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Desemprego: a Europa em desespero

Os níveis de desemprego na Europa estão consistentemente altos, e não dão sinais de que vão ceder tão cedo. A crise social é profunda. Depois de tantas elevações nos impostos e cortes nos gastos sociais, a aprovação aos governos já é praticamente nula.

A situação é mais grave nos países em que a crise é mais profunda, dando sinais de que a recuperação demorará – e muito – para chegar. Pessoas desempregadas não têm condições sequer de pagar suas contas do passado (e boa parte das famílias dessas nações está drasticamente endividada). Confiram a ilustração abaixo, com dados do Eurostat (organizados pelo português Dinheiro Vivo):

Os chamados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) têm os níveis mais elevados da região. O minúsculo Chipre, que recentemente balançou a Europa após solicitar resgate, apresenta níveis igualmente elevados – e crescentes.

Nos últimos doze meses, o desemprego passou de 21,5% para 27,2% na Grécia, de 10,7% para 14,2% no Chipre, de 24,1% para 26,7% na Espanha e de 15,1% para 17,5% em Portugal. Quem achava que a situação já estava ruim, se enganou. Ela conseguiu piorar.

Em toda a União Europeia, são 5,7 milhões de jovens desempregados. Veja mais aqui.

Peguemos o caso da Espanha, nação com maior representatividade na economia europeia dos supracitados: além dos assustadores 26,7% da população em geral, não há bons prognósticos para os recém-ingressantes no mercado de trabalho: 55,9% das pessoas com menos de 25 anos não têm trabalho. Isso mesmo: mais da metade.

Para piorar, a duração do desemprego influencia na capacidade de retornar ao trabalho. Veja o gráfico, do The Atlantic:

Alguém vê uma saída para a Espanha?

Eu, infelizmente, não.

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O que um economista faz?

Muitas vezes me perguntam: o que um economista faz?

No que ele trabalha?

Para responder essa pergunta, pedi a ajuda de diversos amigos. Hoje, teremos o diário da minha grande amiga, a economista Priscila Godoy (que já participou do Economistinha neste post aqui ó, um dos maiores sucessos da história do blog).

Abaixo, ela descreve um dia normal de trabalho:

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Olá leitores do Economistinha!

Respondendo ao convite do meu amigão Francis Kinder, eu vim aqui tentar contar um pouco do que é o meu dia-a-dia/mês-a-mês/ano-a-ano de economista. Bom, para começar eu fiz economia da FEA-USP, entre 2005 e 2009. Durante toda a minha faculdade fiz 4 estágios, sendo 3 deles na mesma área que eu trabalhei posteriormente, que é resumidamente de análise macroeconômica. Entretanto, como esta é uma área excessivamente técnica, beirando a pesquisa acadêmica, logo senti a necessidade de aprofundar meus conhecimentos, especialmente no que diz respeito aos métodos quantitativos. Por isso, optei pelo mestrado em economia aplicada da FEARP-USP.

Minha área é específica para economistas, de forma que apenas essa carreira te proporciona os instrumentos e conhecimentos necessários para as análises referentes aos dados macroeconômicos brasileiros e de outros países. Atualmente, trabalho basicamente com duas coisas: projeção e análise do cenário de inflação brasileiro, e com avaliação da economia internacional (EUA, Europa e China).

No primeiro caso, minha rotina é projetar, a partir de coletas e econometria, as variações de inflação de curto e médio-prazo e posteriormente comentar os resultados oficiais. Índices de inflação importantes no Brasil são: IPCA, IPCA-15, IGP-M, IGP-DI e IPC-FIPE. No segundo caso, eu analiso diariamente os dados divulgados referentes a esses pises que eu citei anteriormente, de forma a construir um cenário de médio-prazo, até para avaliar possíveis impactos sobre a economia brasileira.

Gosto muito do que eu faço, pois tenho curiosidade, e gosto de investigar e supor coisas. O lado ruim é a rotina, pois nunca suas atividades fogem muito do que você fez nos últimos meses.

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Brasil sobe cinco posições e é o 48. mais competitivo. Confira o ranking completo aqui.

Segundo o Índice de Competitividade Global (GCI, na sigla em inglês), o Brasil melhorou cinco posições em relação ao ano anterior e ocupa atualmente a 48a colocação no planeta (em uma lista com 143 nações).

Apesar das dificuldades encontradas pelos empresários brasileiros, o país consegue subir cinco posições e assumir a 48a colocação.

A crise europeia parece recrudescer a posição dos países nórdicos, que se distanciam ainda mais na liderança e conseguem assegurar a repetição de resultados positivos do passado: a Suíça lidera pelo quarto ano consecutivo, seguida novamente por Cingapura. Nas terceira e quarta posições, Finlândia e Suécia trocaram de posição.

Em contrapartida, seus vizinhos do sul perdem espaço: Portugal (49.) caiu quatro posições, e hoje é menos competitivo que o Brasil, por exemplo. Espanha (40.) e Itália (46.) também já viram dias melhores. Isto para não falar da Grécia, apenas a 96a colocada, em queda de seis posições – atrás até mesmo da Argentina de Christina Kirchner.

O Chile se mantém como o melhor latino-americano do ranking, na 33a posição geral (duas abaixo do ano anterior). De acordo com o relatório publicado (disponível apenas em inglês, através deste link), uma relativa melhora nas condições macroeconômicas brasileiras, apesar da inflação ainda alta, garantiram a melhoria no ranking. Destacam-se a razoavelmente sofisticada comunidade de negócios e o sétimo maior mercado interno, além do fácil acesso a financiamentos. Por outro lado, a baixa confiança nos políticos (121a posição) e a eficiência do governo (111a melhor), a excessiva regulação governamental (144a colocada) e os gastos desnecessários (135. lugar) contam muito contra o país.

Ainda foram destacadas negativamente a dificuldade em se abrir uma empresa, barrando o empreendedorismo, o excesso de impostos e  a baixa qualidade do ensino, além da infraestrutura de transportes.

Segundo o World Economic Forum:

Vários países da América Latina melhoraram seu desempenho competitivo: O Brasil e o México subiram cinco posições para 48º e 53º respectivamente; o Peru, subiu seis posições para 61º; e o Panamá, nove posições acima, chegando à posição 40º. No entanto, a região como um todo ainda enfrenta desafios importantes em relação ao um quadro institucional frágil, infraestrutura deficiente, alocação ineficaz dos recursos produtivos, resultados educacionais de baixa qualidade e baixa capacidade de inovação.

Apesar de aumentar sua pontuação geral de competitividade, os Estados Unidos continuam a cair no ranking pelo quarto ano seguido, perdendo mais duas posições e chegando à sétima posição. Além das crescentes vulnerabilidades macroeconômicas, alguns aspectos do ambiente institucional do país continuam a despertar preocupações entre líderes de negócios, particularmente a baixa confiança popular nos políticos e uma visível falta de eficiência do governo. De um ponto de vista mais positivo, o país continua a ser uma potência inovadora global e seus mercados funcionam de forma eficaz.

Você pode ler tudo a respeito deste report através deste link. O ranking completo (em excel) pode ser baixado aqui.

Abaixo, um interessante gráfico criado pela The Economist, com a correlação entre PIB per capita e a competitividade. Note os outliers: países com muitos recursos naturais (petróleo, principalmente) podem ter um PIB per capita mais elevado, mesmo com menos competitividade. Isso coloca ainda mais pressão por um crescimento do Brasil no ranking da WEO.

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Sobre atividade econômica, inflação e juros

Para quem não foi educado em economês, cada vez que William Bonner e Fátima Bernardes Patrícia Poeta mencionam alterações na taxa Selic o vazio se instala. Drama. What the hell isso quer dizer? Para isto, O Economistinha aqui está.

Segundo a curva de Phillips, o desemprego e a inflação são dois vetores opostos em um plano cartesiano, e a curva de Phillips apresenta as possibilidades de equilíbrio de uma economia, de forma convexa. Ou seja, para que a inflação se reduza, é preciso que o desemprego aumente. Para aumentar o emprego, a inflação, fatalmente, aumentará.

Ora, para que o desemprego diminua, é preciso que a economia esteja aquecida. Economia em alta, os empresários contratam mais. Por outro lado, se a demanda (a vontade de consumir) é superior à capacidade de produzir, isto gera pressão sobre os fatores produtivos – basicamente, falta produto – ao menos àquele preço. Aí, os preços sobem e a inflação se acelera.

Uma das ferramentas que um governo possui em uma economia aberta é o controle da taxa básica de juros. No Brasil, ela é chamada Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia, mas você não precisa decorar isto) e é determinada por reuniões periódicas do COPOM – Comitê de Política Monetária. Este comitê é formado por alguns dos maiores especialistas em macroeconomia no Brasil, diretores colegiados do Banco Central.

Por que a taxa Selic influencia a economia?

Porque a taxa Selic é a taxa-base da economia. Ela é muito próxima do juro do overnight que, de forma muito simplificada, seria a taxa de retorno de um investimento de duração de um dia livre de risco. Se os juros sobem, o incentivo para se investir na economia real diminuem. Se você pode ganhar dinheiro colocando o capital disponível no banco, para quê correr o risco construindo uma fábrica ou contratando novos funcionários? A mesma lógica vale para os bancos: eles estarão menos dispostos a emprestar, se podem ganhar dinheiro comprando títulos públicos, por exemplo.

E no sentido contrário, também é válido: juros menores ajudam a acelerar a economia.

E é por isto que o Banco Central baixa os juros quando a conjuntura não é favorável (desta vez, crise internacional) e a inflação está sob controle (há controvérsias…). Para dificultar a brincadeira, o efeito das alterações na Selic são defasados no tempo. Especialistas estimam que leve entre 6 e 9 meses para começar a se ver resultados. Ou seja, se o Banco Central erra, ferrou. Se a inflação voltar a acelerar e ultrapassar a meta (de 4,5% em 2012 e 2013, com dois pontos percentuais de tolerância para mais e para menos), o Presidente da instituição precisa mandar uma carta se explicando para o Ministro da Fazenda, e seu cargo corre o risco. Na história do Brasil, isto aconteceu duas vezes: em 2002 e 2003.

Para parar de blá blá blá, vocês viram que na semana passada o Copom cortou a Selic em 0,75 pp, né? Pois bem, a principal justificativa para tais atitudes são a crise europeia, como ficou explícito em atas de reuniões anteriores e implícito no comunicado:

Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 9,75% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela redução da taxa Selic em 0,5 p.p.

Esta redução, considerada vultosa, veio em um momento em que a instabilidade internacional é grande, mas a inflação acumulada em 12 meses está em 5,85% ao ano, e a inflação em 2011 ficou no teto da meta. O que você acha disso?

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Texto extraído do Valor, com a opinião do Professor da FGV-SP Yoshiaki Nakano:

A mudança na condução da política monetária que o Banco Central (BC) vem promovendo está criando as condições para reduzir a taxa de juros no Brasil, equalizando-a ao nível internacional. Se isto acontecer, sairemos de uma armadilha que trava o crescimento acelerado da economia brasileira há quase duas décadas.

A mudança promovida pelo Banco Central, particularmente com a histórica decisão de agosto do ano passado, já está formando a expectativa de redução na taxa Selic de forma que os agentes do mercado financeiro começam a considerar alternativas de investimento financeiro. Entretanto, a utilização pelo Banco Central como juro básico na condução da política monetária, a taxa Selic, a mesma taxa de juros que o Tesouro Nacional oferece para vender seus títulos, impedirá o surgimento destas alternativas de investimento. E, com isso, a taxa de juros não convergirá para o nível internacional. Há problemas conceituais que precisam ser corrigidos para que a taxa básica da economia brasileira seja reduzida. Para promover uma verdadeira revolução na economia brasileira basta mudar algumas regras operacionais do Banco Central e do Tesouro Nacional.

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Segundo Nakano, para reduzir juro, Selic precisa acabar

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