Neste início de semana, nossa presidente Dilma Russeff faz uma visita aos Estados Unidos, potência suprema econômica, política e militarmente no globo. A despeito do crescimento vigoroso de outras economias, como as de China e Índia, juntas elas ainda representam apenas METADE da economia americana*. Porém, os Estados Unidos perderam força como parceiro estratégico e como parceiro comercial do Brasil. A China é, atualmente, o principal destino de nossas exportações. Por outro lado, com a recessão econômica que assola a Europa, Obama tem focado seus esforços em estreitar os laços com os BRICS (se você acabou de chegar de Marte, BRICS: Brazil, Russia, India, China e South Africa, na sigla em inglês), e por isto esta visita de nossa presidente tem importância tão grande.
Entre as reportagens mais lidas dos últimos dias da ilustre revista britânica que inspirou este blog, a The Economist, está um texto abordando este tema, que você pode ler na íntegra aqui. Gostaria de destacar os trechos mais importantes:
BRAZIL has probably never mattered more to America than it does now. America has probably never mattered less to Brazil. Not that relations are bad between the two countries—far from it; they are increasingly cordial and productive. But America has finally, belatedly, woken up to the fact there is a vast, stable country to its south as well as its north; a country, moreover, with a fast-growing and voraciously consuming middle class that seems to offer salvation to American businesses struggling in a moribund domestic market. Brazil, meanwhile, neither needs loans from American-dominated global financial institutions, nor is it otherwise beholden to the country. (…)
Though Brazil is hardly geopolitically troublesome, its worldview—a hard-to-pin-down blend of pragmatism, relativism and a seemingly indiscriminate willingness to be friends with everyone—is unappealing to the United States. The previous president, Luiz Inácio Lula da Silva, was flexible enough to be “my man” to Barack Obama and “our brother” to Fidel Castro. In 2010 Lula stuck his neck out trying to co-broker, with Turkey, an anti-proliferation agreement with Iran’s president, Mahmoud Ahmadinejad. That infuriated countries far more important to Brazil’s strategic interests, and left Lula looking silly when Mr Ahmedinejad made no concessions in return. Ms Rousseff has rowed back from that friendship, but it reinforced an impression that Brazil is unpredictable and naive. (…)
For America, trade, not diplomacy, will surely be top of the agenda. Judging from the number of American investors turning up in São Paulo every week, Mr Obama must hear about the glowing opportunities Brazil presents in just about every time he meets businessfolk. But with the most overvalued currency of any big economy, Brazil’s own industrialists are prodding the government to keep imports out. It has hiked already-high tariffs on many imports even further, and is taxing foreign-currency inflows increasingly heavily to keep out speculative inflows. Brazil has made it clear it only wants long-term investment, and is only interested in foreign businesses that are willing to make whatever it is they want to sell in Brazil.
If Mr Obama tries to argue for freer trade, he will get short shrift. Both Ms Rousseff and her finance minister, Guido Mantega, regard the floods of cheap money being pumped out by the Fed and the European Central Bank as a far worse trade distortion than Brazilian barriers, which they term “safeguards” rather than “protectionism”. Brazil’s drift towards protectionism is in fact becoming a problem for its own economy. But that is an argument for another day. Mr Obama will surely be aware there is still a lot of mileage to be got out of helping American companies to set up shop in Brazil.
Este texto é muito interessante. Como diria Jack, o estripador, vamos por partes.
A The Economist inicia o texto com uma frase de efeito bastante interessante: “O Brasil provavelmente nunca foi tão importante para os Estados Unidos como é atualmente. Os Estados Unidos provavelmente nunca foram tão pouco importantes para o Brasil quanto atualmente”. Na continuação, o autor relembra que as relações entre os países são muito boas, cordiais e produtivas, mas que os EUA só agora acordaram para o fato de que “há um vasto e estável país ao sul, (…) com uma classe média rapidamente crescente, voraz por consumo, capaz de oferecer a salvação aos negócios americanos que se degladiam em um mercado interno morimbundo.”
Forte, não? Pois é, isto dá uma boa ideia de como nosso mercado interno está forte, e como isto é visto pelos estrangeiros.
Para o governo brasileiro, porém, o mais importante nestas reuniões é a diplomacia, segundo a revista britânica. Rousseff estaria em busca de suporte na tentativa de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que é visto com ressalvas. O Brasil é visto como um país flexível demais, capaz de ser amigo de gregos e troianos, estadunidenses e cubanos. A tentativa de acordo com o Irã feita por Lula é ridicularizada.
Voltando ao comércio, a revista menciona as tentativas de proteger a indústria local e a visão contrária a inundação financeira realizada por governos acima do Equador (leia-se americanos e europeus). E aqui gostaria de pontuar algumas coisas importantes:
— Sou extremamente favorável a elevação dos impostos sobre o capital especulativo que elevava a volatilidade do Real. Este dinheiro que entrava e saía ao menor sinal de tormenta apenas corrói a confiança em nossa economia, e não gera nenhum efeito real na economia. Mantendo-se a facilidade de acesso ao capital produtivo, não vejo problemas em se sobretaxar o capital que entra e sai rapidamente.
— Sou contra a elevação de impostos de importação em setores considerados estratégicos. Isto apenas coíbe a livre competição, fazendo com que se crie uma reserva de mercado a indústrias extremamente defasadas. Vejam o setor automobilístico, por exemplo. Comparado a maior parte dos outros países do mundo, já andamos em CARROÇAS, e pagamos preços altíssimos por isto. Nossa indústria é defasada, fraca, engessada.
Por outro lado…
— Sou a favor de reformas que reduzam o custo produtivo, como reformas que reduzam o custo trabalhista, por exemplo. Mas ao invés de se tentar uma reforma ampla, o governo infelizmente insiste em medidas paliativas e temporárias, o que reduz a confiança do empresário e dificulta os negócios.
Os americanos são contra estas medidas, obviamente, porque um mercado desorganizado com uma indústria defasada seria um prato cheio para seus negócios. Eles sabem aproveitar as oportunidades, e hoje elas estão aqui, ao nosso redor. Vamos aproveitá-las, entregá-las aos outros países ou destruí-las, através de medidas protecionistas?
Cada dia vejo mais robustez em suas postagens! Que orgulho, Francis! =)
Obrigado, Breno!
Fico lisonjeado!