A política brasileira tem seus momentos de glória, com a criação de leis e dispositivos que contribuem para o desenvolvimento da nação e da proteção dos direitos de todos. Direitos estes que deviam ser prioridade número 1 da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados do Brasil, mas que provavelmente deverão ser deixados de lado após a eleição de um inimigo das minorias neste dia 7 de março.
Dia que ficará marcado como um dia de vergonha nacional.

Dep. Marco Feliciano, novo presidente da “Comissão de Direitos Humanos” da Câmara.
Do G1:
Ainda sob protestos e a portas fechadas, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados elegeu, na manhã desta quinta-feira (7), o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir o colegiado. (…)
Pastor da igreja Assembleia de Deus, o deputado causou polêmica em 2011, quando publicou declarações polêmicas em seu Twitter sobre africanos e homossexuais. “Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome… Etc”, escreveu o deputado na ocasião. Ele também havia publicado na rede social que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à rejeição”.
Esta escolha já vinha gerando grande repercussão nas redes sociais online, levando ao início de uma petição pelo afastamento de Feliciano da comissão, que pode ser acessada e assinada através deste link.
Se suas declarações extremamente preconceituosas já não fossem o bastante, Feliciano ainda responde a um inqúerito no STF, que o acusa do crime de homofobia e uma ação penal na qual é apontado por estelionato.
Num dos primeiros posts desse blog, há já quase um ano, posicionei-me sobre a mistura de religião e política. Leia através deste link.
O dep. Jean Willis (PSOL-RJ), fiel defensor dos direitos das minorias, já se manifestou quanto ao tema:
“Graças ao jogo de interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo que o pastor e deputado Marco Feliciano presidirá a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Esse fato não é escandaloso –e eu não me oponho a ele– pelo simples fato de ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição.
Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos.
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que disse que o problema da África negra é “espiritual” porque “os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé”, revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia, que já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros?
Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que se referiu à Aids como “o câncer gay”? Um deputado que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de Psicologia a aceitar supostas “terapias de reversão da homossexualidade” anticientíficas e baseadas em preconceitos.
Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas) decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as uniões homoafetivas como entidades familiares.
Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve proteger.
Eu me formei num cristianismo que acolhe os diferentes, respeitando sua dignidade. Eu me apaixonei na juventude por esse cristianismo que deu origem à Teologia da Libertação, que participou da luta contra a ditadura e que nos deu grandes referências.
O PSC, lamentavelmente, não tem nada a ver com isso. E Marco Feliciano menos ainda! Que ele seja o novo presidente da comissão é uma contradição: é como colocar à frente das políticas contra a violência de gênero um cara que bate na mulher.
É isso que milhares de brasileiras e brasileiros estão sentido nesse momento: que a Câmara bateu neles. Em nós –confesso que eu também senti. Às vezes, me pergunto o que estou fazendo aqui. Mas depois vejo a mobilização de milhares de pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!
Vale a pena assistir o emocionado discurso de despedida do agora ex-presidente desta mesma comissão, que renunciou após a confirmação do resultado: