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Quem será o próximo presidente do Brasil?

Se alguém me perguntasse há três meses quem ganhará as eleições para a presidência da república em 2014, eu seria louco se não respondesse que a reeleição da Dilma era a única aposta racional.

Rapidamente, o cenário mudou. Como em toda boa competição, um acidente no meio do caminho juntou os principais candidatos e indicou que, apesar de estarmos muito longe das urnas, a corrida está acirrada.

Ao mesmo tempo, alguns pré-candidatos correm o risco de perder fôlego. Vem comigo e vamos analisar as chances dos principais candidatos ao cargo mais importante do Brasil.

1) Dilma Rousseff

A atual presidente da república continua sendo a principal favorita. Ainda que as mais recentes pesquisas indiquem uma queda vertiginosa na sua popularidade e intenções de voto, Dilma conta com algo que nenhum de seus adversários pode contar: a máquina pública. Os gastos com publicidade do governo federal atingiram R$ 391 milhões em 2012. É um aumento de 11% em relação ao ano anterior. Fora isso, os programas sociais têm forte apelo popular e influenciam diretamente o direcionamento de milhões de brasileiros, temerosos de perder seus benefícios.

Contra Dilma, os atuais protestos mancharam a imagem da presidência. A aura de boa gestão, até então surpreendentemente intocada – apesar dos diversos escândalos que resultaram na demissão de diversos ministros e do péssimo desempenho da economia – agora já não parece mais tão reluzente.

Some-se a isto a inflação persistentemente alta e a insatisfação com a corrupção e ausência de representatividade e tem-se a receita perfeita para o bolo desandar. Não é a toa que a popularidade de Dilma caiu tão rapidamente.

2) Lula

Lula tem se mantido sordidamente afastado das manifestações e do governo desde que os protestos se espalharam pelo Brasil. O ex-presidente, que de bobo não tem nada, sabe do efeito devastador que os protestos têm sobre a imagem dos líderes do momento, e tem ficado em cima do muro em boa parte das opiniões destiladas até o momento.

Não são poucas as pessoas que desejam a volta do ex-presidente ao Palácio do Planalto. E as comparações a Getúlio Vargas são inevitáveis – e “nos braços do povo“, Lula pode construir sua candidatura a mais quatro anos no poder. Oficialmente, Lula nega a intenção de voltar à presidência, declarando apoio incondicional à reeleição de Dilma. Mas se as intenções de voto de sua escolhida continuarem a cair, não duvide: o ex-metalúrgico poderá assumir as rédeas da nação novamente.

3) Marina Silva

Marina recebeu mais de 20 milhões de votos em 2010 e tenta, de todas as formas, ter seu rosto nas urnas novamente em 2014. Contra ela, a incapacidade de gerir um partido político sustentável – com o perdão da ambiguidade – pode ser determinante.

Marina pode enfrentar um teto de vidro, porém: assim como em 2010, suas intenções de voto são majoritárias entre eleitores mais instruídos e ricos: 44% das pessoas que recebem mais de 10 salários mínimos declaram suporte à sua candidatura na mais recente pesquisa feita pelo Ibope.

Outro ponto de resistência é seu posicionamento à esquerda do espectro político nacional. A resistência a um alinhamento mais de centro (à la Lula 2006) pode ser seu calvário. Mas Marina é uma mulher inteligente e deve saber se adaptar às necessidades. Seus posicionamentos religiosos, por exemplo, devem passar longe de sua plataforma política.

Temas complexos e distantes das preocupações dos mais pobres podem fazer sua rede voltar vazia nas próximas eleições. Se ela se reinventar, porém, preparem-se: podemos ter a primeira presidente negra do Brasil.

4) Aécio Neves

Neto de Tancredo, presidente eleito em 1985 (que nunca assumiu o cargo, pois sucumbiu à falência generalizada dos órgãos), é a esperança do PSDB de retornar ao poder. As suas chances, porém, são baixas.

O partido não colheu os louros das manifestações que derrubaram a popularidade de Dilma. A falta de união interna é um dos principais entraves ao sucesso da campanha de Aécio à presidência.

O distanciamento das camadas mais populares da população, reconhecido até mesmo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é outro fator que dificulta os planos do senador mineiro.

Por outro lado, o PSDB tem nome e estrutura para a corrida. A candidatura de Aécio Neves deve receber fortes injeções financeiras, e isso pode colaborar para o crescimento do tucano nas pesquisas.

5) Eduardo Campos

O governador de Pernambuco mantém aceso o sonho de chegar à presidência. A força de seu nome e a elogiável gestão em seu estado contam a seu favor. Porém, romper com o PT seria um péssimo negócio para o PSB em 2014, o que gera até mesmo divergências internas quanto à sua potencial candidatura.

Pessoalmente, acho pouco provável que Eduardo Campos prossiga com seus planos de se candidatar. Um acordo com o partido dos trabalhadores em troca de maior representatividade nacional, porém, pode mudar os rumos de Campos.

6) Outro

A chance de um nome surgir do nada e assumir a presidência em 18 meses existe, mas é baixa. Joaquim Barbosa é desejado por muitos, mas não esboça o menor interesse em largar uma sólida carreira jurídica e o 4º cargo mais importante do país pela politicagem que as eleições envolvem. A insatisfação do PMDB com o tratamento dispensado por Dilma pode fazer o maior partido do Brasil lançar candidatura própria, ainda que não exista a menor chance dos pmdbistas algum dia chegarem a um consenso. Nomes como Ciro Gomes e José Serra já estão envelhecidos e desgastados, mas sempre podem concorrer pela atenção dos eleitores.

Meu palpite: continuaremos sob uma gestão feminina. Entre Dilma e Marina, a novidade deve prevalecer no segundo turno (se Marina conseguir tecer sua REDE e decidir amainar seu discurso de esquerda em relação à gestão econômica).

E você, o que acha? Palpite nos comentários!

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Como Dilma construiu e agora desconstrói sua imagem

A presidente Dilma construiu, em seu primeiro ano de mandato (e desde os tempos de ministra, sob a presidência de lula-molusco), uma imagem séria, responsável e até mesmo um pouco sisuda. Mas isto vem se desconstruindo nos últimos tempos, sob a pressão cada vez mais forte de sua base aliada – inclusive de seu antecessor. Copio abaixo um texto do jornalista Fernando Rodrigues, o qual assino em baixo. Leiam, analisem e comentem. Vocês acham que a presidente está certa em ceder às pressões?

Dilma está desconstruindo sua imagem

Marta e Crivella ministros e apoio ostensivo a Haddad na TV…

….contrastam com reputação pública criada pela presidente

Imagem e credibilidade são difíceis de construir. Dilma Rousseff foi montando sua reputação, tijolo a tijolo, desde o início do governo Lula. Ela é durona, gosta de administrar, é intransigente com a politicagem. O episódio das demissões em série de ministros encrencados em 2011 conferiu à presidente a fama de ter comandado uma faxina ética no governo.

De maneira premeditada ou inadvertida, Dilma foi ficando como uma espécie de ponto de equilíbrio entre o que foram Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Nem é tão elitista e distante do povão como o tucano nem tão populista e condescendente com mazelas brasileiras como o petista. De repente, Dilma até virou personagem de programas de um curioso “humor a favor”, algo raríssimo na história política do país.

Estava indo tudo muito bem. Até que o processo eleitoral deste ano começou.

Uma romaria de políticos do PT passou a frequentar o ex-presidente Lula para reclamar de Dilma. “Ela não trata o PT como deveria” e “Dilma está se arriscando a perder apoio político ao não aceitar demandas dos aliados” são duas frases que sintetizam os resmungos no muro das lamentações do PT e adjacências. Sem contar o desgarramento virtual do PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, virtual candidato a presidente daqui a dois anos.

Candidata à reeleição em 2014, Dilma se sentiu premida pela conjuntura política adversa que se formava no seu entorno. Começou a tomar atitudes erráticas. Cede e depois age como se fosse para dizer: “Eu sou do PT, mas o PT não manda em mim”. É um risco. Sinais trocados podem desconstruir a imagem que criou para si própria desde sua posse no Planalto.

Eis 4 fatos que podem até ter contribuído para Dilma dar mais coesão política ao seu governo e melhorar sua relação com o PT, mas que contrastam com sua reputação pública:

1) Ministério da Pesca – depois de dizer no final de 2011 ao programa Fantástico, da TV Globo, que não fazia “toma lá dá cá” (vídeo e texto), a presidente convidou em março passado, para a pasta da Pesca, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). O objetivo foi apenas político. O PRB tem fortes ligações com a Igreja Universal do Reino de Deus e com a TV Record.

Dilma deu um ministério para acalmar um grupo político-midiático relevante. Enfim, toma lá, dá cá.

2) Resposta a FHC em rede nacional de TV – o ex-presidente escreveu um artigo que teve pouca repercussão no dia de sua divulgação, no início de setembro. A presidente maximizou a crítica recebida do tucano e respondeu com nota oficial da Presidência da República. Não satisfeita, usou parte do seu discurso em comemoração ao 7 de Setembro para fazer um forte ataque às privatizações da administração de FHC. Segundo ela, o tucano “torrou patrimônio público para pagar dívida, e ainda terminou por gerar monopólios, privilégios, frete elevado e baixa eficiência”. Tudo em rede nacional de TV.

Não se trata aqui de negar ou confirmar os problemas das privatizações tucanas. O ponto é outro: convém a uma presidente da República usar uma rede nacional de TV para fazer política partidária? Afinal, Dilma poderia dizer tudo o que falou e muito mais no programa partidário semestral que o PT tem na TV.

3) Vídeo pró-Haddad – pressionada por Lula, a presidente aceitou que gravar e deixar divulgar já um vídeo no qual defende Fernando Haddad, o candidato do PT a prefeito de São Paulo.

Dilma havia procurado o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), há alguns meses e disse que não faria campanha para ninguém no primeiro turno destas eleições. Ou seja, falou uma coisa e fez outra.

Pior um pouco foi o tom e o palavreado usado por Dilma. A presidente foi além de recomendar o voto no PT em São Paulo –o que seria compreensível. Ela fez uma ameaça velada aos eleitores paulistanos ao dizer que Haddad é “a pessoa certa” para a cidade “consolidar projetos fundamentais do governo federal”. Com Haddad, os paulistanos terão “muitas creches” e “novas moradias”.

Ou seja, contrário senso, se Haddad é “a pessoa certa”, as outras pessoas na disputa são as erradas. Em outras palavras, se Haddad não for eleito, São Paulo não vai “consolidar projetos” com dinheiro federal para ter “muitas creches” e “novas moradias”.

4) Marta Suplicy na Cultura – esse é outro exemplo explícito de toma lá, dá cá. A senadora pelo PT de São Paulo, Marta Suplicy, ficou emburrada por vários meses por ter sido alijada da disputa pela Prefeitura de São Paulo. Recusava-se a participar da campanha de Fernando Haddad, uma escolha pessoal de Lula.

Aí Marta Suplicy se acertou com Dilma Rousseff e Lula: iria virar ministra até o final do ano. Entrou então na campanha de Haddad. Só que a nomeação de Marta como ministra da Cultura explicitou um certo de descontrole no gerenciamento político de Dilma. O cargo estava acertado, mas seria dado oficialmente após a eventual eleição de Haddad –o custo político seria assim mitigado.

Ocorre que a notícia foi publicada na internet na manhã de 11.set.2012  por Valdo Cruz eNatuza Nery. Por volta de meio-dia, a notícia foi ampliada pela repórter Cátia Seabra. Dilma Rousseff resolveu então antecipar o fato.

Por quê? A presidente detesta quando informações reservadas de seu governo chegam à imprensa sem sua permissão. Nessas ocasiões, há sempre reações intempestivas –como não avaliar com mais vagar a relação custo-benefício de uma ação subsequente.

Dilma poderia muito bem ter segurado a nomeação para depois do período eleitoral, mas não quis mais postergar porque se sentiu traída pela informação ter sido publicada sem o seu consentimento.

Aliás, essa relação de Dilma com a mídia, de desejar controlar 100% do que é publicado sobre seu governo, é assunto para uma outra análise.

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Quais sinais são emitidos por esses 4 fatos acima?

Para a maioria dos brasileiros é comum políticos se atacarem e presidentes nomearem ministros por indicação partidária. Sem problemas. Esses episódios fazem parte da paisagem.

Ocorre que parcelas da classe média e dos eleitores mais instruídos estavam encantadas com o primeiro ano do governo Dilma e as atitudes “low profile” da presidente.

Enfim estava no Palácio do Planalto uma pessoa de hábitos mais republicanos. Dilma podia ser até meio áspera e ríspida no contato com as pessoas em geral, mas esse traço era até visto como um predicado e não um defeito.

Agora, aos poucos, a presidente vai cedendo aos vícios da micropolítica. O PRB quer um ministério? Eis aqui o da Pesca, não importando se quem vai ocupá-lo não entende nada de peixes. O PT está em apuros em São Paulo com o candidato de Lula que empacou nas pesquisas? Olhem aqui Dilma dando uma ordem aos eleitores paulistanos na TV. O político aposentado FHC faz uma crítica em jornal impresso ao governo Lula? Sem problemas: Dilma convoca uma cadeia nacional de TV para falar do 7 de Setembro e sentar a pua no tucano.

Essas atitudes são (com o perdão pelo uso do clichê) como as ondas produzidas pela pedra jogada no lago. Aos poucos, as ondas se espalham e chegam à margem.

Pior ainda quando são várias pedras jogadas no mesmo lago.

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