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Sobre tomates, sazonalidade e a inflação em geral

A forte elevação do preço do tomate nos últimos meses gerou burburinho nas redes sociais e nos noticiários brasileiros. Diversas charges e imagens com o produto viralizaram, e até mesmo a apresentadora Ana Maria Braga comprou a briga por preços mais acessíveis para o tomate.

Mas o que foi que eu fiz?

O tomate é uma das frutas (sim, tomate é uma fruta) preferidas do brasileiro. Dificilmente você verá uma salada sem este alimento rico em licopeno. E exatamente por isso a alta no preço fez tanto barulho.

tomate_sedDe acordo com o Ceagesp, entre março e julho temos um período de fraca sazonalidade para a produção do tomate. Ou seja, a oferta cai (se quiser saber mais sobre a sazonalidade do tomate, acesse este trabalho de conclusão de curso sobre o tema).

Como o tomate é um bem com demanda bastante inelástica, a redução na oferta repercute rapidamente em elevação nos preços. Não entendeu? Calma, eu explico.

Bens com demanda inelástica são aqueles que, mesmo com a elevação nos preços, o consumo não cai tanto. No sentido oposto, não é porque o preço cai que todo mundo comprará mais. Produtos da cesta básica, em geral, possuem demanda mais inelástica.

Confira o gráfico. A oferta passou da linha verde mais à direita para a mais à esquerda. A curva de demanda (representada pela linha vermelha) não varia. Portanto, o equilíbrio de mercado passa do ponto A para o ponto B, em que uma quantidade menor é vendida a um preço mais elevado.

Na ausência de outras alterações, quando o período de entressafra acabasse, a oferta retornaria à curva verde à direita e o preço retornaria ao patamar anterior.

É claro que a economia não é tão simples, pois diversos outros fatores externos também influenciam na formação do preço do tomate. Mas de forma simplificada, esse é o motivo pelo qual os preços sobem quando a sazonalidade é de baixa produção.

Tá achando o tomate caro demais para o seu bolso? Substitua-o por cenoura, pepino ou outras leguminosas que estejam mais acessíveis. Se os hábitos de consumo se alterarem, a curva de demanda ficará mais elástica, ou seja, mais inclinada. Com isso, o preço não subirá tanto na entressafra, e você poderá economizar algum dinheiro!

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E o PIBinho do Brasil…

Talvez vocês tenham achado que eu deixei passar batido a divulgação do PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2012, na última sexta-feira. Não deixei. Mas sinceramente, não sabia o que comentar para não ser mais do mesmo.

Do IBGE:

Em relação ao segundo trimestre de 2012, o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre cresceu 0,6% na série com ajuste sazonal. O maior destaque foi a agropecuária, que cresceu 2,5%, seguida da indústria (1,1%). Os serviços tiveram variação nula. Na comparação com o terceiro trimestre de 2011, o PIB cresceu 0,9% e, dentre as atividades econômicas, destacaram-se o aumento da agropecuária (3,6%) e o dos serviços (1,4%). A indústria caiu 0,9%. No acumulado nos quatro trimestres terminados em setembro de 2012, o crescimento foi de 0,9% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, enquanto que no acumulado dos três primeiros trimestres de 2012, o PIB cresceu 0,7% em relação à igual período de 2011. O PIB em valores correntes alcançou R$ 1.098,3 bilhões.

Vamos aos gráficos, porque nem você nem eu gostamos de blá blá blá em economês:

pib1

pib2

Se você olha o primeiro ou o segundo gráfico (especialmente o segundo, que tem uma periodicidade maior e por isso tende a ter respostas mais suaves), você diria: Francis, mas tá melhorando!

OK. Está. Mas a que ritmo?

Para isto é bom olhar o primeiro gráfico com atenção: no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009, o PIB brasileiro despencou. Foi acachapado pela crise internacional, quando as fontes de crédito minguaram e nenhuma economia do mundo se mexia. Até mesmo a China experimentou naquele momento uma desaceleração representativa (para os padrões chineses).

Recentemente, o governo tem até abdicado de um maior controle sobre a inflação para tentar levantar a economia, cria mais e mais pacotes para a indústria voltar a crescer, mas ainda assim assiste impotente a falta de vigor do PIB. O PIB potencial do Brasil (que já foi estimado em 4,5% a 5% há não muito tempo) deve estar perto de 3% a 3,5% atualmente. PIB potencial é quanto um país consegue crescer sem gerar pressão sobre os fatores produtivos (ou seja, sem faltar mão-de-obra, sem inflação descontrolada, etc.

Isso é nível de país desenvolvido. No terceiro trimestre, o Brasil só não foi pior que o Paraguai na América Latina. Mesmo com todos os incentivos. Agora, a pergunta: Por quê?

E aí eu volto a me repetir…

O governo atrapalha a economia. Muitos tributos, burocracias, normas impraticáveis, desatualizadas e infindáveis, um dos piores ambientes de negócios do mundo (já tentou abrir – ou ainda pior: fechar uma empresa no Brasil? Sem a ajuda de um advogado, é praticamente impossível)…

Infraestrutura deficiente ou inexistente. Portos defasados, ferrovias escassas, estradas esburacadas e estreitas, banda larga entre as mais lentas do mundo, etc.

Mão-de-obra qualificada rara e cara. Engenheiros recém-formados recebem mais no Brasil que em países desenvolvidos atualmente. Fora as garantias sociais e impostos. E não entregam metade da produtividade. Isso sem falar dos funcionários públicos, onde a meritocracia não está nem no dicionário: quanto mais ineficiente, melhor.

Custo Brasil. No Brasil, tudo é mais caro. Para conseguir insumos básicos, paga-se mais que em outros lugares. Fica difícil competir com os produtos estrangeiros…

E assim por diante.

Agora, digam-me: de que ajuda reduzir os juros sobre empréstimos (em uma população já altamente endividada) e conceder reduções pontuais de impostos sobre bens de consumo, se o problema está beeeeem mais em baixo?

Cof cof lobby cof cof.

Mas eu não sei de nada, claro. Nem eu, nem o governo.

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