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No dia em que celebramos 50 anos do discurso mais famoso da história, eu tenho um sonho…

Hoje, o mundo celebra 50 anos do discurso mais famoso da história. No dia 28 de agosto de 1963, Martin Luther King comoveu a população americana em um discurso emocionado a favor da igualdade de direitos em Washington, DC.

Cinquenta anos depois, eu tenho um sonho.

Eu sonho que as pessoas não sejam julgadas pela sua origem, raça, gênero, idade ou orientação sexual, mas por sua experiência e comprovada capacidade de exercer suas funções. Eu sonho que mensagens de ódio sejam cada vez mais incomuns, e que os protestos sejam corretamente direcionados a quem lhes cabe. Eu sonho que as pessoas pensem menos em si e mais no bem comum. Que ao menos pensem antes de agir, falar ou agredir as minorias.

Eu sonho que as crianças de todo o mundo não sejam coagidas a participar de movimentos ideológicos de qualquer tipo, mas que possam brincar e desenvolver suas capacidades em seu próprio ritmo. Que os governos respeitem suas populações e coibam qualquer atividade que possa incitar o ódio entre as pessoas.

Eu sonho que as liberdades individuais sejam respeitadas, e que ninguém seja julgado pelos seus erros de forma injusta ou desumana.

Eu tenho muitos sonhos. Mas hoje, eu apenas sonho com um mundo mais igualitário.

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Sobre ecochatos, grammar nazis e outros radicalismos bobos

Começo o texto com um excerto de um excelente artigo da Gazeta do Povo:

Tenho percebido recentemente um afã de muita gente que quer fazer algo para fazer o mundo melhor. Tenho amigos que abandonaram as sacolas plásticas. Outros que resgatam cães na rua e dão remédios, casa, comida e roupa lavada. Outros ainda que aderiram ao protocolo de Kyoto: só andam a pé, de ônibus ou de bicicleta.

O que me parece, no entanto, e conversando com mais gente descobri que não sou só eu, é que há uma certa confusão sobre o assunto: como se essas coisas, simplesmente, resolvessem um problema. Como se por aderir a várias (ou normalmente a uma só delas) você se transformasse em alguém melhor.

Em alguns casos, a causa vira mesmo algo mais forte, e quem não adere, não concorda, vira proscrito para os adeptos. Como se toda a bondade do mundo dependesse de você ser “um de nós”, de tomar “o caminho da verdade”. E, se não, você ainda é alguém que não viu a luz. Em suma, uma boa causa vira radicalismo.

Concordo plenamente com Rogério Galindo, responsável pelo texto acima, e sugiro a leitura do texto na íntegra.

A ansiedade, o estresse, o inconformismo, a tentativa de ser ouvido, não importa, diversos motivos fazem com que as pessoas tenham reações extremadas com alguns problemas do mundo. Multiplicam-se os posts no facebook equivalentes às antigas correntes, que para cada pessoa que curtir alguma empresa doará dez centavos à cura do câncer, ao fim da fome na África ou aos animais abandonados.

Impressora verde não utiliza tinta e o papel pode ser reutilizado até mil vezes. Mas custa mais de dez mil reais. Vale a pena?

O mesmo pode ser visto até mesmo em assuntos como a legalidade do casamento de homossexuais, por exemplo. Pessoas favoráveis e contrárias inflamam o debate, e o cerne da questão passa para um segundo plano. Será que é preciso mesmo tanto barulho? Ou como uma frase que vi estes dias: Se você é contra o casamento gay, é só não se casar com ninguém do mesmo sexo… (mantenham o bom humor e leiam o meu texto sobre os riscos de unir política e religião).

Às vezes, é preciso ponderar a importância de causar reboliço em torno do assunto que você quer defender. E se houver alguém contrário, será que não vale mais a pena respeitar aquela pessoa e usar outros argumentos ou procurar outros meios de atingir o seu resultado?

Outra coisa: erros de português. Nossa língua é difícil, as pessoas são desatentas, o ensino de base é deficiente e os erros se multiplicam nas redes sociais. Mas gritar com todos que escrevem “concerteza” ou não sabem a diferença entre mas e mais vai tornar o mundo um lugar melhor? Provavelmente não.

O que eu quero dizer é que não é porque alguém não adere à sua causa que esta pessoa deve ser expulsa do seu convívio social. Da mesma forma, é preciso ser compreensivo e paciente. Como Galindo disse em seu texto: E se alguém usa carro porque tem problemas de equilíbrio na bicicleta? Ou se simplesmente não gosta de cachorros. Ou se tem um dia tão corrido que não consegue parar para pensar em comprar sacolinhas verdes, ou seja lá como se chame. Ou se a pessoa simplesmente não estiver com vontade de aderir, quiser seguir outros princípios?

Gostaria de terminar este post com um pequeno trecho da entrevista incrível concedida pelo filósofo, matemático e crítico sócio-cultural Bertrand Russell em 1959.  Para assisti-la na integra, clique aqui. Como ele diz, nunca se deixe enganar por aquilo que você acha ser o certo para todos; e se queremos viver em harmonia, precisamos aprender a ser tolerantes.

PS: Não me coloco aqui como dono da verdade. Acho que, a medida que vocês me conhecem melhor, percebem que eu erro bastante. O mais importante, porém, é ter a elegância e a humildade de pedir perdão. E ao falar especialmente de grammar nazis, ou obcecados pelo português escrito (ao menos parcialmente) de forma correta nas redes sociais e na blogosfera, estou apontando o dedo contra mim mesmo. Mas estou tentando melhorar…

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Para diminuir a criminalidade, puna a vítima.

Do Times of India:

A day after a 23-year-old woman was abducted and gangraped in the city, the Gurgaon administration on Monday passed an order virtually absolving its responsibility of ensuring women are safe. The administration has told all malls, commercial establishments and pub owners that they cannot have women employees working beyond 8pm.

Gurgaon deputy commissioner P C Meena said permission from the labour department would be required for a woman employee to work beyond the stipulated time in these establishments. For staffers permitted to work after 8pm, the employer would have to provide transportation for them to go home, he said.

Se você não foi alfabetizado em inglês, eu explico. A administração de uma cidade indiana proibiu que mulheres trabalhassem após as 20h, devido às recentes ocorrências de sequestros seguidos de estupro.

Este caso relembra aquele que motivou o início da Slut Walk (Marcha das Vadias ou das Galdérias, em Portugal) em todo o mundo. Como o Terra mencionara:

A ideia da marcha canadense aconteceu depois que um policial, durante palestra em uma universidade local, ter afirmado que as mulheres deveriam evitar se vestir como vagabundas para não serem alvos preferenciais de estupros. A palestra se deu em um momento em que os casos de estupro estavam em evidência no Canadá.

São absurdos, mas infelizmente comuns os casos de violência em que se tenta culpar a vítima. “Ela usa saias curtas demais, parece que quer provocar”, “A bichinha precisa se vestir desse jeito?”, “Mendigo não tem que ficar na rua”, “Mereceu apanhar” são frases assustadoramente corriqueiras. Ao invés de se pregar o respeito e a punição adequada aos criminosos, tenta-se pasteurizar a sociedade.

Mas o que leva a esta visão distorcida da realidade?

Em minha opinião, o principal responsável é a falta de civilidade, derivada do desconhecimento (na prática) de conceitos como respeito às diferenças e liberdades individuais, propriedade coletiva, individualidade, etc. Seja por estruturas familiares deficientes, dogmas ou ignorância, muitas pessoas julgam os que estão ao seu redor sem pudor. E os diferentes são os que mais sofrem. Até quando?

E mais importante: como mudar isto?

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Política e Religião: Uma combinação perigosa e indigesta

Opinar sobre a mistura de política e religião é algo perigoso, pois acirra rivalidades e levanta paixões intensas de todos os lados. Mas é uma discussão fundamental no Brasil atual.

O crescimento das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais no Brasil desde a década de 1960, mas principalmente após 1990, é rápido. Várias destas igrejas se caracterizam por um forte caráter carismático, com estratégias de marketing agressivas e vocação evangelizadora. Isto aumenta a exposição destas denominações, o que eleva a polêmica a respeito do papel destes missionários na sociedade, além de assegurar mais e mais participantes.

Igreja Universal do Reino de Deus: exemplo de grandiosidade, opulência e poder que arrebanham mais e mais fiéis a cada dia

Discussões quanto às práticas religiosas a parte, pastores, cantores gospel e outros missionários se espalham pela sociedade, e muitos assumem atualmente cargos públicos: desde vereadores, prefeitos, deputados até, recentemente, a nomeação de um ministro pela presidente.

Gosto de deixar muito claro o trecho “discussões quanto às práticas religiosas a parte” porque o Brasil é um país democrático e livre, onde cada um pode afirmar o que bem entender – sem ferir a liberdade alheia, logicamente. Como afirma nossa constituição em seu Artigo 5º, Termo VI:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (…) É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Portanto, se alguém quiser dizer que acredita que os bebês vêm de repolhos, da cegonha ou que o mundo vai acabar quando algum deus voltar à Terra, esta pessoa tem seu direito assegurado. Acredita quem quer. Ponto final.

Mas… como eu falei, a liberdade de um vai até onde começa a do outro. E infelizmente, a chamada “bancada evangélica” costuma se posicionar com frequência contra o mesmo artigo da Constituição Federal que assegura seu direito de falar: o direito à igualdade.

O Brasil é um país desigual. Enquanto alguns tem alguns direitos, outros não os tem. Heterossexuais podem se casar e adotar com relativa facilidade legal, homossexuais enfrentam uma guerra nestes âmbitos; adolescentes educados em escolas particulares com preços salgados têm acesso à educação superior pública gratuita, os menos favorecidos, não necessariamente; e assim por diante.

Vamos combinar uma coisa, galera? Todos têm o direito à igualdade. A uma vida digna. Não importa se você gosta ou não de fulano ou ciclano, se você acha que ele vai para o inferno por seu comportamento. RESPEITE-O COMO VOCÊ DESEJA SER RESPEITADO. E vamos lutar por direitos iguais a todos, não apenas àqueles com quem nos identificamos.

É só isso. Obrigado.

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