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Acelera, Brasil! Prévia de PIB de janeiro mostra crescimento de 1,3% em apenas um mês

Os sonhos mais profundos do governo parecem estar se tornando realidade. E assim, ajudam a encaminhar a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Segundo a prévia do PIB divulgada nesta sexta-feira pelo Banco Central do Brasil, a economia apresentou um crescimento de 1,29% em relação a dezembro (na série sem os efeitos sazonais) e de 2,73% em relação a jan/2012.

O Brasil não está morto! PIB volta a acelerar, segundo prévia do Banco Central

Este resultado é interessante, visto que em nenhum momento o IBC-Br superou a marca de 1% em um único mês ao longo de 2012. O melhor resultado daquele ano foi o de junho, com crescimento de 0,72%. Em dezembro, o IBC-Br havia registrado queda de 0,45% em relação ao mês anterior.

Não podemos ignorar que janeiro é o principal mês de colheitas no país, e que tivemos forte quebra de safra no ano passado. Ou seja: a agropecuária pode representar boa parte deste crescimento no mês.

É um pequeno sinal, mas que se se mantiver, pode indicar uma retomada do crescimento econômico do país. Aguardemos novas informações. Continuaremos atentos.

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Porque o Brasil não cresce (e não adianta culpar a crise)

Não, não adianta culpar a crise internacional (centrada na Europa).

Enquanto o mundo deve crescer aproximadamente 3,3% neste ano, o Brasil deve crescer menos da metade disso: 1,5%.

Vizinhos como o Chile, o Peru e a Colômbia conseguem crescer mais que o Brasil. Por quê? Porque são mais competitivos.

Para 2013, ainda que os prognósticos sejam um pouco melhores (4% de crescimento, tanto nas previsões do governo quanto do FMI), eles não representam nada mais que uma melhora pontual. O Brasil enfrenta graves problemas de infraestrutura e previsibilidade do ambiente econômico (fundamentais para os investimentos).

Leiam abaixo o texto do colunista Celso Ming, do Estadão, com destaques meus:

Devagar demais

O tempo vai passando e, com ele, a percepção de que nem o tal atraso no câmbio nem os juros altos demais eram o principal problema da economia – como vinham insistindo algumas lideranças dos empresários.

Desde fevereiro, o real foi desvalorizado em cerca de 20% em relação ao dólar e, desde agosto de 2011, os juros básicos (Selic) caíram 4,75 pontos porcentuais. E, no entanto, a produção industrial continua patinando.

Alguns representantes da indústria, como os da Confederação Nacional da Indústria, já parecem ter percebido que o problema não está no câmbio fora do lugar nem nos juros insuportáveis nem na especulação com juros (arbitragem). O único problema realmente decisivo da indústria é sua falta de competitividade, apenas cosmeticamente tratadas por esses expedientes de que lança mão o governo Dilma: redução temporária de impostos, alguma desoneração das folhas de pagamento, subsídios creditícios aos “mais amigos” e, é claro, um dólar um pouco mais caro e os juros alguma coisa reduzidos. Nas atuais condições, a indústria brasileira não tem como enfrentar nem a competição no mercado interno nem no externo.

Não vão longe as propostas que ganharam certa badalação neste ano, como a de arrancar na Organização Mundial do Comércio o reconhecimento de que o câmbio não pode ser usado como arma; e a de aumentar os processos antidumping. O problema principal está aqui dentro e não no jogo desleal (que também existe) da concorrência externa.

Como insistiu desde o fim de 2011 em relação aos resultados do PIB deste ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não perde a oportunidade de proclamar melhor desempenho em 2013. “No ano que vem, o PIB crescerá em torno de 4%…”, repetiu na segunda-feira. Tomara que esteja certo.

Mesmo se o ano de 2013 realmente apresentar atividade econômica melhor do que a pífia deste ano (aproximadamente, avanço de 1,5% do PIB), é improvável que possa ser sustentável.

A indústria nacional investe pouco e não parece interessada em mudar de atitude. E os empresários brasileiros se mantêm na defensiva, por quatro razões:

1) porque temem o impacto da crise externa, que corta encomendas e aumenta a agressividade comercial das empresas estrangeiras no mercado brasileiro;

2) porque não veem nenhum grande progresso na derrubada do alto custo Brasil;

3) por sentirem que o governo interfere demais na economia e sempre remexe nas regras do jogo, com prejuízo da previsibilidade;

4) porque não veem disposição do governo em tocar as reformas – principalmente a tributária, a previdenciária, a judiciária e a das antiquadas leis trabalhistas.

O discurso oficial é que as coisas estão melhorando e que, se algo atrapalha, é a crise externa. O que os críticos identificam como desarrumação crescente da economia e desmonte no tripé original, para o governo, é somente “política anticíclica”. Alterações estruturais profundas ocorrem na economia – insiste o governo Dilma – e os resultados não tardarão a vir, “de forma não linear” – como preferem dizer os documentos do Banco Central.

Só que os analistas já começaram a derrubar as projeções de crescimento econômico também em 2013…

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Qual o futuro da economia mundial?

O mundo não acaba em 2012. E dificilmente a economia global entrará em recessão.

A pergunta de um trilhão de dólares (ou um bilião, em Portugal… quer entender? Clique aqui) é aquela que todos os economistas com rabo preso morrem de medo de responder. Como eu estou desempregado no momento e não respondo por nenhuma instituição (ou seja, meu palpite não vale um centavo), não tenho com o que me preocupar.

Alguns economistas esperam o pior, como mostrou a Exame:

Apesar dos sutis sinais de recuperação da economia americana no início do ano, como a melhoria nos índices de desemprego, para Lakshman Achuthan, CEO do Economic Cycle Research Institute, este não será um bom ano para os Estados Unidos. Analisando previsões para os indicadores de produção, emprego, renda e vendas, o instituto concluiu que o “crescimento econômico dos Estados Unidos está, na verdade, piorando e não se revitalizando”.

Para Albert Edwards, estrategista da Societe Generale (SocGen), não só a economia americana vai escorregar de novo para a recessão, como a bolha de crédito na China vai estourar e a zona do euro vai desmoronar.  “Se você acha que as coisas estão ruins agora, elas estão prestes a ficar piores”, disse ele, em entrevista ao The Globe and Mail.

Para Bill Gross, o megainvestidor fundador da Pimco, o problema na Europa é apenas um tumor localizado, mas o “câncer no crédito pode estar em metástase”. Em sua coluna no Financial Times, ele disse que o sistema monetário global é “fatalmente falho”, com rendimentos cada vez menores e mais arriscados, produzidos por crises de dívida e as respostas políticas a ela.

Para Peter Schiff, CEO da Euro Pacific Capital, o pior da crise ainda está por vir. Ele defende que a economia americana não está melhorando, mas sim ficando mais “doente” e que verdadeira crise não está no passado e sim no futuro. Para o analista, ao tentar evitar a “dor” da cura, os Estados Unidos só adiaram o sofrimento, que será ainda maior.

Para Marc Farber, investidor e autor da newsletter Gloom Boom & Doom Report, pode haver uma recessão global já no quarto trimestre deste ano ou no início do próximo. Para o investidor, há “100% de chance” que isso aconteça. Em entrevista à CNBC.com, ele destacou que, enquanto o mundo se preocupa apenas com a Grécia e com a Europa, há sinais preocupantes de que a atividade econômica na China e na Índia está diminuindo.

Pouco a pouco, vão sumindo as vozes que acreditam que a economia mundial está melhorando. Curioso que, em 2009, muitos achavam que a crise já havia ficado para trás, enquanto qualquer análise mais atenta apontaria os graves problemas que as políticas monetárias expansionistas (ou seja: encher o mercado de dinheiro para aumentar a liquidez dos mercados e fazer a economia girar novamente) teriam consequências graves.

Como os mercados financeiros são cheios de profecias auto-realizáveis, se os rumores de que a economia mundial deve ir novamente para o buraco, provavelmente ela irá. Mas não acredito que este seja o cenário mais provável.

Os principais líderes mundiais têm tentado controlar a crise do jeito que podem, mas sem realizar reformas substanciais. Ou seja, o cerne do problema não tem sido atacado como deveria. Apenas se tem maquiado o problema, através de medidas pontuais (geralmente envolvendo injeções monetárias aqui ou ali). Há três lugares de que não se pode tirar os olhos, se quisermos saber se a crise vai estourar (como em 15 de setembro de 2008):

– – – Europa: sem dúvida, o mais importante. Mesmo que a Grécia saia do Euro (cenário para que dou probabilidade de 40% atualmente), não é garantido que a crise se agravará substancialmente. Se isto acontecer, a volatilidade aumentará e os investidores virarão rapidamente seus olhos para a Espanha e seus bancos endividados. E como lemos aqui no Economistinha na semana passada, a situação da Espanha é de difícil resolução. Homer (Hollande e Merkel) teriam que abrir a mão e fornecer muito dinheiro tentando equilibrar as contas dos bancos (através do governo) da Espanha, e provavelmente a Europa se tornaria mais unida (diminuindo a independência dos governos nacionais). Provável? Não.

Mas mesmo este cenário é pouco provável. É mais credível que Angela Merkel cederá e mandará mais dinheiro para a Grécia, mesmo não sendo um país muito organizado. A Europa seguiria como está, empurrando o problema com a barriga e ganhando tempo… seriam anos de crescimento baixíssimo. Um Japão na década de 1990 no maior bloco econômico global.

– – EUA: o crescimento econômico americano tem surpreendido nos indicadores mais recentes, mas isto é uma ilusão temporária. Os fundamentos mostram que o desemprego continua alto, o endividamento das famílias ainda é preocupante e a chance de retomada rápida do consumo é baixa. Portanto, os mercados estão se animando sobre sinais pouco confiáveis. Se houver uma reversão rápida e sistemática nos indicadores, os analistas podem mudar de lado na mesma velocidade, elevando o temor de recessão e contraindo o crédito em todo o planeta. A economia mundial poderia ver 2008, all over again.

+ China: é o terceiro ponto que precisa se ter em atenção, mas pelo sentido contrário. Enquanto Europa e Estados Unidos podem se tornar vértices negativos na economia global, a China pode contribuir positivamente. Como os economistas do Bradesco pontuaram em seu Boletim Diário Matinal de hoje:

As especulações são crescentes de que a China lançará um novo pacote de estímulos, que poderia chegar a 2 trilhões de yuans, conforme vinculado na imprensa internacional. É fato que o governo chinês, após a frustração com o desempenho de sua economia em abril, mudou o tom da política econômica, ressaltando as medidas favoráveis ao crescimento. A partir de então lançou estímulos para compra de eletrodomésticos e anunciou incentivos para o setor automotivo; além disso, esperamos redução de impostos e ampliação das facilidades para os investimentos privados. Ainda assim, acreditamos que a elevação dos gastos fiscais voltados às obras de infraestrutura será o motor para evitar uma desaceleração mais forte da economia do país, sendo que a política monetária seguirá aliviando de forma gradual.

Estes são os principais pontos a se ter em atenção.

Não, a economia mundial não vai melhorar muito nos próximos meses. Mas dificilmente irá piorar muito.

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