, além do meu.

        Acho que se você quer morar em outro país pro resto da sua vida, e ainda chamar este novo país de “meu”, é um direito de qualquer pessoa, e eu não tenho o direito de julgar como certo ou errado. É a escolha de cada um.

        O que venho combatendo na internet, no meu trabalho, e no dia a dia, são as pessoas que não se contentam em deixar o seu país para traz, mas ainda se dedicam a distorcer sua imagem diante dos demais brasileiros e estrangeiros, como se fosse uma forma buscar mais e mais pessoas que fortaleçam a minha visão negativa do país, acalmando meu coração e a minha mente diante das dúvidas quanto às minhas decisões quanto à escolha de onde viver a minha vida.

    • Lila Kuhlmann disse:

      Caro Vasconcelos, Você me representa.

      Vivi em Toronto por quase 3 anos. O Canadá é um dos países mais sensacionais para se morar no mundo. Costumo dizer que seu lema deve ser solidariedade e inclusão. E o povo é gentil, amigável e tolerante. Lá, TUDO funciona.

      Ao final da expatriação, recebemos uma proposta de permanência no país e a resposta foi NÃO. Voltei há um ano e meio. Sou carioca, mas vivo na cidade que mais amo no mundo: São Paulo.

      Felicidade é algo relativo, pois diz respeito não somente ao modo como você encara a sua vida, mas também aos seus valores mais íntimos. Não é algo mensurável e nem comparável. Quando estamos no caminho do bem, é ela que, intimamente, nos norteia. Ela me trouxe de volta.

      Voltar a falar a minha língua no dia-a-dia, a qual tanto admiro, e estar junto à minha família é sensacional. Voltar a ser íntima das pessoas, a falar sem tantos “filtros” e poder ser expansiva e gargalhar alto novamente é, simplesmente, libertador. Esses são alguns dos meus valores e também os da minha filha, que terminou o ensino médio lá, e PEDIU para voltar. Se meus filhos quiserem viver fora algum dia, o mundo é deles. Meu lugar é aqui.

      Tomar uma decisão contrária ao desejo de quase todas as pessoas que conheço não foi fácil. Eu tinha consciência de que voltaríamos a estar sujeitos às mesmas violência e corrupção as quais inspiram a todos quererem sair do Brasil. Mas também estava ciente de que, no Brasil, somos capazes de fazer mais diferença do que no Canadá. Penso que com o conhecimento dos mecanismos sociais e dos métodos de ensino que vivenciei, posso colaborar de alguma maneira para ajudar a mudar o rumo da vida de algumas crianças.

      E sim, você tem razão, toda pessoa deveria passar uma temporada fora e depois voltar para poder contribuir. Minha filha passou para a USP e já esta trabalhando como voluntária em projetos sociais. Ela adquiriu a consciência de que todos temos a nossa responsabilidade social. Não adianta reclamar do governo. Temos que fazer a nossa parte, também, pelo menos um pouquinho.

      No Canadá, as coisas funcionam porque, o que o governo não dá conta, o povo dá. Eles trabalham com doações e voluntariado. Quase todo adulto que não trabalha é voluntário em algo, uma horinha por semana, que seja. Nas escolas públicas, nos centros comunitários, nos newcomers centers, em todo canto. Solidariedade não para em dar esmola. Solidariedade é doar tempo também. E ter uma preocupação genuína com o próximo.

      No Canadá, aprendi que que devemos cuidar das nossas crianças e jovens – de todos eles. Se quisermos saber como será o futuro do nosso país, observemos como cuidamos deles.

      Eu voltei porque amo o Brasil e o brasileiro exatamente pelos motivos que você descreveu. Não voltei à despeito das mazelas. Voltei para encará-las. Não critico quem vai em busca de seus sonhos lá fora, mas não gosto que distorçam a nossa realidade apenas para justificar um movimento.

      Nem todo mundo pensa apenas no próprio umbigo 🙂

      Adorei seu texto. Obrigada!
      lila

      • vasconcelosbr disse:

        Lila!

        Sua opinião também me representa!

        Li, por sinal, uma citação poderosa que diz o seguinte:

        “O que nós ouvimos todos os dias são opiniões, e não fatos.
        E tudo aquilo que vemos são perspectivas, e não a verdade.”

        Embora tenha ficado pouco tempo no Canadá (apenas 30 dias), eu busquei observar bastante a cultura e as pessoas.

        Se eu quiser defendê-lo como um país maravilhoso, posso fazê-lo ao citar que as escolas públicas são organizadas e eficientes, que os índices de violência são, em média, infinitamente menores que os do Brasil, ou mesmo dizer que a infraestrutura das cidades para combater o frio são mais eficientes do que todas as cidades do sul brasileiro.

        Poderia defendê-lo também pela cortesia e simplicidade das pessoas que, sobretudo no inverno, ajudam ainda mais umas as outras para superar as adversidades da natureza.

        Mas se eu quiser critica-lo, posso dizer que o Canadá é um país econômica e militarmente dependente e submisso aos EUA, politicamente não usufrui de soberania nem mesmo diante da Inglaterra (a Rainha da Inglaterra é chefe de Estado do Canadá), que mesmo com a melhor infraestrutura de combate ao frio, o país não é capaz de impedir que os dias fiquem curtos, ou que as pessoas morram ou migrem, na sua imensa maioria, para a fronteira com os Estados Unidos (ao sul).

        Posso criticar também a falta de identidade cultural dos canadenses, que não conseguem dizer como é um típico cidadão de lá, qual o prato típico (poutine não vale, né?) ou o que sobra da cultura canadense se retirarem as manifestações culturais típicas dos EUA, Inglaterra e França.

        Por fim, poderia criticar também os movimentos separatistas em Quebec que há anos tenta separá-lo do resto do Canadá, ou a resistência que muitos possuem em se integrar (em vários aspectos) ao resto do país (Je me souviens…).

        Mas isto não é a verdade, é uma perspectiva, um olhar, o MEU olhar.

        Tem pessoas que:

        Se adaptam melhor ao frio que ao calor
        Que preferem as influências inglesas e francesas às africanas e portuguesas
        Que preferem viver em um país mais influenciado economicamente pelos EUA do que pela China
        Que acham que nem toda cultura, apenas por ser intrínseca, original ou singular, necessariamente seja diga de se orgulhar.

        Ou seja, a busca da verdade absoluta é infinita e ineficaz.

        Talvez funcione para a física e para a matemática, mas para a economia, sociologia, psicologia, política ou antropologia… Não dá.

        Um beijão!

        • Lila Kuhlmann disse:

          Vasconcelos,

          É interessante, pelo que eu entendi, o que eu vi de positivo, vc vê como negativo: o multiculturalismo e a falta de identidade devido a essa colcha de retalhos cultural.

          A construção do Canadá, por força histórica, o fez naturalmente inclusivo e solidário. A Coroa Inglesa foi esperta: aprendeu com os erros que cometeu com os EUA e aceito a diversidade, permitiu que as minorias mantivessem suas próprias culturas e, com isso, evitou uma rebelião. Como compensação, a rainha da Inglaterra é a chefe de Estado Canadense. Não é ela quem governa. Quem governa é o povo através de seus representantes legalmente constituídos. A Elizabeth só posa de rainha e é muito amada, talvez, justamente por a Inglaterra ter respeitado essa nova nação.

          O Canadá é um país relativamente novo. Seu último território, Nunavut, só entrou no mapa em 1999, se não me engano. O hino nacional é de 1980. O mais impressionante é que, apesar de jovem ( e, obviamente, pelo modo como foi formado), sua população tem uma noção de cidadania apurada. O Canadá começou certo.

          Eu me senti muito grata quando cheguei lá e não me senti discriminada por ninguém. Fui bem recebida por brasileiros e não brasileiros. Mas o que me surpreendeu foi ser muito bem recebida por canadenses. Vejo nessa falta de identidade algo muito grande, que se chama aceitação e solidariedade.

          Acho o Brasil fantástico porque também temos essa salada – e bem parecida, por sinal. Mas por conta de nossa história, não aprendemos cidadania. Vi em junho de 2013 um vislumbre dela. Acredito mesmo que “o gigante” tenha acordado, mas ainda não sabe como agir, como reivindicar e, principalmente, como participar. É um aprendizado lento. Não é o governo que muda o país, é o povo quem faz isso. Os governantes vêm do povo!

          Desculpe insistir nisso, mas, temos que lutar pelas nossas crianças, para que elas sejam bons governantes amanhã, para que possamos ter esperança de deixar para os nossos netos um país em um bom caminho.

          Espero que você continue lutando pelo nosso país com essa paixão. E espero que as pessoas que vivem fora não se esqueçam de contribuir, ainda que intelectualmente, conosco. Precisamos de gente com experiências diferentes, gente inteligente, gente que seja capaz de acreditar que precisamos direcionar toda essa colcha de retalhos, que e o Brasil, para que possamos diminuir a desigualdade social.

          Saudações.

      • vasconcelosbr disse:

        Lila,

        O Canadá realmente é bem mais jovem que o Brasil.

        Até eu sou mais velho que a primeira Constituição Canadense realmente independente: o “Canada Act”, que de fato desvinculou o Canadá dos domínios do Reino Unido!

        Mas ainda assim, o Canadá continuou com “deveres reais” para com o Reino Unido, que são cumpridos pelo governador geral (o qual não é eleito pelo povo).

        Particularmente, acho que quem se incomoda muito com esta “falta de identidade própria” são os próprios canadenses, que vivem em busca desta tal “identidade típica do canadense”.

        Cansei de ver reportagens onde eles faziam enquetes e mais enquetes para tentar descobrir o que era “tipico” do canadense.

        Outro dia, vi uma descrição num jornal de lá que dizia: “O Canadense é alguém que consegue fazer amor numa canoa”.

        Mas espero que me entenda, não estou dizendo que isto seja uma coisa ruim, mas que quem quer criticar e prejudicar a imagem do país, pode usar isto como desculpa, o separatismo como desculpa, o frio como desculpa…

        Assim como o fazem em relação ao Brasil.

        Amo demais o Canadá e concordo que eles possuem um projeto de sociedade que deveríamos adaptar, em alguns pontos, ao nosso país.

        Um forte abraço e tudo de bom!

    • andrea disse:

      concordo plenamente com voce…. eu vivo em Israel ha 23 anos e apesar de saber de todos os defeitos e qualidades de Israel e do Brasil, optei e continuo morando aqui e so devido a minha religiao que me facilita morar nele. Israel tem coisas maravilhosas pra oferecer aos cidadoes…. mais e um dos paises mais caros do mundo apesar de ter um salario alto, o impostos de rendas e tambem altissimo, o custo de moradia e quase impossivel…. a maioria das pessoas vivem no negativo, apertadas ate o pescocos e nao conseguem nem comecar o mes com o salario.
      Concordo a opcao de viver num pais de nascimento ou imigracao e uma escolha pessoal de acordo com os seus objetivos de vida e nao quer dizer que um pais e melhor do o outro e o Brasil e uma completa merda. e ficar comparando com o Brasil me parece so uma desculpa e uma forma de justificar a si mesmo a causa de sua infelicidade de estar morando fora do Brasil, uma forma de amenizar a dor que voce sente de estar morando fora.

      • vasconcelosbr disse:

        Sim, Andrea!

        Para mim, sair do Brasil e ficar falando mal, enfatizando apenas as coisas ruins e minimizando as coisas boas, é coisa de gente mal resolvida.

        É cuspir no prato que comeu.

    • Daniel disse:

      Achei ótimo seu texto, só uma coisa talvez no passado mais recente sim não agimos como a Alemanha, mas no Brasil durante muitos séculos queimamos e mandamos queimar quem pensava ou agia ou tinha a cor da pele diferente!

      “passado da Alemanha, aqui no Brasil nós não mandamos queimar que pensa ou age diferente”

    • Perfeito sua resposta, estou de acôrdo com voce, também conheço 25 países , vivo uma vida tranquila no Brasil, amo meu País, não o trocaria por lugar nenhum no mundo…. Ficom muito triste quando vejo pessoas falando mal de onde nasceu, ainda sem conhecimento de causa . PARABÉNS !!!!

    • seandelange disse:

      Meu comentário vem um pouco tarde, mas porque este thema permanecerá atual por muito tempo eu tenho a dizer que: os deslumbrados por morar fora do Brasil – eu tambem ja fui uma – nunca contam que você pode morar 30 anos, ou mais, num país estrangeiro, falar o idioma, ter filhos e casar lá, mas sempre será um estrangeiro. Essa é uma das razões da minha indignacao…tbm. E com a crise economica na Europa, tudo piorou. Ao contrario, no Brasil, todos são bem vindos, temos ai orientais que mal falam nosso idioma e são igualmente respeitados apesar disso, não existe represalias contra os imigrantes no Brasil, enquanto aqui você é eliminado de uma entrevista de emprego por causa do seu sobrenome, desconsiderando totalmente a sua historia de vida no país. As pessoas até sao pontuais – eu conheço um monte que não é! -, mas também são invejosas e separatistas, ainda que afirmem nao serem racistas!. Bom, eu vivo na europa faz 14 anos e acho que chegou, sim, a minha hora de voltar ao meu país e vc Vasconcelosbr com esse texto riquíssimo me ajudou a enxergar de vez todo o contexto do viver ou não no Brasil.”Matou a pau”!

    • yralmeida disse:

      não merece PALMAS. Merece o Tocantins inteiro!
      Moro no momento em toronto. Mal posso esperar a hora de voltar pra casa.

    • mauricio leonne disse:

      NÃO ADIANTA SERMOS PATRIOTAS, SE QUEM NOS ROUBA NÃO É! O PAÍS ESTÁ NA MÃO DE QUEM O GOVERNA, E ACREDITE: ELES SÓ VEEM OS SEUS INTERESSES! A GOELA DELES É ENORME PARA NOS ROUBAR!! O NOSSO
      PAÍS NÃO É UMA MARAVILHA, E NEM ESTÁ PERTO DISSO!!!

    • SILVANA SILVA disse:

      Parabéns amigo… disse tudo que penso…Obrigada pelas palavras!!!

    • Thais disse:

      Que texto incrível! Continua atual, mesmo agora em 2018. Moro na Polônia há três anos, mas tenho me debatido internamente com a vontade de voltar para o Brasil por diversas razões e é gratificante ler seu texto dentre tantos que se dedicam a falar mal do Brasil. Problemas existem sim, mas que país não tem problemas? Obrigada mesmo peo texto!

  5. vasconcelosbr disse:

    Vou deixar minha contribuição para este excelente debate.

    Li os dois textos na íntegra, tanto o “Está na hora de voltar ao Brasil”, quanto o “Não, não está na hora de voltar ao Brasil”.

    Eu estou no Brasil há 34 anos (desde que nasci, eheheh).

    Neste meio tempo, tive a oportunidade de viajar para conhecer alguns países (Canadá, EUA, Argentina, Republica Tcheca, Alemanha, Itália, França, Inglaterra, Espanha, etc).

    Nunca “morei” em nenhum deste países, mas também nunca fiz “turismo de compras”.

    Sempre acreditei que o mais interessante de cada país é o seu povo, as pessoas, e conheci muita gente por onde passei. Com algumas pessoas criei, inclusive, laços reais de amizade (coisa difícil de conseguir, acreditem).

    Portanto, ainda que pese o curto espaço temporal vivendo em outros países (onde fiquei mais tempo foi no Canadá, por 30 dias) me considero apto a opinar sobre qual o meu sentimento em estar fora do país.

    Mas de maneira resumida, diria que este debate não se resume a descobrir “qual é o melhor para se viver?”.

    Mais do que subjetivo, esta abordagem é carregada do tal “viés de confirmação”.

    São os que moram no exterior ou no Brasil em busca de argumentos que justifiquem e legitimem as suas respectivas escolhas, de morar fora ou morar no Brasil.

    Estas escolhas são, tão somente, definidas pelo propósito de vida de cada um.

    Cada um de nós, com base em suas necessidades e anseios, decide onde e como quer viver.

    Se eu valorizo mais a família, os amigos, o conforto, o clima, o dinheiro, as pessoas…

    Estes valores irão com por minha personalidade, com traços nacionalistas, ufanistas, xenófobos, ou de “cidadão do mundo”.

    E ninguém pode dizer que alguém está errado em função dos seus valores, ou que existe a escolha certa, mesmo que seja apenas pra hoje.

    Não existe escolha certa, existe a escolha que se encaixa melhor com o seu propósito de vida.

    Contudo, não posso me calar diante de algumas premissas que vão além do tal “viés de confirmação”, e distorcem a realidade de coisas mais objetivas, criando um rótulo falso sobre o Brasil.

    1º – CUSTO DE VIDA

    De fato, o custo de vida em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo são absurdos. Mas os dados informados pelo amigo estão desatualizados (são de 2011) e distantes da realidade.

    São Paulo e Rio de Janeiro constam da lista das 133 cidades analisadas: ficaram com a 50ª e a 61ª colocação no ranking.
    http://veja.abril.com.br/noticia/economia/conheca-as-dez-cidades-mais-caras-do-mundo-para-se-viver/

    Além disso, esta é uma análise duplamente míope: pois se a premissa do custo de vida da cidade fosse suficiente para julgar a qualidade de vida em um país, a França (Paris),
    Noruega (Oslo), Suíça (Zurique) e Austrália (Sidney ) seriam bem piores de se viver que São Paulo e Rio de Janeiro, posto que estão no topo das cidades mais caras do mundo.

    Esta premissa, como sabemos não é válida.

    Outrossim, nas cidades mais caras, os salários são maiores. Não são poucos os executivos em São Paulo ou no Rio de Janeiro que possuem uma renda anual acima de 1 milhão de reais.

    Na verdade, qualquer empresário de médio porte possui esta renda anual e convive muito bem com os preços da cidade (assim como isto também acontece nas outras cidades citadas acima).

    Para os trabalhadores assalariados, a vida é mais difícil em qualquer cidade, que naturalmente migram para os subúrbios, onde o custo de vida é menor.

    Ou alguém vai tentar me convencer que, em Paris, os funcionários da McDonalds moram no “7ème arrondissement” (o bairro da Torre Eiffel)?

    Não. Eles moram amontoados em apartamentos minúsculos ao nordeste da cidade (quando não em outras cidades-satélites) junto com os imigrantes, onde os turistas não visitam.

    2 – QUALIDADE DE VIDA

    Violência… Tema realmente relevante! Nada pior que viver em uma cidade violenta, onde a sua integridade encontra-se em risco permanente, sem a devida tutela do Estado.

    Mas vamos às premissas conflitantes: 19 cidades brasileiras estão entre as 50 mais perigosas do mundo… Ok!

    Não vou sequer entrar no mérito de que existem outros 5.561 municípios brasileiros menos violentos para se viver, pois também seria uma premissa tendenciosa.

    Vamos continuar na mesma premissa, de que esta lista reflete a violência do país (e não destas cidades)… Na mesma lista, existem 4 cidades dos Estados Unidos.
    Podemos, portanto, concluir que “Não, não está na hora de ir para os EUA” ?

    Afinal, “todos sabemos” tratar-se de um dos países mais violentos do mundo (afinal, 04 de suas 18.218 cidades estão naquela lista), isto sem falar da intolerância racial e do terrorismo que “assolam” o país?

    Era só o que faltava, né?

    Eu resido em Brasília, moro em uma casa sem muros na frente, meus sobrinhos brincam com meu cachorrinho pela rua até altas horas da noite, e eu vejo senhoras nas suas cadeiras na frente das casas conversando, sem medo do bicho-papão.

    Será que eu não moro no Brasil? Ou o Brasil é imenso, e não dá pra rotular um país inteiro pelos casos isolados de algumas cidades apenas pra justificar minhas decisões de morar em outro lugar?

    Ah! Também temos empresas de compartilhamento de carros aqui no Brasil, mas isto é apenas um mercado a ser explorado, assim como na Alemanha, pois ao contrário de você, os alemães precisam muito de carro, haja vista que são um dos maiores mercados automotivos do mundo (com vendas anuais maiores até que no Brasil).

    3 – VALORES

    Pontualidade realmente não é o nosso forte, mas eu não ampliaria a pontualidade alemã ao conceito de respeito ao próximo, como se pontualidade fosse a única maneira de manifestar respeito pelo próximo.

    Os brasileiros possuem outras formas de manifestar respeito pelo próximo, e uma delas é a amizade e o perdão.

    Os brasileiros prezam muito pelas suas amizades/laços familiares e são imensamente capazes de perdoar. Mas claro, isto também não nos torna com valores superiores aos dos alemães. São apenas formas diferentes de manifestar apreço.

    “O Brasil vive tempos muito conservadores que, atrelados a violência, o torna um dos lugares para se viver atualmente – comparável a ditaduras macabras na África, pior até que estados islâmicos.”

    Amigo, o Brasil é um país de diversas etnias e religiões. Assim como existem neonazistas na Alemanha (e por toda a Europa) aqui no Brasil também existem grupos ideológicos radicais.

    Diferente do que aconteceu no passado da Alemanha, aqui no Brasil nós não mandamos queimar que pensa ou age diferente, e por isso os evangélicos existem e são aceitos, inclusive, no governo brasileiro.

    Eles possuem uma visão radical sobre a homossexualidade e este tema É SIM pauta permanente no governo brasileiro e na mídia.

    Os evangélicos não são maioria e, ao contrário do que você disse sobre a Alemanha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo aqui é permitido sim.

    http://www2.stf.jus.br/portalStfInternacional/cms/destaquesNewsletter.php?sigla=newsletterPortalInternacionalDestaques&idConteudo=238515

    Portanto, acho que “está na hora de você ler mais sobre o seu país”, e talvez visitá-lo mais, pois um país que sedia a maior parada gay do mundo está longe se comparar às “ditaduras macabras da África” ou mesmo aos Estados Islâmicos.

    Amigo, não quero com isto dizer que você está errado em viver em outro país.

    Acho até que seja uma das experiências mais incríveis no desenvolvimento do caráter e da carreira profissional de qualquer pessoa (a vivência da alteridade cultural).

    Se viver e trabalhar longe do seu país coaduna com os seus valores, PARABÉNS! Você não é hipócrita! Vive de acordo com os seus valores e propósito de vida!

    Contudo, avalie se os seus argumentos mais objetivos condizem com a realidade, ou se são apenas premissas distorcidas para justificar internamente suas decisões, que no final das contas contribuem apenas reforçar rótulos equivocados e prejudicar a imagem do nosso país.

    Quem realmente está de bem com suas decisões, não precisa disto.

    Um forte abraço e desculpe se fui indelicado, mas uma das formas do brasileiro mostrar respeito pelos demais, é dedicando tempo a produzir textos como este, que possuem embasamento calcado na realidade.

    • franciskinder disse:

      Vasconcelosbr, obrigado por enriquecer a discussão.
      Como o Henrique comentou depois, tanto a decisão de sair quanto a de voltar ao Brasil é difícil.
      Outro ponto que nós dois concordamos em cheio: o que vale para mim, não necessariamente vale para você. E tudo tem a ver com o momento da escolha: se eu já tivesse uma família formada (independente de onde), as prioridades seriam outras, por exemplo.

      Acho que alguns dos meus argumentos não ficaram muito claros, e eu só queria esclarecer algumas escolhas que fiz ao escrever o artigo.

      Eu notei que, na comparação internacional o ranking de SP e RJ caiu entre as cidades mais caras para se viver – e por isso complementei com a questão salarial (o real desvalorizou e por isso essas cidades caíram no ranking, e não por queda nos preços…). Um milionário pode ter um excelente padrão de vida em qualquer lugar, como você bem pontuou, e cidades caríssimas são consideradas algumas das melhores para se viver. Tudo depende de quanto se ganha. Eu penso pela minha posição atual de carreira: quanto eu ganharia em SP ou no Rio, comparado com aqui? O que eu consigo comprar com isso? E a resposta é: na minha carreira, neste momento, eu ganho (em termos práticos) mais do que ganharia no Brasil.

      Ponto 2, violência. Nesse, eu sequer precisava usar estatística. A violência no Brasil (e na maior parte dos países latino-americanos) é alta. Mais que um problema social, é um problema cultural. Países asiáticos muito mais pobres têm índices de violência muito inferiores, por exemplo. Quanto aos EUA… eu não moro lá. E sim, os EUA são violentos. Fico super feliz que você consegue viver sem medo da violência em uma grande cidade brasileira: eu só experimentei isso no Brasil quando morei em Capitão Leônidas Marques (sim, essa cidade existe!).

      A maior parte dos alemães não precisa de carro, eles AMAM carro. Faz parte da cultura deles. Mas precisar… eles não precisam (especialmente em termos comparativos com um brasileiro ou mesmo um americano que não more em NYC).

      No ponto 3, eu não levei da parte ao todo, mas o contrário. O respeito se vê no dia a dia em todas as ações dos alemães. Você não vê cocô de cachorro na rua. Todos pagam o transporte público – e quase não há controle (sem catracas, poucos fiscais). Se você está na fila, ninguém tenta passar a sua frente. E assim por diante.

      Eu concordo que a maior parte dos brasileiros é muito solícita: em poucos lugares do mundo se vê isso. O brasileiro é cortês por natureza. Mas isso não é suficiente (para mim). O jeitinho brasileiro é terrível.

      Minha passagem relativa ao casamento parece não ter ficado clara: aqui NÃO pode, aí pode. Na Alemanha, desde 2001, a união civil entre homossexuais é reconhecida. Na prática, é a mesma coisa. Na teoria, não – por enquanto. O Bundesrat passou uma resolução pelo casamento igualitário HOJE. http://www.thenewcivilrightsmovement.com/uncucumbered/germany_s_bundesrat_passes_marriage_for_everyone_resolution?recruiter_id=17

      No fim, vale a lista de prioridades de cada um. Essas são as minhas – e eu apenas quis enriquecer o debate com isso. Você não foi indelicado não, pelo contrário. Fiquei lisonjeado com o seu comentário – inclusive, ajudou a solidificar meus argumentos.

      Um ótimo fim de semana, e muito sucesso!
      Abraços.

      • vasconcelosbr disse:

        Prezado,

        Obrigado pela paciência, maturidade e gentileza de conversar com alguém que não concorda, em certos aspectos, com você.

        Eu realmente agradeço.

        Vamos ao debate:

        Ponto 01: Sobre “qualidade” de vida.
        Não sei no que você trabalha, e realmente, não importa muito neste debate. Se você conseguiu fazer o seu caminho profissional de maneira mais promissora na Alemanha, PARABÉNS!

        Eu admiro demais você (e alguns amigos meus) que possuem tamanha determinação de mudar para um país completamente diferente do nosso em busca dos seus sonhos e realizações!

        Você está ganhando aí mais do que ganharia aqui? Ótimo! Parabéns mais uma vez!

        Espero que não apenas ganhe bem, mas te desejo, sinceramente, que sejas mais que um empregado bem remunerado, mas que alcances aí na Alemanha a felicidade plena que, no meu conceito, vai além do que podemos comprar ou vender por ano.

        Mas, em resumo, segue meu comentário no post anterior:

        “O que venho combatendo na internet, no meu trabalho, e no dia a dia, são as pessoas que não se contentam em deixar o seu país para traz, mas ainda se dedicam a distorcer sua imagem diante dos demais brasileiros e estrangeiros, como se fosse uma forma buscar mais e mais pessoas que fortaleçam a minha visão negativa do país, acalmando meu coração e a minha mente diante das dúvidas quanto às minhas decisões quanto à escolha de onde viver a minha vida.”

        Ponto 2 – Violência

        Nasci no Recife e mudei para Brasília aos 22 anos.

        Nunca fui roubado ou sofri qualquer violência nas ruas do Brasil.

        A primeira (e única) vez que fui assaltado foi aos 27 anos, em Madri.

        Levaram meus documentos, passaporte, dinheiro, cartões e ainda por cima a delegacia de lá não queria fazer o boletim de ocorrência pq eu não tinha como provar que eu era eu. Quase fiquei preso no país pq acharam que eu era imigrante ilegal e fui humilhado de maneira que somente outro post daria para contar.

        Isto não significa que Recife e Brasília são cidades seguras, e menos ainda que Madri seja a mais violenta do mundo.

        São apenas minhas experiências pessoais, que não definem um país.

        Se quiser mudar sua opinião sobre a Alemanha, entre para os inúmeros grupos neonazistas ou gangues espalhadas pelo país e verás sua expectativa de vida diminuir consideravelmente.

        Conheci vários alemães (de Berlim e de Hannover) que quando descobriam que eu era brasileiro me confessavam estar loucos para deixar o país e mudar para o Brasil.

        Mas isto também é MINHA experiência pessoal, assim como a sua de viver em Berlim e achar que todas as cidades da Alemanha possuem o excelente transporte público daí e ainda achar que os alemães compram carro por hobby, e não pq precisam.

        ponto 3 – jeitinho brasileiro

        Vejo isto como uma extensão do “jeitinho brasileiro”:

        “Se o meu país não é como desejo, tem algum jeito de, tipo, comprar uma passagem de R$ 1.500,00 só de ida pra um lugar que já seja como eu quero? É que para melhorar o país levaria anos e anos lutando para transformá-lo, e comprando esta passagem minha vida mudaria em apenas alguns dias!”

        Quer viver aí, ótimo! Acho que o Brasil precisa é de brasileiros de verdade, de corpo e alma, que não apenas desejam um país melhor, mas possuem coragem para transformá-lo.

        E sobre o casamento gay… Eu entendi sim que você havia dito que na Alemanha o casamento gay não é reconhecido.

        É que eu pensei que você havia dito que o Brasil era um país conservador “(…) comparável a ditaduras macabras na África, pior até que estados islâmicos.”

        Daí te mostrei que, sobre o casamento gay, além da maior parada gay do mundo, inclusive as leis são mais avançadas que na Alemanha.

        Engano meu.

        Mas pra finalizar, apenas te digo: não sou gay e não sei como é sofrer preconceito desta magnitude aqui no Brasil.

        Talvez, se eu fosse gay saberia.
        Talvez, se eu fosse pobre, saberia.
        Talvez, se eu fosse negro, saberia.

        O que sei, por exemplo, é o preconceito que recebo por ser nordestino.

        Esta é a minha experiência de preconceito com o Brasil… E quer saber?

        Não desisti… não fui embora.

        Luto todos os dias para honrar as minhas origens e, embora tenha saído do Nordeste, falo de lá com muito orgulho e não os abandonei: gero empregos e oportunidades por lá.

        Enquanto todos choram com a tal “crise”, eu vendo lenços.

        Um abraço e fica bem!

    • Cidinha disse:

      “Ouch” Vasconcelosbr…. leia com atencao antes de criticar o que foi escrito!!! …. Franciskinder escreveu….”Na Alemanha, o casamento gay sequer é legalizado (ao contrario do Brasil), mas me sinto muito mais seguro aqui”…. sua resposta….. “ao contrário do que você disse sobre a Alemanha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo aqui é permitido sim”…As vezes a gente fica tao empolgado em criticar os outros que acabamos nao vendo os “( )”…kkkk… Agora so’ mais uma coisinha….. qdo disse: “me considero apto a opinar sobre qual o meu sentimento em estar fora do país” … e com 30 dias no maximo morando fora??? Seriously??? Estar num pais por 30 dias (seja la’ qual for a razao) nao lhe da’ experiencia comparavel a quem vive nele. Fazer a mala pra 30 dias e’ uma coisa, mas fazer a mala pra “talvez nunca mais voltar”…. e’ outra totalmente diferente! So’ quem vive a experiencia de morar fora e’ quem sabe!! Eu entendo muito seu patriotismo, mas teria sido mais interessante vc participar de uma discussao de quem “visitou” um/varios paises, e nao de uma discussao de quem esta “quer ou nao voltar” pro pais! Sao duas coisas MUITO diferentes!

      • vasconcelosbr disse:

        Prezada Cidinha,

        Concordo com você!

        A minha experiência de “morar” em outros países realmente não se compara a de quem, de fato, mora há 10, 20 ou 30 anos.

        Mas pelo simples fato de serem experiências diferentes, e não superiores.

        Experiência não se compara, pois isto chama-se “argumento de autoridade”, ou seja, “quem é você para participar deste debate, se nunca morou mais de 10 anos em outro país?”

        Seria o mesmo que, por ter trabalhado na ONU e ser pós-graduado em macroeconomia pela UnB eu dissesse: “Você é pós-graduada em economia para falar deste assunto?” ou “em que organismo internacional você trabalha pra discordar de mim?”.

        Eu não acho a minha experiência de vida mais ou menos relevante do que a das outras pessoas.

        Portanto, não usaria este argumento e lamento que você pense assim.

        Sobre o casamento gay na Alemanha, ele havia dito que o Brasil era um país conservador “(…) comparável a ditaduras macabras na África, pior até que estados islâmicos.”

        Daí mostrei que, sobre o casamento gay, além da maior parada gay do mundo, inclusive as leis brasileiras são mais avançadas que na Alemanha.

        Abraço e bom dia!

    • msilvoli disse:

      Vasconcelosbr,

      Não sei se dá para enriquecer mais (como franciskinder) colocou, mas citando você: “…minha personalidade, com traços nacionalistas…xenófobos…” Xenófobo, como argumentar contigo ???
      Se você reside em Brasília “em uma casa sem muros na frente….” e seus “…sobrinhos brincam com meu cachorrinho pela rua até altas horas da noite” me parece que você :
      – você não mora com o “povão”;
      – reside no Jardins Mangueiral?;
      – mora em condomínio fechado no Lago Sul, Norte?;
      – ou quem sabe nos inúmeros outros condominios ou terrenos invadidos de Brasília “capital da esperança”, capital do País do Futuro (maldito slogan onde este futuro sonhado nunca chegou).
      É, eu conheço bem Brasília, ela foi minha cidade, mas agora fiz como muitos….cansei !
      Você é um mero visitante de outros países e 30 dias no exterior não te dá capacidade de contra argumentar – como uma pessoa com traços XENÓFOBOS – da experiência de anos de vida de outras.
      Sobre os demais pontos: Brasil é extremamente violento sim, o brasileiro não é tão gentil como dizem e qualidade de vida é um caso a discutir….

      Um abraço !

      • vasconcelosbr disse:

        Vamos lá!

        Revisitando o que escrevi (agora, sem os seu recortes na frase):

        “Se eu valorizo mais a família, os amigos, o conforto, o clima, o dinheiro, as pessoas…

        Estes valores irão compor minha personalidade, com traços nacionalistas, ufanistas, xenófobos, ou de “cidadão do mundo”.

        E ninguém pode dizer que alguém está errado em função dos seus valores, ou que existe a escolha certa, mesmo que seja apenas pra hoje.”

        O que tentei explicar é que seus valores variam de acordo com a maneira que a sua personalidade lida com as suas experiências ao longo da vida.

        Os meus valores me permitem viajar para outros países para aprender e ampliar meus horizontes com outras culturas, mas nunca abandonar o meu país. Menos ainda por medo de enfrentar preconceitos ou por salários melhores. Minha meta será sempre voltar para ajudar a melhorar o meu país com o que aprendi lá fora.

        Quem tem outros valores, paciência! É um direito de cada um!

        Sobre o argumento de autoridade, onde você diz que eu não sou “capaz de contra argumentar” com alguém que mora há anos em outro país, citei acima que a minha experiência de “morar” em outros países realmente não se compara a de quem, de fato, mora há 10, 20 ou 30 anos.

        Mas pelo simples fato de serem experiências diferentes, e não superiores.

        Experiência não se compara, pois isto chama-se “argumento de autoridade”, ou seja, “quem é você para participar deste debate, se nunca morou mais de 10 anos em outro país?”

        Seria o mesmo que, por ter trabalhado na ONU e ser pós-graduado em macroeconomia pela UnB eu dissesse: “Você é pós-graduado em economia para falar deste assunto?” ou “em que organismo internacional você trabalha pra discordar de mim?”.

        Eu não acho a minha experiência de vida mais ou menos relevante do que a das outras pessoas.

        Portanto, não usaria este argumento e lamento que você pense assim.

  6. Mauricio disse:

    O autor deste texto é carioca ? Acho que não mas, sem querer ser bairrista, a maioria das pessoas que gostam de viver fora do Brasil não são cariocas. Ou seja, qualquer lugar é melhor do que a cidade onde nasceram.
    Detalhe, Marcio, autor do texto da volta ao Brasil, é carioca.

    • Deni disse:

      Mauricio, sem querer ser chato, mas você tirou essa estatística toda de onde?
      Eu conheci cariocas morando em Londres que não pisavam no Rio há 10 anos e diziam que não tinham intenção nenhuma de voltar…

    • Jean disse:

      Maurício, minha familiarizarias e carioca, adoramos o Rio, mas nunca mais para morar!

    • Idalma disse:

      O que mais tem na Florida, sao cariocas, conheco muitos, que como eu, vivemos a muito tempo pras bandas de ca, e categoricamente, ate pra passear e visitar parentes e amigos, estamos em panico……infelizmente, esta e a realidade nua e crua de um pais a deriva!

    • Lila Kuhlmann disse:

      Sou Carioca, vivi em Toronto por 3 anos, mas escolhi voltar e viver em São Paulo, capital.
      Não combino com o que o Rio. Nem todo Carioca ama o Rio.

    • A VERDADE é que quem pode pode !!!! quem não pode se sacode !!!!! Viajar é maravilhoso, todo ano viajo para EUROPA !!!! Faço cruzeiros , gasto muito !!!! detesto a América , nem de graça vou !!!! Já fiquei 4 meses na França, Curto a vida….. Morar em outro JAMAIS !!!!! Jamais !!!! Aqui no meu BRASIL varonil sou PATRÃO !!!! Nada de lavar prato, cuidar de idoso, jardim , foi época que gringo me impressionava , na tenra juventude.. Hoje quero mais que se exploda!!! Aqui Não tem terremoto, vulçao, bombas explodindo,Tsuname !!!!! O que rola é tiroteio, assalto, roubo de celular…. tem que se cuidar, ficar atento, se prevenir, não ostentar, saber onde vai, ficar refén em casa… Vigiar ,orar…… SOU CARIOCA !!!! OS GRINGOS VEM PARA CÁ < com mochila cheia que coisa !!! mesmo sendo avisados…. saem com cameras fotograficas lindas e modernas, cheios de dinheiro…quando são gay vão para boates, pegam o 1 bofe levam para hotel , daí vem boa noite cinderela , rainha e muito mais !!!! Fica a dica para homens , mulheres e homossexuais….. Vale para todos, o carioca é receptivo, mais nem todos são bom carater e boa índole !!!!!

  7. Ótimo texto Francis,

    A homofobia e o fundamentalismo que estão dominando as esferas políticas aqui no Brasil são realmente assustadores e o primeiro e mais forte motivo que me levam à considerar a imigração. Quando se tem esse tipo de medo os motivos enumerados pelo Márcio perdem importância com certeza.

    E, além disso, a abordagem é muito importante. Uma coisa é resignar-se por não ter visto os mesmos desenhos de infância que seus colegas de outro país. Outra é puxar assunto disso, mostrar pra eles a Turma da Mônica e dividir experiências.

  8. Henrique disse:

    Gostei tanto do seu texto quanto do Marcio. E continuo acreditando que as decisões e opiniões são super pessoais. Me entristece ver como as pessoas são agressivas ao se depararem com opiniões diferentes, que não foi o seu caso, e não serem gratas pelo compartilhamento de um outro ponto de vista. Nenhuma decisão como essa é fácil nem simples, nem sair do Brasil, nem voltar. Tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. Até, por exemplo, a decisão de ter filhos: se vc considerar somente os aspectos financeiros, isso é uma grande loucura. Mesmo assim as pessoas continuam tendo filhos (e no meu caso, sendo muito feliz com isso), porque muitos outros aspectos levam a essa decisão. E além disso, a percepção de qualquer fator é diferente de pessoa para pessoa, e muitas vezes nem nós mesmo sabemos o quanto sentiremos cada um.

  9. Lindaci da Costa disse:

    Mesmo com tudo que estar acontecendo em nosso pais,nos somos povo privilegiado, e os cristãos não são perseguidos como em outros países, e o povo brasileiros são muito calorosos de bom coração.

  10. Jean disse:

    Moro nos EUA a 20 anos, cheguei ainda adolescente. Me adaptei tanto ao lugar que sempre que volto ao Brasil, não consigo ficar mais que uma semana. Porque será?

    • Victor. disse:

      Caro Jean, eu moro no Canada a pouco mais de 3 anos, vim pra cá já com 30+ anos, e mesmo assim, quando volto ao Brasil, depois de 1 semana fico contando os dias para ir embora..

      Sempre me senti um peixe fora d’agua no BR, e não concordo com tudo aquilo que sabemos que há de ruim por lá. E pra mim, ser brincalhão e poder beber em barzinho na beira da praia ou na rua, não é vantagem alguma..

      Imigrar foi a melhor decisão que tomei, só me arrependo de ter demorado tanto..

  11. Nao volto nunca mais. Nunca gostei do Brasil mesmo.

    • Luanda disse:

      N seja por isso rasgue seu passaporte brasileiro vá ao consulado e faça vc n sera mais brasileiro isso sera um favor

  12. Cilene Bonfim disse:

    Pois eu digo, se você é lascado, não é hora nunca de voltar para o Brasil. http://cbnewsplus.com/se-voce-lascado-nao-e-hora-de-voltar-para-o-brasil/54730/

  13. Roger disse:

    Expus minha humilde opinião em um post no Medium, para facilitar a exposição do tópico levantado. Digam-me o que acham! https://medium.com/@rogeroba/qual-a-hora-certa-de-voltar-para-o-brasil-b9224e09289f

  14. […] surgiu um outro texto do economista, aqui, que mora na Alemanha, que disse que não era hora de volta para o Brasil por causa da homofobia; […]

  15. Luanda disse:

    Quero dizer o seguinte quem estiver falando mau do Brasil mora fora e cha absurdo voltar. Faça uma coisa por mim vá ao consulado e renegue sua origem rasgue seu passaporte vc não vai ser mais brasileiro ai vc vai poder encher a boca e dizer o que quiser e tb n voltar nunca mais ….. vejo pessoas dizer que moram na florida a um tempão e não querem voltar ok a florida e estado com mais latinos daqui a pouco n existira mais nodte americano vc querrm me fazer ri neh so pode

    • franciskinder disse:

      Luanda, há uma grande diferença entre criticar o que está deficiente no Brasil e não o torna um bom lugar para se morar e renegar a nacionalidade! Tenho muito orgulho de ser brasileiro. Adoraria que o Brasil fosse um lugar melhor para se morar e, através d’O Economistinha e textos como esse, tento fazer a minha parte. Amor e conformismo são coisas bem diferentes…

      • Luanda disse:

        Bom a Alemanha não é apenas Berlin ou Frankfurt o interior dele ainda se queima alojamento para desabrigados imigrantes e que faz com que o prefeito dela renuncie, então falar de homofobia no Braasil seria fácil qdo se ainda existe nazistas, me desculpe mas um lugar onde não aceita falar inglês por que não é língua oficial, pois é se vc não sabe isso acontece na Alemanha então uma deficiência tb, na Estonia por exemplo existe racismo de levantar do banco do ônibus…. O Brasil pode ser um lugar melhor depende de quem o queira vc antes de chegar ai como estava n pegou o lado ruim nem tudo foi maravilhas, se for para desistir do Brasil desista de ser brasileiro primeiro pq tem mto gringo querendo essa Terra que nós não sabemos cuidar

  16. Emilie disse:

    Há menos de 80 anos a Alemanha estava matando judeus, mulheres, crianças e gays. Muitos dos que viveram e foram coniventes com aquela época estão vivos ainda. A guerra foi uma lição para a Alemanha. O Brasil tem uma história inteiramente diferente, nunca tivemos uma guerra no nosso território – significa que as dificuldades dessa natureza não nos fizeram crescer espiritualmente. Fomos uma colônia formada por uma multiplicidade de etnias, cultura. Somos um pouco índios, portugueses, africanos, alemães, orientais, vivendo em um país pobre de proporções continentais. De fato, estamos em outro momento “civilizatório”. Temos muito a aprender ainda sobre pensar de forma coletiva, ser mais solidários (solidário não é ser legal, educado, gente boa para o vizinho, é parar de pensar só em si próprio, no próprio bolso, e na sua própria classe social). Simplesmente sair do Brasil, porém, não é resolver o problema, na verdade é não contribuir para o nosso processo de evolução. A Alemanha não nasceu ótima, perfeita, pacífica e libertária (se é que é isso tudo mesmo). Se a solução do brasileiro é fugir, a mentalidade continua a mesma da época em que fomos colônia – fazer dinheiro no Brasil e “voltar” para a Europa (ou outro local equivalente), um local “civilizado”. Mas é precisamente isso que deixou o Brasil para trás. Nos EUA, as pessoas foram para ficar, investir e chamar o novo país de seu. Embora tenha suas próprias mazelas, foi uma colônia diferente, tentaram recriar lá o que tinham na Europa. Nos EUA, ninguém pensou ou pensa em voltar para a Europa, diferente do Brasil que agora está nesse mimimi de que o país não tem solução, como se fossem pessoas separadas do resto do país, como se cada um de nós não fôssemos um pouco responsáveis por tudo que acontece aqui (aqui não, lá, porque estou morando fora, mas sem escolha porque meu marido é diplomata). Tudo isso só revela ainda mais a nossa imaturidade política e a nossa falta de senso coletivo, de visão de país, de nação que gostaríamos de ter. Basta explodir o problema e fugir para Europa. Vamos todos fazer isso, engrossando a lista dos náufragos do mediterrâneo.

    • franciskinder disse:

      Olá, Emilie! Gostei muito do seu comentário.
      Em 2012, eu voltei para o Brasil acreditando que seria capaz de fazer a diferença. Mas como o bom ditado diz, “uma andorinha só não faz verão”. Decepcionei-me bastante com a corrupção – em todos os níveis –, a inércia, a violência.
      Eu só tenho uma vida para viver, e quero fazê-lo da melhor forma possível. Não é pedir muito, é? Quero ser feliz e realizado.
      Isso não quer dizer que não me preocupe com o futuro do Brasil – manter O Economistinha há mais de quatro anos, frequentemente criticando o que precisa ser melhorado em nosso país, é a minha forma de fazer a diferença. Não preciso estar no Brasil para ler e escrever a respeito do país.
      De fato, o destino de um país está nas mãos de seus cidadãos. Se cada um fizer a sua parte, começando por agir de forma íntegra e exemplar, o Brasil será um lugar melhor para as próximas gerações.

  17. Leonardo Azevedo disse:

    Pera lá, Alemanha não é Berlim!

    Concordo com três primeiros ítens, mas a homofobia na Alemanha, em especial nas cidades do interior, é uma realidade. É uma homofobia menos violenta que no Brasil, mas eu diria que é mais presente.

    • franciskinder disse:

      Olá, Leonardo! De fato, a Alemanha é heterogênea, e Berlim é mais aberta que Leipzig ou Dresden, por exemplo. Eu tambem morei em Frankfurt, Osnabruck e Dusseldorf e nunca me senti ameaçado, como acontece na maior parte das cidades brasileiras. Discordo que a homofobia (mesmo nas cidades menores) seja mais presente aqui que no Brasil.

  18. Luciana Badra disse:

    Sinto muito por tantos brasileiros serem derrotados por natureza. Desistirem, olharem para seu próprio umbigo e sairem pelo mundo tentando ser felizes. Vim estudar em Toronto ,posso morar aqui, mas NUNCA será o local que poderei char de HOME. Tivemos anos muito bons no Brasil e só depende do engajamento de cada brasileiro para mudar essa situação. Triste tealidade de quem fica e de quem vai. Para quem mora no Brasil, acredite: nosso povo é alegre, nosso país é lindo, e cabe a cada um fazer alguma diferença.

    • franciskinder disse:

      Luciana, eu não me considero derrotado. Muito pelo contrário, através d’O Economistinha eu sempre tento lançar uma luz sobre os problemas do Brasil. Como você comentou, são as pessoas que mudam um país. Faço a minha parte da forma que posso.
      Como você falou, Toronto não é o seu lar – mas pode ser o de outras pessoas. Somos diferentes, não é? Eu sou mais feliz morando aqui que no Brasil – e isso é o que devemos perseguir, na minha opinião: a própria felicidade.

  19. Magaiver Luiz disse:

    Palavras ´sabias: “É preciso seguir em frente sem medo do futuro, deixando o passado na gaveta de recordações.” penso em morar fora…pq aqui….

  20. Philippe Ladvocat disse:

    Eu já estava preparando uma resposta ao texto sobre ser hora de voltar, mas depois de ler o seu, desisti. Muito bem dito. 🙂

  21. Ricardo Tabone disse:

    Muito obrigado pelo texto bem escrito e relevante, Francis.

    Depois de 20 anos no Canadá, eu me sentiria um estrangeiro morando no Brasil. Agora tenho manias esquisitas como pedir desculpas depois de um esbarrão ou em espirro, parar o carro no meio da rua para uma pessoa atravessar a rua, entrar na fila sem tentar furá-la, não levar o troco maior do que eu devo receber, não jogar lixo na rua…. São tantas coisinhas assim que só aparecem quando voltamos ao Brasil. Minha última visita foi em 2003 e eu já havia notado que eu era/estava diferente.

    A única coisa que me faz ainda pensar em visitar o Brasil é a família e os amigos. O resto realmente não me faz falta. Com a globalização e a internet de hoje em dia, posso ver filmes, ouvir música, assistir televisão brasileira, mas também posso fazer isso com filmes, música e televisão de outras culturas também. Já me sinto integrado ao Canadá, não tenho barreiras e nem discriminação para enfrentar.

    O inverno? O inverno passa. E o verão é lindo e verde. Já me tornei muito mais resistente ao frio. 10 graus com sol é verão. E muitas pessoas se comportam desta maneira com essa temperatura. Shorts, esportes de verão, piqueniques.

    Acho que uma grande diferença é que os canadenses VIVEM mais que os brasileiros. Apreciam a natureza, as quatro estações, as opções culturais. A minha impressão é que boa parte dos brasileiros expatriados só pensa em viver em bandos, sempre com os mesmos amigos todos os fins de semana. Pensam em carnaval, em caipirinha e vida noturna. Mas a vida é muito mais que isso!

    Por isso, estou em casa!

    • Muito bom ler isto. Meu irmão mora em Ottawa, passei quatro meses lá no ano passado e pretendo morar urgente no Canadá. Qdo as pessoas falam que sente saudade do Brasil nunca é relacionado a trabalho ou estudo. É sempre saudades de tomar um choppe na esquina, carnaval ou do calor humano. Acho bacana, mas é muito pouco.

      • Ricardo Tabone disse:

        Muito legal, Carlos. Eu conheço o seu irmão (Paulo, né?).
        Nada se compara a viver em Ottawa, tendo tanto verde por perto e tendo tempo para apreciar este verde!
        Abraços para você e seu irmão.

    • vasconcelosbr disse:

      Bem, eu sou do Recife, moro no Brasil e não precisei mudar de país pra aprender a ser educado.

      Paro na faixa de pedestres, dou a vez no trânsito e não passo a perna em ninguém.

      Amo demais o Canadá, mas não pq seja uma escola de boas maneiras, e sim pq as pessoas são maravilhosas e as paisagens são lindas!

      E o frio, me desculpa, mas com temperaturas de quase 50 graus negativos (o inverno de 2015 foi o mais frio da história canadense), dói até na alma!

      Lembrando que não é apenas por 1 ou 2 meses… É quase metade do ano congelando…

      Acho que os expatriados não pensam tanto em trabalho no Brasil pq pensam como empregados/funcionários, e não como empreendedores.

      Onde na face da terra um empreendedor iria preferir investir no Canadá, e não no Brasil?

      Quase todos os mercados brasileiros são maiores e mais expressivos que no Canadá.

      Mas faz sentido… Se tivessem visão empreendedora, seriam empreendedores, seja no Brasil, seja no Canadá.

    • Lila disse:

      Interessante, Ricardo,
      Quando eu vivia em Toronto, não tinha saudade do Brasil, mas das pessoas que vivem nele. Agora que voltei para São Paulo, não sinto falta do Canadá, mas das pessoas com quem fiz amizade. Para mim, o lugar não faz diferença, se tenho pessoas de quem gosto comigo. Deve ser brasileirisse…

      Viajei muito enquanto vivi aí. Frequentava os parques e fazia barbecue, esquiava e patinava no gelo. Sou uma boa Curler, acredite. Os kanuks me chavam para ser spare. Amo a neve e o frio. Mas isso nao me bastou. Precisei de mais. E mais, para mim, eh ser livre em todos os meus comportamentos. Falar o que penso sem muitos filtros tem sido um alívio.

      O que me fez voltar, não foi o lugar, mas a maneira com que me insiro neste lugar. Eu combino muito mais com o jeito brasileiro do que com o Canadense. Aqui, sou livre com meu jeito expansivo, brincalhão. Não preciso medir palavras o tempo todo e nem tomar cuidado para não ofender ninguém com algum descuido. Creio que os tímidos e introvertidos devem ter mais facilidade com essa coisa de fit in.

      Vai de cada um não tem jeito.
      Seja feliz por aí. Eh bom que VC tenha se adaptado.
      Abraço nos kanuks!

      • Ricardo Tabone disse:

        Lila, legal a sua estória.

        Eu não cheguei a aprender a patinar, nem a esquiar e a praticar esportes no gelo. Até assito hockey, mas não sigo regularmente. Continuo apreciando o bom e velho futebol. Não só o brasileiro como a MSL e a NASL. Vou ao estádio e minha filha pequena também torce para o Ottawa Fury junto comigo. Ela sim vai patinar, esquiar, etc. Nunca vou impedí-la só porque eu não tive muita chance de aprender a fazer isso.

        E eu sou o oposto de tímido e introvertido. Sou desbocado, faço piadas, tenho minha opinião política e falo para todos o que eu quero falar. Mesmo não sendo um típico canadense, sou canadense como eles e me sinto em casa. Até porque aqui ser diferente aqui no Canadá é o normal. Os canadenses que me conhecem sabem que esse é o meu jeito e se continuam falando comigo e me incluindo na vida deles é porque eles me aceitam. Se tenho poucos AMIGOS de verdade é por minha culpa mesmo. Tenho muito chance de conhecer pessoas e fazer amigos, mas não abro a porta da minha casa para qualquer um. Já vim assim do Brasil e continuei igual.

        Se existeum grupo que se mostrou mais hostil contra mim aqui são os brazucas ex-patriados. Com eles sim eu tive vários problemas.

        Quando eu vivia no Brasil já me chamavam de diferente, esquisito, fora da curva. Então, prefiro ser isso mesmo e viver bem melhor em outro lugar.

        • Lila Kuhlmann disse:

          Oi, Ricardo,

          Você mora onde, no Canadá? Deve ser em alguma parte mais “calorosa” do ponto de vista das relações humanas, espero, Do contrário, vc você estará quebrando um paradigma meu rsrs

          Sou uma pessoa extremamente comunicativa, mas, também, que preza a educação acima de tudo. Por isso, gosto tanto de São Paulo. E, por isso, adorei viver aí. Quando cheguei, fiz amizades rapidamente. Bati de porta em porta com um cartãozinho e brigadeiros. Logo minha família foi incluída nas atividades do bairro.

          O problema é que eu não tinha certeza de quando as pessoas estavam sendo apenas gentis e quando eu estava agradando. O brasileiro é mais transparente, gosto disso. Não sou como você que (aparentemente) consegue ligar o f-se. Talvez seja bom ser assim, mas não consigo.

          Também não consigo me imaginar tendo uma “discussão” dessas com os Canadenses que eu conheci. A maneira franca como as pessoas colocaram as suas opiniões nesse tópico seria considerada uma tremenda agressão por onde morei. Eu sentia falta da polêmica, de colocar as minhas ideias em cheque. Não me sentia crescer como pessoa, pois ninguém me acrescentava nada. Não por não terem o que acrescentar, mas por não partilharem seus pensamentos. Por mais que eu instigasse – sempre de forma discreta – e até tomasse a iniciativa de mostrar minhas opiniões. As pessoas se limitavam a ouvir e a fazer comentários superficiais.

          Para você ter ideia, eu só entendi que as minhas vizinhas realmente me curtiam, quando fizemos uma despedida para mim. As coisas que foram faladas, tão carinhosas… Descobri que levei calor para o meu bairro e elas apreciaram nisso. Até ganhei 3 abraços e algumas lágrimas, mas só no momento derradeiro… Não sei se fico feliz por descobrir que alas gostavam de mim ou triste por não me satisfazer com o que elas podiam me dar.

          O único canadense caloroso que conheci era de Montreal. Ele até parecia brasileiro e eu o adorava. Mas por ser subalterno do meu marido, não podíamos marcar nada com ele sem os outros colegas de trabalho, por motivos que não cabem contar aqui, uma pena…

          Eu adoraria se pudesse levar os brasileiros para o Canadá. Eu teria o melhor dos mundos. Mas provavelmente as coisas não rodariam tão redondas assim rsrs

          Enfim, mais uma vez, comprovamos que não há receita. Pessoas são diferentes e reagem diferentemente aos mesmos estímulos.

          Estou muito entusiasmada com tudo o que aprendi aí e espero conseguir levar adiante um projeto social utilizando esse conhecimento. É bom voltar podendo dizer que esses 3 nos valeram muito a pena

          Abraço

  22. Ana Luiza W. disse:

    O Brasil eh um lugar maravilhoso! Tao maravilhoso que da passaporte e ainda parcela a passagem so de ida para qualquer um ir embora. Único pais do mundo que facilita a saída. Onde eu moro, so em cash ou no VISA ou Mastercard a vista. Eu não sei porque esta gente tem tanta magoa. Saem, escrevem que saíram, voltam a escrever e dar graças a Deus que saíram. Eu pergunto: Porque este MIMIMI ? Que tanta explicação? Caem fora, VAZEM, Dao no pe…ninguem ta segurando quem quer sair. O Brasil não virou uma Coreia do Norte onde o presidente manda todos chorarem por ele e nem Cuba que persegue seus habitantes e escraviza. Eu sai e não sai. Tenho casas nos dois países, um de lingua inglesa onde moro e no Brasil. Morei em Brasilia e adorei. melhores anos de minha vida e foi em Brasilia que me levou pro exterior. Mas meu domicilio eh la no Sul. Meu marido ingles tem paixão pelo Brasil. Ele eh reservado e serio, mas vejo alegria e brilho nos seus olhos quando esta dentro de um avião em direção a nossa casa la no Sul. O gringo pira! Ele gosta da gastronomia, das pessoas educadas que encontra na rua nas esquinas. Tivemos 3 amigos gaúchos este ano que passaram na nossa casa do pais da língua inglesa. Amigos que ele fez num Grenal, na parque M<arinha do Brasil e outro na Hípica. nesta ordem. Gente, o mundo eh pequeno demais para escrever novelas pesadas e dando graças por isto e aquilo. cada um tem seu direito de morar onde quiser, agora educação e limites ao escrever faz bem para qualquer um e para o leitor. ninguém quer ler amarguras e frustados que as pessoas inventam que tem para se sentir 'politizado" ou esperto. beijinhos a todos. Eu adoro o Brasil e uma cambada de gente também. Quem não gosta, o mundo tem outros países..vao fazer algo útil para a vida de vocês e tenham certeza que o Brasil não precisa mesmo de quem fala mal da pátria que os pariu. Os iranianos adoram seu pais, os filipinos choram pela sua terra e os indianos fazem de tudo pelo pais de 1 bilhão de habitantes. Porque será?
    Vasconcellos, parabens pelo teu texto.

    • vasconcelosbr disse:

      O jeito vai ser mesmo eu criar meu site, compartilhando e reunindo as histórias de milhões de brasileiros que ficaram, venceram e lutam todos os dias por um país melhor não apenas para si, para para todos.

      Agora é se preparar para a chuva de recalque, pois não tem nada que desestruture mais um expatriado do que ver outros brasileiros vencendo na vida sem precisar sair de perto da praia, dos amigos, da família e deste clima maravilhoso!

      • Erik disse:

        O argumento aqui jamais foi de “como é impossível prosperar no Brasil”, logo, seu comentário não faz sentido.

        Já que estamos generalizando e apelando acho que pode-se igualmente dizer que não há nada mais frustrante em saber que mesmo prosperando na sua “praia e clima magnífico” o seu padrão de vida, e o de milhões ao seu redor, continua pífio se comparado ao da civilização.
        😉

        Boa noite!

  23. […] Eu acho que não. Márcio Leibovitch acha que sim. […]

  24. Amanda Lima disse:

    Morei 14 anos fora do Brasil, e estou de volta a 4 anos. Realmente é chocante a nossa realidade precária de carência de tudoooooo que em muitos países são cosiderado, “básico”… Não é só a questal “pontualidade”, que não é nosso forte meu caro. Como também: saúde, segurança, transporte, rodovias, qualidade de vida, honestidade, comprometimento,repswrespeito as diferenças, cuidado com meio ambiente, educação, trânsito, etc, etc, etc… Poderia ficar horassss sitando as CARENCIAS BASICAS… Ai vc pergunta? Porque eu voltei? Não tive excolha… A crise q aconteceu INFELIZMENTE, me fez voltar. .. E pesou também a questão d na época minha mãe está doente! Hj tenho uma loja no Brasil, p.s montei a loja c as economias q fiz FORA DO BRASIL. Até porque fazer economia aqui é impossível… Tenho tentado nesses 4 anos, não ver meu sonho morrer, vivo apertada como qualquer pequeno empresário no Brasil! E muitas vezes ganho até um pouco mais do q ganhava fora do Brasil, e acreditole meu caro, NÃO SOBRA NADA! Pois é a inflação, o alto custo de vida e os impostos esmaga qualquer um q luta para viver c dignidade no Brasil. Realmente para está tão satisfeito, ou deve ser classe média ALTA q ainda não foi afetado pelo alto custo de tudooooo aqui. Sou d origem humilde, trabalho desdos 13 anos, tenho 36 anos e vivo ralando para poder conquistar uma tranquilidade e comprar minha casa, propria. Que vivendo nossa realidade acho muitoooo difícil. Enfim. É fácil falar quando se tem uma estrutura, ou pais q pode ajudar d alguma forma… Quero ver ser vc e Deus aqui, e qualquer dificuldade maior poder custar teu pescoço. Lá fora simmmm temos simmmm mais oportunidadesss!!! Nada é perfeito, nada é fácil! Mas até mesmo as dificuldades d lá são insignificante para nossa triste realidade. Peco que Deus abençoe meus caminhos e q eu consiga vencer no meu país, q não é tarefa fácil! Mas vamos lá… Um ppaís onde a hipocrisia, inversão de valores, desonestidade, controvérsia e o JEITINHO BRASILEIRO impera. Nao, Não voltem para o Brasil, superem todas as dificuldades ai fora e na última das últimas hipótese pense em voltar para o Brasil e q sempreeeee seja a utima opção.

    • Ana Luiza W. disse:

      Amanda Lima,
      Vai para o Haiti ajudar as pessoas na guerra, o Sean Penn esta la. . Ou para Africa ensinar inglês para crianças dos países africanos mais necessitados. Tem países la muito ricos, vc sabe ne? Ou vem para USA limpar casa, porque o teu discurso de “vira lata”, onde a pessoa acredita que a grama do vizinho eh melhor, não convence.Veja bem: Não te chamei de vira-lata no sentido figurado.So usei a expressão que descreve a pessoa que acha que tudo do vizinho eh melhor e onde vc mora so tem lixo. Quando vc falou das suas dificuldades e culpando o Brasil, eu vi voce falando de você…o pais não tem nada a ver. Como dizia meu pai: “quem não tem competência, não se estabelece.” Entao fica difícil viu? Use a consciência ou ponha a mao na consciência e veja se vc não esta assistindo muito novela. PS: se vc morou 14 anos fora, fez alguma raiz no lugar, entao volte, pica a mula, vaze…pque senao ficou nenhuma raizinha la…o lugar foi uma porcaria. Desculpa.

  25. chiav disse:

    Realmente é um texto interessante para ler, é praticamente um discurso de ‘os alemães exterminaram milhares de judeus mas, tudo bem’. O Brasil é pútrido e não existe violência no restante do mundo, só lá! Jogue para o alto a sua família que tentou te dar tudo o que estava ao alcance durante sua infância e juventude, tudo para que possa ter um namorado onde possa caminhar num lindo parque no meio de pessoas desprovidas de calor humano e que não estão nem aí com você ou para o que você faz. Se esses são os valores para se viver fora do país onde se nasceu com um propósito divino, então prefiro continuar com meus próprios valores, aproveitando cada precioso segundo que me resta com aqueles que me deram a vida e um dia partirão daqui, não para um utópico país das maravilhas, mas muito mais evoluído.

  26. Erik disse:

    Concordo em todos os sentidos!
    Saudações de Toronto!

  27. vasconcelosbr disse:

    Pessoal, vamos deixar de lado esta “Síndrome de Vira-Latas” e construir um país melhor!

    Este “recalque” geralmente acontece quando os expatriados frustrados (os bem resolvidos não passam por este problema) descobrem pessoas que conseguem vencer na vida sem precisa deixar o Brasil, ou mesmo moram em outros países mas amam demais seu país de origem!

    Vejam do que estou falando:

    Assistam este vídeo, é uma paródia do clipe Happy, que a galera do Brasil fez sobre a nossa cultura.

    E depois vejam este, que a galera do Cazaquistão fez da mesma forma!

    Vejam a diferença de quem quer FUDER a imagem do próprio país (e investe seu precioso tempo neste intuito), e quem realmente tem vontade de promover aquilo que há de bom no seu país!

    • Lila Kuhlmann disse:

      É mesmo triste perder tempo fazendo esse tipo de caricatura.

      Acho que pior do que as pessoas que só vêem o lado “sombrio” do brasileiro e fazem propaganda negativa é o trabalho negativo que a mídia faz. Lembro-me de quando morava na Ilha do Governador, no Rio, e via, todos os dias, notícias sobre os ataques do comando vermelho em Sampa. Menos de um mês depois, me mudei para a Z Sul de SP. Descobri o quanto a mídia exagerou, o quanto a coisa era isolada, localizada (não diminuindo a gravidade, apenas a extensão do problema). Em SP, eu ouvia a mídia enfatizar diários tiroteios na Linha Vermelha. Nenhum conhecido meu, à época, passou pelo drama. Voltei para a Ilha 2 anos depois. Meu marido trabalhava no Centro e pegava ônibus todos os dias. Meus filhos estudavam perto da maior favela da Ilha. Nunca sofremos nada e nem tive amigos na mesma situação. Sorte? Talvez. Mas acho que a mídia faz um trabalho tendencioso e pode, nesse sentido (não vou discutir os motivos), acabar com a imagem de um lugar.

      O engraçado é que fui furtada duas vezes no Rio, nos 37 anos em que vivi lá. Fui furtada em Paris em 2 dias que estive lá. Conheci uma família que se mudou para Oakville (a 35 min de Toronto) e, em menos de um mês teve a filha estuprada e morta. A população estava alarmada, estarrecida. A mídia só falava nisso. Foram 2 meses de sensacionalismo.

      No Canadá, as pessoas me perguntavam se era mesmo perigoso ir para o Rio. Eu me sentia muito constrangida. Explicava as precauções que era necessário tomar e mostrava quão lindo é o Rio, que se vc chegasse numa rede da praia e fosse simpático, não só jogaria com o grupo, mas provavelmente seria chamado para uma festa ou churrasco à noite. Eu mesma experimentei isso diversas vezes. E eles se encantavam. Todos os estrangeiros que eu conheci, que vieram ao Brasil, insistem em dizer que é um lugar maravilhoso de se viver.

      Uma coisa que não comentei no meu depoimento, mas que gostaria de acrescentar aqui: Particularmente, nós temos acesso a muito mais lazer em SP do que tínhamos em Toronto. Aqui o lazer é bem mais barato e os restaurantes e bares, também. Tenho mais poder aquisitivo no Brasil do que tinha lá, mesmo com a inflação e com o dólar alto. Mesmo pagando escola particular para dois filhos e financiando transporte e alimentação para a minha filha ir à USP, a qual é a melhor universidade da América Latina, e é gratuita, estamos melhor financeiramente. No Canadá, eu não pagaria escola para os meninos, mas teria que desembolsar, por uma boa universidade, não menos de 20 mil dólares por ano, isso, considerando que a minha filha tinha notas acima de 92% e conseguiria bolsa em qualquer universidade que pleiteasse. Não é à toa que eles poupam desde que o filho nasce (aliás há um programa excelente do governo para isso).

      Fiquei espremida no metrô de NY diversas vezes. Aí, um dia, desisti e peguei um taxi Fiquei presa no congestionamento e tive que correr uma grande distância para não perder o evento para onde ía. Adorei NY pelas opções culturais noturnas, mas prefiro me movimentar em SP, cujos engarrafamentos estão menos pesados graças ao Waze e à geografia paulistana. Também a achei uma cidade caríssima. Não é à toa. Grandes metrópoles, como Rio, SP, NY e Tokio são caras mesmo.

      Não quero dizer que o Brasil é melhor, ou que não tem violência. Há um longo caminho a percorrer. Mas também tem coisas excelentes, principalmente, o bom humor e o jogo de cintura do brasileiro.

      • Ana Luiza W. disse:

        Lila, vc pensa igual a mim. Moro no Canada, casada com canadense, na parte mais quente de todo pais, mas meu coração e meu jeito alegre de ser ficou no Brasil. Aqui tentei de tudo, e desisti. Vc falou bem certinho como são os relacionamentos superficiais e a falta d energia ou de algum “vibe”. A gente coloca ênfase, da amor, conta uma estória e escuta uns ah ahh, ou um olhar de expressão surpresa e so. Como vc diz: “Não acrescentam nada. Não se cresce, não se aprende.” Tenho a impressão que eu ensino algo a eles. Ensinei uma canadense lazy a sair com o baby no parquinho por 30 min ou menos, para criança mudar o ar, brincar, enfim sair do quarto escuro que a mae lazy deixava com a TV imensa ligada em alto som para distrair e irritar a criança. Pensa que ela gostou? Me virava a cara que a criança me adorava, gritava para vir comigo e ficar uns minutinhos no meu colo. Ela alugava meu basement e deixou a casa imunda quando saiu, dizendo que estava cansada para limpar. E depois dela vieram outros que eu ensinava ate a reciclar o lixo e eles sempre achando que era minha obrigação ,pque pagavam um aluguel caro. Não vou citar mais coisas, vc ja sabe. Continuo morando aqui, mas nada acrescentou de bom, so a quietude das ruas. O que me incentiva a ficar aqui eh o nosso investimento no Sul do Brasil. bjo.

      • Luanda disse:

        Perfeito … Eu moro na Rússia pq estudo aqui mas penso igual a vc sobre o Brasil e mais vi aqui o qto eles mesmo com problemas acreditam no País deles , já passaram por guerra hj existe uma crise economica mundial mas estão firmes acreditando no País e eu acredito no meu ….. Achei perfeito o que escreveu

  28. […] esposa de Marcio. Diretamente da Alemanha, o consultor de negócios Francis Kinder que escreveu um texto em resposta ao escrito por Marcio, com argumentos para não voltar ao Brasil. André Salles, dono […]

  29. Bernard Vital Rosenthal disse:

    Ponto de vista de cada um deve ser respeitado,
    como tenho um filho que esta lá fora Londres, também quase 11 anos, e apesar dele vir e volta assim que pode, a saudade é enorme, e o meu sentimento inicial foi dar apoio, pois tinha na época 23 anos , agora com 34 anos , e com bela história curricular , chega a hora de se perguntar ( nós pais) Volte, pois sua pátria e família esta aqui ! mas a situação do pais esta ruim, sim mas sempre esteve assim, altos e baixos momentos de mercado, é claro que se encanta como as engrenagens sociais num pais de primeiro mundo funciona!, o que questiono foi o argumento inicial, me formo lá e volto mais experiente e ganho mais, pois o Brasil valoriza mais quem é experiente no Exterior , passa- se esse tempo todo sem o calor familiar e o calor dos amigos, tendo uma vida sobre equilíbrio financeiro na ponta da caneta . sim esse é o meu ponto de vista, não coloquei que estou envelhecendo, não poderei ver meus netos quando eles nascerem enfim, são argumentos claro egoístas, mas reais também. . O Brasil precisa de elementos experientes como ele e de outros Brasileiros, para fazer essa mudança que o País precise.
    Obrigado

    • Lila disse:

      Bernard, eh raríssimo ver alguém com valores afetivos tão fortes. Pensamos igual. Voltei pra ficar e, espero, para colaborar aplicando tudo o que aprendi.
      Abraço

  30. franciskinder disse:

    Pessoal, a Rádio Centre Ville de Montreal entrevistou Márcio Leibovitch e eu em um debate sobre esse tema. Confiram lá no site da rádio!
    http://montrealnareal.com/2015/06/17/31-debate-chegou-a-hora-de-voltar-ao-brasil/

  31. Bah Neves disse:

    Não posso ser matura o suficiente para debater com pessoas já mais vividas, mas vou deixar o meu relato também.
    Após fazer meu primeiro mochilão, coloquei na cabeça que queria morar fora, que nada prestava no Brasil e blablabla.
    Este ano, logo no comecinho me mudei pra Hong Kong, pq meu namorado começou a trabalhar aqui. Enfim! Sonho realizado, uhu! Vou morar fora.
    Aprendo todos os santos dias, escola da vida em modo intensivo. Desde comprar pão na esquina até um passeio na praia se torna um desafio.
    Aqui sou sozinha (mesmo estando cercada de pessoas especiais, tendo apoio do meu namorado… Não é a mesma coisa que ter seus amigos pra tomar uma breja no boteco da esquina), tenho problema com a comida e ainda não consegui um emprego…
    Ou seja, minha vida está em stand-by, posso dizer assim.
    Claro que corro atrás do meu. Faço bicos em cozinha, passeio com cachorros, limpo casas, etc. Não é tão fácil como parece. Sair na rua e negociar com os “china” é um desafio e tanto.
    Mas sempre quando me perguntam se eu quero voltar pro Brasil… Eu digo que ainda não é a hora.
    Não há preço que pague sair na rua, andar de noite sozinha (com roupas curtas ou não) e nada me acontecer.
    Poder ser livre, não ter medo de um carro forte, não ter medo de contar dinheiro na rua, ter facilidade de trasnportes públicos, etc…
    Viver em segurança é a melhor coisa da vida!
    Claro que existem lugares seguros no Brasil, e muitas coisas boas, como nossa educação em relação ao meio ambiente e nosso relacionamento entre família e amigos.
    Aqui chega a dar desespero ao ver que as pessoas despejam lixo e mais lixo no oceano, como se fosse um latão de lixo.
    Mas andar em segurança, não há preço que pague!

    • Lila disse:

      Cara, a sua vida não está em stand by. Não fique esperando o que VC acha que deve acontecer para começar a viver. Isso EH viver! VC está aprendendo mais do que nunca, com dores e prazeres. VC sempre terá a sua casa te esperando se ficar cansada de expandir a sua zona de conforto. Se VC acha que está onde deve estar, Hakuna Marata..

  32. les Brazucois disse:

    Olá!
    Zapeando pela rede esbarrei neste post. Adorei, pois me identifiquei muito com os pontos levantados no seu texto.
    Moro atualmente em Charny, uma pacata cidadezinha da província de Québec (CA). Depois de pouco mais de um ano como residente permanente e passando alguns perrengues com idioma e adaptação, reafirmo que esta foi a melhor decisão da minha vida. Não sinto a menor falta do Brasil, tampouco pretendo voltar à pátria amada que, pra mim, deixou de ser idolatrada há tempos.
    Talvez eu mude de ideia amanhã.
    Afinal, tudo muda o tempo todo.
    Mas hoje seguramente estou segura no Canadá!
    Vida que segue…
    Abraços,
    Nilian.

    • Luanda disse:

      Sinto vergonha de ler seu post infelizmente existe mtos brasileiros como vc digo que o Brasil é formado pela maioria deles patriotismo são coisas que mtos Brasileiros nem sabem o que é e eu sinto vergonha, e digo mais aos quem nem amam essa patria pode renegar e rasgar o passaporte nãomfará a meor falt

  33. Raphael P disse:

    Migração sempre fez parte da humanidade. Aliás, faz parte do mundo animal. Qualquer espécie migra para outros lugares, atrás de recursos mais facilmente disponíveis.

    Para me ater aos humanos, e à nossa história mais ou menos recente, e apenas do ocidente (já que o oriente é quase sempre esquecido nesse quesito), tribos germânicas migraram maciçamente para as ilhas britânicas a partir do século V d.C. Frísios, jutos, anglos, saxões. A Grã-Bretanha era constituída de outros povos, maioritariamente tribos celtas. Em cinco séculos os celtas bretões foram quase inteiramente assimilados pelos “anglo-saxões”. Justamente a partir do século X d.C. os anglo-saxões (já “ingleses”) começaram a ser invadidos por hordas de escandinavos, assim como outros territórios na Europa e fora dela.
    Enfim, poderia citar outros exemplos, mas este é apenas um dentre tantos outros ilustrativos. Estas migrações ocorreram essencialmente por falta de recursos nas regiões de onde essas tribos se originaram, pelas condições extremas e dificuldades de cultivo de alimentos, solos pobres, etc.

    Não são exatamente as condições de hoje, pelo menos não no Brasil. Mas a migração nunca deixará de ser um fato. Pode-se argumentar em favor da cultura do local de “berço”, patriotismo, ou argumentos deste tipo. São legítimos. Mas é preciso reconhecer que isto é um mecanismo biológico de necessidade inata de se buscar identificação com um grupo, de pertencer a um grupo. Afinal, na estratégia de sobrevivência do mundo animal pertencer a um grupo torna o indivíduo mais forte e mais apto a prosperar. Sobreviver sozinho diminui estas chances de forma proporcionalmente inversa. Por isso, integração é a palavra de ordem. É algo tão capaz de afetar o indivíduo que não se integra a um grupo distinto.

    Continuando, embora confrontando agora o apelo emocional que a maioria faz quando aborda este tema “migração” (entendido como “abandonando a terra natal”). O brasileiro é solidário? Acredito que sim. Mas, por favor, não confundam a solidariedade brasileira com a informalidade e a receptividade carioca, para tomar outro exemplo ilustrativo. Sou nascido no Rio, tenho muitos amigos cariocas, sim. Mas o traço carioca, na média, ou seja, o seu estereótipo, é algo abjeto. A informalidade e a receptividade superficial não caracterizam que o indivíduo é uma pessoa verdadeiramente disposta a colaborar e a ser profundamente solidária, delicada, cordial, dedicada, comprometida. Frequentemente, o que caracteriza este traço é exatamente isso: o descomprometimento com terceiros (normalmente interpretado com o eufemismo de “informalidade” e sinônimo da amistosidade carioca, exaltadas como enormes qualidades), a expansividade (também interpretada como um traço de extroversão e festividade, quando na verdade, denota a falta de reconhecimento de limites entre o seu espaço e o do outro indivíduo), a superficialidade no tratamento com os desconhecidos, quando não são acompanhadas de falta de cortesia. Em suma, um déficit de caráter. Estas são algumas características que definem o abominável jeitinho brasileiro. É preferível o formalismo no tratamento pessoal, porém expositivo e direto das verdadeiras ideias, sem rodeios, do que a aparente transparência e informalidade, ocultando de modo falso intenções diversas daquelas demonstradas. Então, a expansividade e extroversão de estranhos, embora teus conterrâneos, que tanto te parecem agradáveis e remetem à hospitalidade “inata” que só a terra natal tem, podem ser encaradas como falta de consideração pelo direito do outro ao seu espaço próprio também. Afinal, se todos têm direitos iguais, um deve saber respeitar os limites de outrem, sem impor vontades e sabendo compartilhar espaços públicos com civilidade. Conclusão n. 1: não extrapole para os outros as mesmas necessidades ou condições que te confortam, pois não são necessariamente as mesmas para todos os indivíduos.

    Vejo inconsistências nos argumentos das pessoas que debateram por aqui. Falam de que em países do exterior não podem ser francos como são os brasileiros aqui, por exemplo. Bom, onde os brasileiros me parecem ser mais francos que os do Rio, pelo menos, são os do sul do país. A franqueza não é uma característica inerente do carioca, ainda para permanecer no meu exemplo local e imediatamente palpável à maioria. Assumir posições que confrontem o “status quo”, mesmo que se pense o contrário, não são corriqueiras. Encaro como parte da estratégia da cultura local; por aqui, para não se criar inimizades (pelo menos abertamente) se opta por não ser franco para não gerar desconforto. Assim, me parece que o raciocínio da sociedade da região em que vivo é agir de uma forma e pensar de outra. Concordar com alguém para não criar atritos. Isso é um traço cultural, onde os dois lados acreditam que discordar ou ser extremamente franco pode ser desagradável. O adjetivo para isso é condescendência, que não é atributo exclusivo dos cariocas, mas arrisco dizer que do povo brasileiro, em geral. Então, se formam padrões amistosos superficiais, onde um não gostaria de fato de concordar, colaborar, discutir, ou desejaria discutir, seja lá pelo que for, como sugerir que o outro teve um comportamento inadequado, mas não se faz por que a etiqueta, ser “polido”, é não desagradar o outro. Portanto, isto é sim uma superficialidade, sempre estar sorridente para com os outros ao redor. Essa condescendência é uma das fraquezas que nos torna uma sociedade desorganizada. Mas entendam: não ser condescendente não é sinônimo de intolerância. É uma questão de bom senso diante de comportamentos inadequados ter postura para aponta-los, seja em si mesmo, num familiar, em amigos ou estranhos, para procurar corrigí-los. Os alemães, por exemplo, são extremamente francos e diretos, considerados até desagradáveis pela sua franqueza por muitos brasileiros. Então há algo errado no argumento de “estrangeiros piores” X “brasileiros melhores”. A Sra. Kuhlmann que, à propósito, argumentou em favor da franqueza que faz parte do seu traço e que não podia manifestar abertamente no Canadá, descende (ou seu marido) dos mesmos germânicos que migraram no passado para o que hoje é a Inglaterra, a julgar pelo seu sobrenome. Essa é apenas uma observação que faço só para destacar que brasileiros vêm também de muitos lugares. E apontar mais uma vez que o argumento do solo nativo é fraco. Nada pessoal contra a Sra. Kuhlmann. Enfim, franqueza não é uma característica natural a todos os brasileiros, este é o ponto que quero destacar aqui, mas muitas outras características que definem o “jeitinho” que muitos esclarecidos reconhecem hoje como inadequado e que é tão particular da média da nossa população são. Portanto, quem não reconhece qualquer característica familiar até agora no que descrevi acima e que já o tenha incomodado, seja em si próprio ou em outra pessoa que conheça ou já tenha conhecido, que atire a primeira pedra.

    Mas vamos lá. Muitos não entenderão o que escrevi e irão me execrar. Estou falando de traços médios, uma coisa estatística, algo que representa a média amostral de uma população. Há perfis inferiores e perfis superiores nesse quadro. Resumindo, no Rio, esse caráter é acentuado. Isto é, este padrão médio é encontrado com frequência. E é também o padrão encontrado em muitos outros centros brasileiros.

    Como podem argumentar, e estou parcialmente de acordo, talvez este seja um mal que assole parte significativa de cidades grandes, não apenas no Brasil. Parcialmente porque concordo que em cidades grandes as pessoas tendem a agir de forma mais fria com desconhecidos, pois há pouco tempo para o indivíduo e há também problemas de segurança em muitos desses grandes centros, o que gera desconfiança e receio. Mas não me refiro apenas a esse critério, como procurei expor logo acima. Pelo bem da brevidade, quando o critério humano (o caráter) não pesa, pesam a eficiência dos serviços oferecidos e qualidade de vida, que podem deixar a desejar.

    Não vivo fora do Brasil atualmente. Mas não tapo meus olhos para as coisas que me incomodam nos meus conterrâneos, procurando, ao contrário, exaltar as maravilhas da natureza e a alegria do povo. Sou crítico. Não sou recalcado, conforme o termo empregado por alguns acima, execrando brasileiros que renegam a “cultura que lhes originou”, como se o solo onde se nasce significasse que um indivíduo deverá estar atrelado a ele por toda a vida. O povo judeu é uma prova do contrário, estão em todos os continentes. Assim como os “anglo-saxões” do exemplo que escolhi utilizar, embora não haja o mesmo grau de identificação entre estes que há entre os judeus, apesar de estes também terem se propagado por muitas partes do mundo desde a formação do “povo” inglês.
    E “povo”, novamente, é mais uma necessidade de identificação entre semelhantes, de inserção num meio que garanta melhores condições de sobrevivência e reprodução a um indivíduo, do que algo determinístico e imutável. Obviamente, características fenotípicas facilitam a inserção e aceitação num meio qualquer, numa sociedade, pois normalmente são manifestações de características genéticas compartilhadas, bem como linguagem e cultura, que também podem ser compartilhadas. Fora isso, são meramente estratégias que poderiam ser abandonadas, caso a razão fosse empregada, e não os instintos.

    Retornando à minha posição particular quanto ao assunto em questão, permaneço vivendo no Rio, tenho um bom emprego e salário que não posso reclamar, excelentes colegas de trabalho. Resumindo, vivo rodeado de condições que fariam alguém me considerar louco pela mera possibilidade de cogitar deixar o país definitivamente. Mas sei que vivo num meio em que há um viés amostral da população, para o lado positivo. Isto é, concentram-se brasileiros interessantes, inteligentes, educados, comprometidos, rigorosos, respeitosos, cordiais, no meu ambiente profissional. Este ambiente é científico. Também observo que, na minha área de atuação é uma tendência que este tipo de pessoa acabe se concentrando. Não entrarei nos méritos, pois daria para desenvolver uma tese sociológica, mas é um fato observável. Mas, enfim, há sem dúvida brasileiros fantásticos. Mas uma parcela pequena não muda um país dessas dimensões, principalmente se não há esforços unificados. E se muitos não começam reconhecendo em si mesmos que há falhas em nosso caráter, como as apresentadas acima.

    Por outro lado, percebo que basta eu me afastar da minha “bolha” de realidade paralela de um Brasil que pode dar certo para constatar o Brasil que permanecerá aquele que não deixará de possuir o título de país do futuro por mais alguns séculos, talvez. Infelizmente. Com pessoas superficiais, desaforadas, mal-educadas, descorteses, ríspidas, intolerantes, agressivas, alienadas, de visão limitada. Condescendentes. Já tentei exercer minha parcela adicional, voluntária, de cidadania neste país, além das minhas atividades profissionais, de promover instrução (leia-se, conhecimento, diferente da educação de bons modos – esta última deve ser iniciada em casa, em princípio), pois é no que acredito que se constroem os alicerces fundamentais de uma nação, com conhecimento sólido, seja técnico aplicado ou científico para fins variados. Isto gera desenvolvimento. No entanto, percebo que ou se desdenha, a própria população, nesse caso, não deseja conhecimento, ou não se tem apoio de outros pares, o que é triste e desmotivador. E sem educação e sem conhecimento não se desenvolve apenas a estrutura econômica de uma sociedade, mas também não se desenvolve a consciência do papel social de cada indivíduo numa sociedade, ou seja, a cidadania e o respeito mútuo. Pois não há maturidade intelectual para adquirir esta percepção. Cidadãos são peças de uma engrenagem maior. Educação e conhecimento são fundamentais nesse processo civilizatório. Mas, numa nação que se confunde conhecimento com “contatos”, informação com aquilo que se obtém lendo notícias da vida de “celebridades”, e educação com ir a escola para ter direito à merenda e a alguma bolsa, o que se pode esperar? Isto posto, não são portanto apenas critérios financeiros que podem pesar para alguma pessoa considerar deixar seu país de nascimento. A descrença no potencial humano local pode ser uma razão muito mais relevante.

    Então, me parece que o Brasil, na sua média, deseja permanecer ignorante e ser subjugado/suprimido/conduzido/absorvido e, nesse caso, é uma possiblidade que não deixa de seguir o curso da seleção natural. Como os exemplos históricos que citei, dentre toda a história da humanidade em 140 mil anos de Homo sapiens caminhando na Terra, hordas vem e vão, sociedades são construídas e dissolvidas. Se apegar a uma causa de vida pode trazer significado às nossas vidas e é totalmente válido. Mas criticar aqueles que decidem migrar atrás de melhores recursos é, pelo contrário, totalmente inválido. São diferentes estratégias de sobrevivência. No entanto, alguma delas deve ser mais eficaz.

    Portanto, o indivíduo pragmático que não se comove com o apelo emocional dos conceitos “pátria mãe”, “terra natal” , patriotismo e coisas semelhantes não deve ser criticado. Afinal, o fato de ter nascido sobre certo solo não define que se deve morrer sobre o mesmo (e pelo mesmo).

    Este é outro fato: uma nação tem os políticos que merece. De modo geral, esta categoria representa o perfil da nação, já que são eleitos pelo povo e se originam de diversas classes sociais diferentes – desde vereadores e prefeitos até senadores e presidentes, não são apenas aqueles que derivam das classes sociais mais ricas que se elegem. Todas as classes estão representadas, em princípio. Assim, é uma dedução falha concluir que se os representantes do Legislativo e do Executivo (e também do Judiciário, embora não escolhido pelo povo) têm caráter falho portanto a própria população, na média, também possui essa deficiência? Afinal, é outro traço frequentemente encontrado na distribuição da nossa população a propensão a cometer pequenas irregularidades, ainda que aparentemente inofensivas, para se conseguir obter pequenas vantagens. A manifestação máxima desse caráter indesejável se encontra na corrupção dos governantes e quadrilhas associadas, nos privilégios garantidos à categoria, na impunidade e na desorganização administrativa do estado. Esta outra característica – a inclinação a cometer certos desvios de conduta para benefício próprio e instantâneo – completa a definição do abominável jeitinho brasileiro.

    Mencionaram que a busca pela verdade é ineficaz. Concordo. Há trilhões de variáveis envolvidas no ambiente em que humanos vivem e que os faz humanos. Mas a análise fria baseada em dados, evidências e a construção de hipóteses bem embasadas, sem envolvimento emocional, podem ajudar a orientar, a dar um rumo. As “ciências humanas” ou sociais, como as citadas por outra pessoa, aprenderiam muito se os seus profissionais possuíssem maior base nas ciências naturais. Particularmente as disciplinas da biologia, como evolução (e o entendimento suficientemente adequado da teoria da evolução por meio da seleção natural), ensinariam muito os sociólogos, psicólogos e outros a compreender o ser humano melhor.

    E, diga-se de passagem, não sou biólogo. Portanto, não estou defendendo enviezadamente uma opinião. É uma observação particular que considero válida de compartilhar e orientar outros indivíduos a buscar mais conhecimento para alcançar melhor compreensão da realidade que os cerca. E a respeito da própria espécie a que pertencemos.

    Se alguém leu até aqui, obrigado pelo interesse.

  34. Lila Kuhlmann disse:

    Caro Raphael ,

    estou de acordo com boa parte do que você escreveu. Sim, eu li tudinho. Você escreve muito bem. Não estou sendo condescendente, é um elogio genuíno.

    Como você citou o meu nome mais de uma vez e o associou a sentenças como “em países do exterior não podem ser francos como são os brasileiros aqui”, quando em nenhum momento, em meus replies, eu sequer dei essa impressão, exponho aqui algumas considerações para sua reflexão.

    O tempo todo, em meus textos, eu exaltei o Canadá, país que me recebeu tão bem e que eu aprendi a amar e respeitar.. Jamais falarei que o Brasil é melhor do que o Canadá, o que seria ridículo. Além do mais, são culturas e histórias muito distintas e não faz sentido compará-las. Não falei de nenhum outro país, já que só vivi ali e no Brasil, portanto é um erro você falar em “países no exterior”.

    Quando justifiquei a minha volta com o que você chamou de “apelo emocional”, expus uma questão pessoal e fiz questão de deixar isso claro. Não acho que as pessoas devam sentir o mesmo que eu, pois adaptação a questões culturais são algo íntimo. Também fui explícita nesse sentido. Fui solidária a pessoas com valores similares aos meus. Respondi apenas àquelas pessoas com quem eu concordava ou às que discordavam nominalmente de mim. Longe de mim em apoiar movimentos do tipo “rasgue seu passaporte e vá embora”. Quando falei de problemas comuns às grandes metrópoles, tentei mostrar que toda grande cidade tem defeitos e que a mídia protagoniza um papel danoso no que diz respeito às nossas mazelas. E insisti que tenho fé no Brasil.

    Mas vamos às questões culturais, cerne do parágrafo que questiono. Algumas das características que te fazem (aparentemente) não gostar do carioca são justamente algumas que acho interessantes e que fazem a cultura local. Entendo que você ache que “é sim uma superficialidade, sempre estar sorridente para com os outros ao redor” e te aviso que isso também seria um problema para você, no Canadá. Eles estão sempre com um sorriso amigável no rosto, o que me fez sentir bem-vinda logo de cara. A gentiliza e cortesia são sua característica, mesmo com quem eles nunca viram. E não é hipocrisia e nem condescendência. Talvez, se você for ao Canadá, vai chamar isso de educação, mas para o Rio, você usa um tom pejorativo. Talvez. E isso seria uma pena. Bem, eu gosto de pessoas sempre sorridentes. Eu sou uma delas. E não sou falsa e nem condescendente. Aliás conheço muita gente sorridente, ainda bem.

    “Concordar com alguém para não criar atritos” você tem certeza de que escreveu essa sentença falando dos cariocas? Canadenses evitam dizer “não”. Se você não insiste, fica achando que eles concordaram. Sério. Passei por alguns enganos por conta disso. E é cultural. Parece que dizer “não” não é educado, logo você precisa escolher muito bem as palavras para descobrir o que precisa saber, sem fazê-los se sentirem desconfortáveis com a sua pergunta. É uma arte. Eu ficava muito cansada tomando tanto cuidado, confesso. Não sou uma pessoa tão hábil com as palavras. Além disso, tenho 50% de audição, o que me dificultava em muito a comunicação.

    Entendo que você não goste de muita coisa no Rio e no Brasil, eu também não gosto de algumas coisas. Mas me fere ver pessoas falando apenas coisas ruins do Brasil (refiro-me ao post original), pois também vejo muitas coisas boas, e foi isso o que fiz, quando falei do meu país. Não se trata de apelo emocional, mas de visões distintas de uma mesma cultura. Seus referenciais determinam o que você consegue enxergar. Ampliei bastante a minha zona de conforto nos últimos 20 anos para saber respeitar as diferenças.

    E não acho que as pessoas devam se fixar a um lugar eternamente. Creio que quando não estamos satisfeitos e não vemos alternativa melhor, devemos ir embora, seja da cidade, do estado ou do país onde nascemos ou apenas vivemos. Eu fiz isso. Três vezes. Devido ao meu jeito de ser, acabei voltando. Tenho amigos que jamais voltarão. E eu os apoio. O planeta Terra é a nossa casa.

    Sim, você acertou. Marido alemão, pais judeus (meu sobrenome do meio foi omitido). Tanto a parte alemã quanto a judaica são bem diretas em suas observações. Aprendi a apreciar essas características cedo. Particularmente, preciso me sentir bem-vinda ao falar o que penso e preciso de pessoas questionadoras ao meu redor. O brasileiro, em especial, me faz sentir bem-vinda em minhas opiniões. Alguns discordam, outros concordam, mas ninguém se sente mal por eu me expressar. E se houver algum mal-estar, sempre resta o humor. Adoro essa parte. Sinto muita liberdade de expressão por aqui. Mais do que em quase todos os países por onde passei. Bacana isso. Também amo me expressar na minha língua. Talvez seja uma limitação minha, assumo.

    Nem consigo imaginar o que um Canadense diria para você, ao ler o seu texto, acima, com a sua eloquência. Provavelmente, nada,. Viraria as costas. Não se fala dessa forma por lá. Não se fazem críticas públicas contundentes assim. Difícil, não é mesmo?

    Como você, eu tenho o poder escolher com quem conviver e de quem me afastar. Assim como no Canadá, aqui no Brasil tenho o privilégio de conviver com pessoas cultas e educadas, das mais diversas formações. A diferença é que essas, frequentemente, expõem as suas opiniões, debatem as minhas, e falam o que pensam. Já aquelas, embora queridíssimas (sinto falta de muitas), são demasiadamente reservadas e contidas para uma pessoa expansiva como eu.

    Por fim, minhas réplicas não têm nada de “estrangeiros piores x brasileiros melhores”. Ao contrário, só tenho elogios a fazer ao Canadá e meus motivos – totalmente pessoais e não generalizados em momento algum – foram classificados por você, de forma infeliz, de apelo emocional. Soou pejorativo e grosseiro. Talvez, em outro contexto não soasse, mas foi o que aconteceu.

    Por favor, leia todos os posts aos quais respondi ou comentei, releia os meus comentários com olhar isento e perceba que você desdenhou dos meus motivos pessoais (não tenho problema quanto a isso) e me associa a uma visão cultural degradante do resto do mundo e de seus habitantes (disso eu não gostei nada). Mesmo porque, eu só falei de Brasil e Canadá. E fui criticada não por falar mal do canadense, mas por falar bem do brasileiro. Que coisa! Talvez o parágrafo inteiro não tenha sido direcionado a mim, mas pareceu. E ele, profissionalmente, me prejudica e, pessoalmente, me ofende.

    Espero que você seja mais cuidadoso em suas críticas, no futuro, pois inteligência e eloquência não te faltam.

    E parabéns por resistir e permanecer no Brasil (até agora). Eu realmente acredito que estamos num bom caminho. Apesar do que todos dizem, tenho esperança.

    Tudo de bom pra você,
    Sinceramente,
    Lila Kuhlmann

  35. Diogo disse:

    Moro em Manhattan, e com certeza essa não e a cidade mais fácil de se viver no mundo. tenho formacao em odontologia e estou reiniciando minha carreira aqui na area de gerenciamento. Estou MUITO confuso em voltar para o Rio ou continuar nessa loucura aqui. no Rio, morar na zona sul parece ser o best bet, porem olhando no news do google aparecem tantos assaltos e arrombamentos em prédios residenciais que me deixam muito estressado em ter minha decisao mais esclarecida. voltando para o brasil eu teria de me atualizar na minha area, indo a PUC na gávea… como não dirijo , teria de usar transporte publico para tudo… sempre que vou ao rio , tudo parece normal, porem , todas as pessoas me poem tanto medo em relação a assaltos em transporte publico, ou em andar pelas ruas que isso me desencoraja demais ! Aqui em nyc nunca aconteceu nada comigo independente da hora e eu não vejo uma pessoa se quer comentando sobre assalto ou tiroteio, no rio, sempre tem esse assunto rolando nas conversas… estou aqui ha 4 anos… e não sei se estou preparado para voltar devido esse estresse mental sobre o que poderia acontecer comigo no Rio em termos de violencia ou nao.

  36. Dani disse:

    Quanto ódio direcionado ao meu país, eu amo o Brasil, apesar de todos os seus problemas, é aqui que eu nasci, nunca serei uma estrangeira aqui, ah vocês que ficam comparado a educação do povo brasileiro com a do europeu/estadunidense, eu só digo uma coisa, não é o país que define sua educação, e sim a educação que você recebe em casa, eu fui ensinada a não jogar lixo na rua, a respeitar os idosos, eu e meus irmão não era habituados a fazerem birras em locais públicos, meus pais eram bem criativos em elaborar castigos, raramente a gente apanhava, quando nós iam pra casa de parentes e amigos, eles ficavam abismados por fato de sermos crianças e ficarmos comportados, hoje com 21 anos ainda mantenho esses valores, com certeza a maioria (não todos ) que ficam falando mal do Brasil, não gosta de discutir política, não lembra o nome do último deputado que votou, não cobra as promessas que os candidatos fazem no período eleitoral, adora furar fila, ultrapassa o sinal vermelho, não cede lugar aos idosos, é adepto do “jeitinho brasileiro” precisamos ser mais patriotas, amar mais o nosso país, só o amor é capaz de mudar esse cenário tão caótico do nosso país.

  37. Marcello disse:

    Muito interessante os varios pontos de vista, mas a maxima é o tal dizer ingles ‘home is where the heart is’.
    Enfim morei quase 1 década em Paris e agora estou em Montréal. E me sinto bem – foram escolhas concientes.

    Sai do Brasil por uma questao de valores pessoais e tambem devido ao meu saco cheio com o caminho da ‘brasilidade’ e fui viver fora. Sai da sua zona de conforto, e em alguns momentos ate me arrependi mas depois realisei que tudo vale muito a pena.

    Visito o Brasil pois tenho raizes la – e nunca vou nega-las.

    Respeito o Brasil que deixei e faço referencia à ele. O de hoje nao é mais o pais que vivi, o visito, revejo algumas amigos e familiares, mas nao é o meu lugar mais (o meu ficou no passado). Hoje torço para que o pais encontre seu eixo e que a populacao encontre o real valor da cidadania e respeito (coisas muito valorizadas nos paises que vivi e vivo) e que os colocam décadas e décadas de avanço em relaçao ao Brasil …infelizmente.

    Enfim, acho ‘ufanismo’ péssimo – pois torpe a visao pro caminho da evolucao de uma sociedade. Ademais, visitar uma cidade nao da nenhuma dimensao do que é morar num pais e todos os procedimentos e sentimentos que vao juntos, logo certos comentarios sao irrelevantes.

    Abracos,
    Marcello

  38. ficaAi disse:

    fica onde vc ta seu troxa , se não vem pra somer e ajudar a resolver as coisas, então que nem volte seu bosta

  39. Renilde disse:

    Olà pessoal, que debate héim?!
    Li a opiniao de voces, e também tenho uma palavrinha a dizer:
    O grande problema de quem sai do Brasil, acredito ser a eterna duvida; voltar ou nao voltar?
    Por vezes, queremos colo de mae, risadas entre amigos, calor humano mesmo, pois a vida longe dos seus, em terrenos dos outros, nao nos permite esses mimos.
    Por vezes, pensamos na seguçança de andar de noite nas ruas sem sentir medo, no conforto e organizaçao dos transportes publicos, dos hospitais (hotéis 5 estrelas) , do dia a dia onde as coisas funcionam.
    E ai, vem a tristeza, revolta até: porque nao podemos ter isso tudo na nossa terra?
    Por que precisamos procurar isso em terras alheias, vivendo uma cultura que nao é nossa, costumes tao dificeis de aprender?
    Jà me revoltei inumeras veze, moro na Suiça desde 2002, e apesar de ter “me adaptado” como dizem, sempre bate aquela duvida: volto ou nao volto?
    E acho que ninguém, nem estatistica nenhuma, nada conseguirà nos dar a certeza de que é melhor aqui ou melhor acolà. Tudo depende dos nossos desejos, sonhos, vontades. Do que tem mais importancia naquele momento, do que nos fala mais alto. Cada caso é um caso, cada pessoa , uma pessoa.
    Nao dà pra ficar criticando cada frase cada opiniao, mais importante do que ter razao, é ter abertura para ouvir o que o outro tem a dizer.
    Eu queria muito ouvir a opiniao sincera de quem voltou, depois de ter vivido tantos anos fora, de quem casou com um estrangeiro, que trouxe os filhos, que trabalhou, teve inumeros momentos de tristeza, e que jamais parou de pensar no que perdeu. Sim, pois a gente quando emigra, ganha muitas coisas, mas também perdemos. E quem veio sabe do que eu falo.
    Ainda nao bati o martelo, as duvidas pipocam na cabeça. Quem sabe alguém por ai consegue me dar uma direçao? Agradeço. Abraços.

    • Lila Kuhlmann disse:

      Olá, Renilde, muito lúcido o seu comentário. Você está bem consciente.

      Voltei de Toronto há dois anos e meio, por escolha própria e deixarei a minha experiência para você refletir. Primeiro falarei da MINHA percepção sobre o canadense, dos meus motivos e, por fim, do que sinto hoje para que o fechamento faça sentido. Importante ler o texto considerando que minhas decisões foram motivadas dentro do meu contexto social e valores pessoais:

      Na minha percepção, o canadense é um povo extremamente gentil, amistoso e generoso, recebe o imigrante com carinho (há motivos políticos e históricos que geraram esse comportamento, mas não estão em questão aqui), mas guarda a sua intimidade para dentro da sua casa. Conheço inúmeras pessoas que adorariam viver em um lugar com tanta privacidade. Não é o meu caso. Embora eu ame o Canadá e admire a cultura do povo canadense, senti falta da intimidade que o brasileiro se dá. Gosto de abraços, de beijos, de dividir minhas alegrias e dores com os meus amigos, gosto de saber as deles e preciso de conexão humana pra ser feliz. É algo pessoal.

      Outra característica marcante que percebi é o cuidado que é necessário tomar para falar com os canadenses, ao menos, na parte anglofônica. Eles são adeptos do reforço positivo, nunca falam algo negativo sem acrescentar algo de bom, tomam muito cuidado na escolha das palavras, evitam confrontos e não costumam dizer “não” diretamente. Você precisa perceber a esquiva. Por consequência, é mais fácil ofendê-los se não adotarmos o mesmo “modus operandi” de comunicação. Embora eu seja uma pessoa carinhosa e gentil, também sou uma pessoa objetiva e direta. O meu modo natural de me comunicar não é bem quisto por lá, eu sabia disso e era muito cansativo ficar me policiando. Eu poderia não “dar bola” e manter o meu comportamento do Brasil, mas sou do tipo que gosta de agradar e quer ser aceita. Preciso me sentir parte do lugar e da cultura local. Esse foi um esforço gigantesco que precisei fazer para me adaptar.

      Além da falta de intimidade (resumidamente) e dos cuidados na comunicação, há mais dois pontos exclusivamente pessoais que nos fizeram voltar:

      Financeiro: Nós éramos expatriados. Para ficarmos, precisaríamos pegar a residência permanente, o salário cairia muito e eu tinha dois filhos na porta da universidade e outro pequeno. Acabaríamos com as nossas economias pagando o curso superior deles e viveríamos muito no limite, poupando para o futuro do terceiro filho. Nos preocupávamos em ficar sem nenhuma reserva para emergências (o sistema de saúde de lá não é muito bom se comparado ao privado do Brasil).

      Saúde: eu tenho uma deficiência neurológica que afeta a audição. Embora fluente em inglês, sentia-me exausta após passar três horas conversando. Além disso, meu filho mais novo, com quase 7 anos, não conseguia aprender a ler e escrever. Os médico diziam que ainda estava dentro da normalidade, para aguardar mais um ou dois anos para fazer qualquer avaliação, padrão local. Eu estava muito estressada com isso, pois nem sílabas ele lia.

      Após quase três anos de Canadá voltamos para o Brasil. A decisão foi minha e do meu marido, mas conversada com os filhos mais velhos.O ponto que mais pesou foi o financeiro, mas confesso que dentro de mim, o que mais pesava era a solidão entre amigos. Logo que chegamos, eu estava muito confusa, sem ter certeza de que tinha feito o certo. Fomos muito criticados. Encheu a minha paciência ver as pessoas julgando as nossas escolhas sem terem vivido o que cada um de nós viveu com as nossas bagagens individuais.

      Logo de início, minha filha ficou feliz por voltarmos, ela também sentia falta da intimidade. Meu filho do meio ficou muito triste, mas entendeu os riscos de permanecermos. O pequeno ficou feliz por voltar para perto dos primos e da avó, não entendia bem o que estava acontecendo.

      No Brasil, eu voltei a me soltar e passei a ser uma pessoa muito melhor para a minha família, pois tomei consciência do quanto preciso do contato humano e passei a perceber as necessidades do outro de uma forma mais compreensiva. Profissionalmente, abri uma uma consultoria onde preparo as pessoas para irem para o Canadá, via estudo, trabalho ou imigração, e escrevi o livro “Let’s Go! Imigrando para o Canadá”, recém-lançado. Meu sócio está indo abrir uma filial em Toronto. Amo o que faço, pois posso dar uma visão realista para as pessoas que vêem “o jardim do vizinho mais verde” e contribuo para uma transição suave dando parâmetros econômicos.

      Minha filha prestou vestibular e está no segundo ano de estudo, na USP. Ama a vida que leva, tem muitos amigos, faz trabalho voluntário com jovens carentes (influência canadense) e começará a estagiar em breve. Nunca a vi tão feliz.

      Meu filho do meio, que não queria voltar para o Brasil, poderia ir cursar universidade no Canadá ou na Alemanha no ano que vem, mas escolheu ficar, para nossa surpresa. Vai tentar engenharia por aqui. Ele está feliz, tem muitos amigos, namorada e acha que as perdas da volta foram menores do que ele imaginava, se comparadas aos ganhos.

      Não sei como será o mercado de trabalho para eles, mas afirmo que ambos têm um diferencial emocional incrível em relação aos seus amigos. A experiência internacional deu-lhes uma perspectiva diferente da vida, dos limites do próximo, da necessidade do comprometimento com metas e das suas possibilidades. Tenho certeza de que serão profissionais bem sucedidos em qualquer lugar que escolherem e acredito que sairão na frente em processos de seleção de candidatos aqui no Brasil.

      Dou graças por termos retornado, pois, logo que chegamos, meu caçula foi diagnosticado com o mesmo problema neurológico que possuo, e vem sendo tratado adequadamente, pois a saúde privada é bem melhor no Brasil Ele já foi alfabetizado e vai muito bem na escola. Não sei como estaria a autoestima dele, no Canadá, hoje, se continuasse sem conseguir aprender. Creia-me, disso eu entendo bem.

      Quanto ao meu marido, logo que chegou, foi promovido. Ter uma experiência profissional internacional foi um trampolim para a carreira dele. Hoje, ele ocupa um excelente cargo em uma multinacional, alvo muito distante do que estaria em Toronto. Além disso, diz que está muito mais feliz com o meu “eu” pós-Canadá.

      Hoje, somos uma família de classe média que vive confortavelmente e sem luxos, mas com maior tranquilidade financeira do que viveríamos no Canadá. Tenho ciência de que estamos em um país corrupto, cuja violência está presente, mas mas pelo menos eu parei de viver pela metade. Aqui eu vivo na plenitude das minha possibilidades, com mais conforto para conversar, para ter relações afetivas com outras pessoas que me fazem bem e faço um trabalho comunitário que parece trazer mais bem a mim do que às pessoas a quem ajudo, pois me realiza. No Canadá, o meu trabalho voluntário não me dava 1/100 da utilidade que sinto hoje.

      Minha filha foi assaltada há um mês. Levaram o celular que ela havia comprado com as economias que fez no Canadá. Poderia ter sido pior, mas foi só um telefone. Então, nós cinco nos sentamos à mesa e fizemos uma conferência familiar sobre os prós e contras de termos voltado. TODOS concluímos que, PARA A NOSSA FAMÍLIA, foi melhor termos voltado, até mesmo o meu filho que queria ter ficado por lá. Concordamos que estávamos todos mudados, voltamos pessoas melhores para quem convive conosco.

      Não reclamamos da parte negativa das nossas escolhas porque foi exatamente isso: nós escolhemos. Meu marido e eu escolhemos a certeza de conseguir dar uma boa educação para os nossos filhos sem a incerteza do futuro que teríamos no Canadá, inclusive aposentadoria. Além disso, da minha parte, dispensei viver em uma sociedade segura, organizada, justa e educada porque ter tudo isso, mas não ser capaz de estabelecer conexões humanas mais profundas e não conseguir ser eu mesma oprimia as minhas forças-motrizes: a minha espontaneidade e a gratidão por estar viva. É isso o que a minha família ama em mim, o que faz com que o meu marido me admire, que nos movimenta.

      Agora, nós estamos exatamente onde queríamos estar. Sem essa experiência canadense, talvez reclamássemos de tudo, como muitos brasileiros fazem e como eu fazia antes, mas, ao contrário, de alguma forma todos nós nos tornamos mais bem humorados e tolerantes. Eu e meu marido entendemos e aceitamos os riscos e espero continuar sem arrependimentos.

      O Canadá nos ensinou solidariedade e inclusão, nos mostrou como praticar o respeito ao próximo, a sermos mais tolerantes e flexíveis, a entender que todos somos diferentes e isso é bom, pois nos completamos. Principalmente, ensinou que todos devemos trabalhar diariamente para reduzir as desigualdades sociais, a fazer o certo porque é certo, mesmo que dê trabalho. Não é porque voltamos que deixamos de praticar isso. Ao contrário, procuramos da forma mais gentil possível agir de acordo com o que aprendemos adaptando as atitudes à realidade brasileira, dando um bom exemplo. Nós voltamos para casa, mas a cultura canadense ficou impregnada em nós.

      Às vezes penso que toda família deveria poder passar uma temporada por lá, viver a inclusão, a solidariedade e a cidadania, depois voltar para o Brasil e trabalhar, nem que seja 1 h por semana, para ajudar a reduzir as desigualdades sociais em algum projeto próximo da sua casa ou trabalho, dar o bom exemplo no dia-a-dia, fazer melhor. Imagine se cada um de nós doasse um pouquinho do seu tempo semanalmente, quanta coisa poderia ser mudada? Devaneios, devaneios, sou assim.

      Bem, Renilde, como eu disse no início do meu “testamento”, dentro do nosso contexto social e valores, na nossa avaliação, a decisão foi acertada. Não sei o quanto vai ajudá-la na sua reflexão, mas espero que colabore um pouquinho. Se quiser me fazer alguma pergunta, fique à vontade. Te desejo boa sorte e que você fique de bem com a sua escolha, seja ela qual for. Felicidades!

      Aos demais leitores, se houver algum, e se quiserem comentar, por favor, sejam educados, guardem as suas críticas à minha vida ou às minhas escolhas para si, pois elas não estão em discussão aqui. Façam comentários construtivos que não me ofendam e nem à minha família ou, antes, perguntem, sou uma pessoa aberta, mas não quero ter de ler o festival de ofensas gratuitas e generalizadas escritas em alguns dos parágrafos anteriores. Saúde a todos!

      Lila Kuhlmann

  40. Gisele disse:

    Eu estou perdida! Percebo aqui na França que a maioria das pessoas que não querem voltar ao Brasil tinha uma vida dificil e se empolga com tudo aqui. Quando se vive bem no Brasil, morar aqui não significa nada. So nostalgia! Sinto falta de tudo no Brasil. Sou carioca mas me mudei para uma cidade pequena do RJ. Segurança, tranquilidade, qualidade de vida (Se você tem condições de arcar com ela), visitava o Rio, minha cidade que amo, frequentemente, mas não queria morar la… porém ela estava ali ha apenas 2 horas de carro. Podia fazer minhas trilhas, ir a praia, ver minha familia e amigos. No Brasil, abandonei meu trabalho como quimica e me encontrei como wedding planner. Amava o que fazia! Quero voltar a trabalhar como wedding planner, o que aqui não vai bem.

    Não gosto desse pais, não gosto da mentalidade das pessoas, não gosto das relações em geral. Amo meu marido (francês) e tenho 3 filhos (brasileiros) estudando aqui. Vivo realmente a realidade de pessoas que se integram, sei bem do que estou falando. Bobagem ficar exaltando as qualidades daqui (da França). Não é tudo o que muitos dizem!

    Meu marido é médico e vivemos uma vida otima, classe alta para padrões franceses, mas nada paga e apaga o meu desejo de voltar para a minha terra, o que se tornou quase um sonho. Temos planos de ir embora! Meu marido esta aos poucos aprendendo português… Enquanto nao estamos preparados, vou sonhando, planejando, mas um dia eu volto, e o mais rapido possivel, se Deus quiser!

    • Mais um tempinho se foi e eu passei por uma grande provação no ano de 2015. Os médicos diagnosticaram um tumor benigno do lado direito entre meu cérebro e meu ouvido, que estava me causando vários problemas. Inclusive fiquei surdo deste ouvido mesmo depois da cirurgia. E que cirurgia! Mais de 10 horas para completar a operação, 1 semana de hospital, 2 mais pra conseguir caminhar e paralisia facial dos dois lados por uma semana cada.

      E sabem o que isso me custou?? NADA além do que eu já pago de imposto. Sim, o sistema de saúde do Canadá, ou melhor, das províncias do Canadá, é publico e serve os ricos e pobres do mesmo jeito. Se eu tinha alguma dúvida se aqui era o meu lugar (eu não tinha), esse episódio teria tirado qualquer dúvida. Existem problemas com o sístema da saúde, lógico. São muitas pessoas e precisam de mais médicos e mais enfermeiros, mas numa emergência como a minha, desde o diagnostico até a operação. foram 4 meses. Três deles porque EU mesmo pedi para esperar.

      E vejo muito esse estereótipo do “Canadense”. O canadense descrito nos estereótipos e de uma cultura que já não é a maioria absoluta. São descendentes de ingleses, alemães e outros países nórdicos. Os decendentes de franceses (em Quebec) já se comportam de outra maneira. Os decendentes de países latinos (Itália, Portugal, Espanha e da América Latina) também. Ainda temos os caribenhos, os africanos, os muçulmanos, os chineses, os sul-asiáticos, os europeus orientais, e os nativos que ja estavam aqui.. Generalizar é muito difícil.

      Um corportamento “canadense” típico, assim como uma comida “canadense”, é uma coisa frágil de decidir. Depende do “background” das pessoas. Eu por exemplo tenho me alimentado com bastante saladas, frutas, e carnes magras. E incluo feijão preto e arroz integral de vez enquando. A comida quem faz é a pessoa, não o país. O comportamento também.

      Sim, o que a Lila Kuhlmann disse é verdade. O jeito de sempre colocar uma crítica entre dois elogios é comum, mas não universal. Já namorei, estudei e trabalhei com gente bem diferente disso. Mas o trabalho é uma coisa e a vida é outra.

      E tenho que dizer de novo. O normal aqui é não se normal. Existem aquela pessoas padronizadas que vivem do mesmo jeito, falam e assistem as mesmas coisas, se vestem com as mesmas marcas, etc, mas elas não são a maioria absoluta. E eu não sou assim e me sinto integrado do mesmo jeito. Até porque eu conheci mais gente fora da curva do que dentro. Haha.

      Continuem o bom debate.

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