Neste domingo, 16 de agosto, centenas de milhares de brasileiros[1] foram às ruas de mais de duzentas cidades no Brasil e no mundo para protestar.
No topo da pauta, o pedido de impeachment (ou renúncia) da presidente da república, Dilma Rousseff e a averiguação do envolvimento do ex-presidente Lula em desvios de dinheiro público e corrupção.
No entanto, alguns fatos marcaram essa demonstração democrática. Por um lado, extremistas de direita feriram a constituição ao pedir uma intervenção militar, enquanto outros carregavam cartazes com um discurso de ódio à Dilma. Felizmente, é uma minoria.
Por outro, os protestos tiveram cara de festa. Com sol e calor em boa parte do país, um alienígena recém-chegado poderia pensar que estávamos no carnaval ou na Copa do Mundo.

Avenida Paulista, em SP, completamente tomada por manifestantes (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
Amigos se reuniam para selfies, manifestantes fantasiados chamavam a atenção de cima de trios elétricos… O ápice foi a coreografia, criada e executada em Fortaleza.
Foi o necessário para que as viúvas de um governo natimorto abusassem da ironia nas redes sociais, ridicularizando os protestantes. Tudo virou motivo para o deboche, inclusive um manual de boa conduta no protesto. Não foram poucos os meus amigos que compartilharam coisas do tipo, e eu fui gratuitamente ofendido em um grupo de facebook por perguntar a respeito dos protestos.

Em Brasília, boneco inflável do ex-presidente Lula chamou a atenção durante o protesto (Foto: Evaristo Sa/AFP)
Essas pessoas são as mesmas que costumam posar de defensores das minorias, do alto de seus falsos-tronos morais, e isso que mais me enoja. Porque essas pessoas não entendem ou respeitam o Brasil e sua cultura.
O brasileiro comum não ouve Chico e lê Hegel: brasileiro ouve axé, funk, pagode, tecnobrega e lê a coluna de esportes do jornal dominical.
Ao coreografar “Fora Dilma, Fora Lula, Fora PT”, o brasileiro tornou o protesto mais brasileiro do que nunca. Brasileiro é festivo, é sorridente. E dançando também se protesta.
Enquanto o presidente da CUT, Vagner Freitas, conclama seus seguidores a “ir às ruas, entrincheirados, de armas na mão” para defender o governo a qualquer custo, o brasileiro protesta com pau de selfie e coreografia.
Ao se vitimizar, ironizar e dividir o país entre “nós vs. eles”, “ricos vs. pobres”, os governistas apenas inflamam extremistas e incentivam a violência e a intolerância.
Sinceramente, pode me chamar de coxinha. Eu prefiro me misturar a esta gente.
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[1] De acordo com a policia militar, 879 mil pessoas se juntaram aos protestos em 205 cidades em 16/ago. De acordo com os manifestantes, eram aproximadamente 2 milhões.