Para quem não foi educado em economês, cada vez que William Bonner e Fátima Bernardes Patrícia Poeta mencionam alterações na taxa Selic o vazio se instala. Drama. What the hell isso quer dizer? Para isto, O Economistinha aqui está.

Segundo a curva de Phillips, o desemprego e a inflação são dois vetores opostos em um plano cartesiano, e a curva de Phillips apresenta as possibilidades de equilíbrio de uma economia, de forma convexa. Ou seja, para que a inflação se reduza, é preciso que o desemprego aumente. Para aumentar o emprego, a inflação, fatalmente, aumentará.
Ora, para que o desemprego diminua, é preciso que a economia esteja aquecida. Economia em alta, os empresários contratam mais. Por outro lado, se a demanda (a vontade de consumir) é superior à capacidade de produzir, isto gera pressão sobre os fatores produtivos – basicamente, falta produto – ao menos àquele preço. Aí, os preços sobem e a inflação se acelera.

Uma das ferramentas que um governo possui em uma economia aberta é o controle da taxa básica de juros. No Brasil, ela é chamada Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia, mas você não precisa decorar isto) e é determinada por reuniões periódicas do COPOM – Comitê de Política Monetária. Este comitê é formado por alguns dos maiores especialistas em macroeconomia no Brasil, diretores colegiados do Banco Central.
Por que a taxa Selic influencia a economia?
Porque a taxa Selic é a taxa-base da economia. Ela é muito próxima do juro do overnight que, de forma muito simplificada, seria a taxa de retorno de um investimento de duração de um dia livre de risco. Se os juros sobem, o incentivo para se investir na economia real diminuem. Se você pode ganhar dinheiro colocando o capital disponível no banco, para quê correr o risco construindo uma fábrica ou contratando novos funcionários? A mesma lógica vale para os bancos: eles estarão menos dispostos a emprestar, se podem ganhar dinheiro comprando títulos públicos, por exemplo.
E no sentido contrário, também é válido: juros menores ajudam a acelerar a economia.
E é por isto que o Banco Central baixa os juros quando a conjuntura não é favorável (desta vez, crise internacional) e a inflação está sob controle (há controvérsias…). Para dificultar a brincadeira, o efeito das alterações na Selic são defasados no tempo. Especialistas estimam que leve entre 6 e 9 meses para começar a se ver resultados. Ou seja, se o Banco Central erra, ferrou. Se a inflação voltar a acelerar e ultrapassar a meta (de 4,5% em 2012 e 2013, com dois pontos percentuais de tolerância para mais e para menos), o Presidente da instituição precisa mandar uma carta se explicando para o Ministro da Fazenda, e seu cargo corre o risco. Na história do Brasil, isto aconteceu duas vezes: em 2002 e 2003.
Para parar de blá blá blá, vocês viram que na semana passada o Copom cortou a Selic em 0,75 pp, né? Pois bem, a principal justificativa para tais atitudes são a crise europeia, como ficou explícito em atas de reuniões anteriores e implícito no comunicado:
Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 9,75% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela redução da taxa Selic em 0,5 p.p.
Esta redução, considerada vultosa, veio em um momento em que a instabilidade internacional é grande, mas a inflação acumulada em 12 meses está em 5,85% ao ano, e a inflação em 2011 ficou no teto da meta. O que você acha disso?