Nesta quarta-feira, o povo brasileiro teve uma vitória política única. Após dias de protestos por todo o país (e no exterior), os prefeitos das duas maiores cidades brasileiras tiveram que recuar e baixar as passagens do transporte público. Mas as manifestações iam muito além dos vinte centavos, e isso todos já sabiam. O que acontece agora?
Há dois cenários mais prováveis (e opostos).
1) A preguiça desmantela o “movimento” e tudo fica como está
Não é à toa que, quando alguém decide caçoar da capacidade de mobilização do povo brasileiro, cita um trecho de nosso hino: “deitado eternamente em berço esplêndido”. Não somos naturalmente mobilizados. Ao contrário dos franceses e gregos, o brasileiro “deixa a vida me levar/vida leva eu”.
O estopim das mobilizações foi a elevação nas tarifas de ônibus. Pois bem, a alta não existe mais. Mesmo que ela tivesse persistido, o assunto corria o risco de cair no esquecimento (assim como Marco Feliciano, Renan Calheiros e tantas outras pautas inevitavelmente acabaram em pizza no passado).
Mas justamente o recuo dos prefeitos pode alimentar as manifestações, porque…
2) Onde passa boi, passa boiada.
O ditado popular cai como uma luva neste caso. O povo brasileiro deu uma “pequena” demonstração de insatisfação (comparada aos meses de protestos contra a troika e suas medidas de austeridade na Grécia, por exemplo) e o governo já recuou. A presidente se escondeu o quanto pode, e em sua única aparição pública no período foi vaiada por pessoas que pagaram pelo menos R$280 para ver a estreia da seleção na Copa das Confederações. Governador e prefeito tiveram que engolir seus discursos e acatar a opinião pública. E tudo isso fortalece o “movimento”.
Insisto nas aspas porque não há um movimento. São vários, simultâneos. Não há pauta única: há insatisfação generalizada com a situação do país. E ao mesmo tempo que isso torna difusa a solução do problema, isso também torna as manifestações mais fortes e persistentes.
Ao ceder sem exigir nada em contrapartida, os políticos abrem uma brecha para a fortificação dos protestos. Mas não havia como exigir nada! Mesmo que se tivesse negociado com o Movimento Passe Livre, principal mobilizador dos primeiros protestos, não seria possível impedir que os manifestantes continuassem nas ruas, criticando o governo.
E por isso, o mais provável é que estes últimos dias sirvam de lição para o povo. A união e mobilização traz resultados – e dificilmente o povo ficará acuado daqui para a frente.
Quais as consequências finais disso?
Se os movimentos persistirem por bastante tempo, podemos finalmente vislumbrar uma reforma política. Reforma a partir da qual os partidos busquem verdadeiramente representar o povo, e que pode levar a maior transparência e cobrança.
Se isso realmente vai acontecer, só o tempo dirá.
Vem pra rua!