Arquivo da tag: infraestrutura

Brasil é insuperável na preparação para a copa, diz Dilma

Internem a presidenta. Sério, ou a Dilma tá louca, ou é extremamente fanfarrona.

Hoje a excelentíssima senhora Dilma Rousseff passou de todos os limites possíveis e imagináveis. Ao inaugurar a nova Arena Fonte Nova, em Salvador, ela afirmou que o Brasil tem sido insuperável na preparação para a Copa. Do Terra:

“Nós estamos superando as expectativas. De fato nós somos um país conhecido como sendo insuperável ali naquele campo, mas estamos mostrando que somos também um país insuperável fora de campo, nós somos capazes”, disse Dilma em discurso na inauguração do estádio, que receberá a primeira partida no domingo, o clássico Bahia x Vitória.

“Nós somos capazes de mostrar que o Brasil dará uma imensa qualidade à Copa das Confederações, à Copa do Mundo e às Olimpíadas nas disputas futebolísticas. Não é qualquer país que tem essa qualidade e essa beleza nos seus estádios”, acrescentou a presidente, que deu o pontapé inicial da arena, descalça, no centro do gramado. (…)

Apenas Fortaleza e Belo Horizonte cumpriram o cronograma original que previa a entrega das arenas até dezembro. Devido aos atrasos nas obras, a Fifa estendeu o prazo da entrega até abril para Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Brasília.

Pernambuco vai inaugurar seu estádio em 14 de abril, e Brasília, no dia 21. O último a ficar pronto será o Maracanã, no Rio de Janeiro, palco da final do torneio, com um evento-teste previsto para 27 de abril.

O ritmo dos trabalhos nos estádios e os atrasos para a Copa das Confederações fizeram a Fifa reforçar a data de dezembro deste ano para a entrega das 12 arenas da Copa do Mundo de 2014.

Além dos atrasos nos estádios, que inicialmente eram tratados pela Fifa com a certeza de que estariam prontos a tempo, praticamente todas as obras de mobilidade urbana e reformas de aeroportos estão atrasadas. A maioria das obras não ficará pronta a tempo para a Copa das Confederações, e a previsão de conclusão é apenas às portas do Mundial.

Desculpa, dona Dilma, mas você deve estar de brincadeira com toda a população brasileira.

Estádios atrasados e superfaturados. Infraestrutura urbana pífia. Elefantes brancos. Legado? Que é isso.

O Brasil é insuperável, sim, na preparação da Copa. Nunca na história deste planeta um país organizou PIOR um evento. O Brasil deveria se espelhar na França, na Alemanha e no Japão, que fizeram bonito na organização de jogos deste tipo.

Dos jogos panamericanos de 2007, o mais importante legado tinha sido o Engenhão, que recentemente foi fechado por problemas estruturais que poderiam ter causado uma tragédia. Agora, os responsáveis se esquivam.

Infelizmente, vemos histórias assim com frequência no Brasil. A lógica se inverte, e se escolhe o fornecedor mais caro com o pior serviço. Até quando?

Etiquetado , , , , , , , , , , , , , , , ,

Um brinde a Curitiba, 320 anos!

ÊÊÊÊÊÊÊÊÊ! Feliz aniversário, Curitiba! Nesta sexta-feira, a capital do Paraná completa 320 anos desde sua elevação à categoria de vila, em 1693, após a fundação inicial pelos bandeirantes à procura de ouro, desde 1668 por estas bandas. Mas não só de história Curitiba vive, e precisa de algumas recauchutagens se quiser sobreviver às próximas décadas.

Vamos olhar para o futuro, Curitiba?

PONTOS FORTES

1) População

Curitiba possui uma riqueza étnica sem igual. A maior cidade do Sul do Brasil foi intensamente povoada por imigrantes europeus (principalmente alemães, italianos, poloneses e ucranianos) e japoneses, mas também recebeu fortes fluxos migratórios de outras regiões do país ao longo do séc. XX, o que garante uma salada cultural bastante interessante.

O curitibano pode ser considerado extremamente frio e distante, além de um pouco egoísta, mas sem dúvida é extremamente criterioso. Diversas marcas escolhem a cidade para testar seus novos produtos e marcas por saber que, se ele cair no gosto do curitibano, dificilmente não fará sucesso no país inteiro.

Curitibano pode ser um pouco egocêntrico e até mesmo arrogante, mas tem o coração muito bom. Quando um dos seus (amigos ou familiares) estão em situação de dificuldade, ele será o primeiro a estender a mão.

Curitibano é trabalhador, esforçado, dedicado. Não é a toa que tantas empresas e indústrias dos mais diversos setores estão em Curitiba e arredores.

2) Clima

É latente: quanto mais temperado o clima, melhor para se viver. O tempo quente demais derruba a produtividade de qualquer um, e Curitiba é a capital mais fria do Brasil. Mas isso não quer dizer que seja tão gelada assim: as temperaturas médias de julho, o mês mais gelado, vão de 8 a 19°C.

Apesar da influência de massas de ar, que podem gerar friagens em pleno verão ou veranicos no inverno, Curitiba é a capital que tem algo mais próximo de quatro estações do ano. Nesta semana, aliás, tivemos típicos dias de outono, frios pela manhã e quentes ao meio-dia.

3) Qualidade de vida

A feira do largo da ordem, já tradicional, é um evento dominical extremamente democrático

Curitiba é uma das cidades menos desiguais do Brasil. Isso se traduz em maior qualidade de vida, com índices de violência mais baixos que a média nacional e eventos que juntam gente de todas as tribos e origens, como a feira do largo da ordem.

Curitiba também possui quase 40 parques, praças ou bosques, possibilitando espaços de lazer para todos que quiserem aproveitar o que a cidade tem de melhor.

Isso sem contar uma invejável gama de restaurantes, com comidas de todos os tipos.

PONTOS NEGATIVOS:

1) Transporte

O transporte público de Curitiba já foi exemplo a ser seguido por diversas cidades do Brasil e do exterior, mas hoje passa por uma crise histórica. A cada ano, menos usuários. Com isto, menor receita aos operadores, que não vêem saída a não ser a subida da tarifa, o que assusta novos usuários. Um ciclo vicioso extremamente perigoso.

Curitiba foi uma das primeiras cidades do mundo a implementar o sistema BRT, que cria faixas exclusivas para o transporte público. Mas isso não é suficiente.

Ônibus lotados já não são privilégio dos horários de pico. O tempo de espera também é cada vez mais longo. E a possibilidade de integração apenas nos terminais de ônibus também é controversa (há quem considere ultrapassada, visto o sistema paulistano de bilhete de integração).

Menos usuários do transporte público, mais carros nas ruas. E cada vez o trânsito de Curitiba fica mais caótico.

2) Violência

Curitiba pode estar em situação bem melhor que a de muitas outras capitais, mas a violência e a falta de contingente policial é latente. Isso gera insegurança, e diminui a qualidade de vida da população. Curitiba gostaria de ser uma “cidade com padrão europeu”, mas hoje está bem aquém disto.

3) Infraestrutura

Estudantes do Colégio Estadual do Paraná, em protesto

Novamente, Curitiba está bem à frente de outras cidades brasileiras. Mas quando comparada a boa parte do resto do mundo, Curitiba carece de infraestrutura básica para a qualidade de vida da população local. Com o montante de impostos pagos, os brasileiros deveriam ter acesso a serviços básicos gratuitamente, mas não é o que acontece.

Quem quer educação, saúde e segurança de qualidade precisa apelar para o serviço privado – e pagar duas vezes por isto.

É justo?

Critico Curitiba porque amo esta cidade, que me deu muitos de meus valores e princípios.

Curitiba me adotou ainda com um ano, e me recebeu de volta de braços abertos quando precisei reequilibrar minha vida.

Obrigado, Curitiba. E muito sucesso.

Etiquetado , , , , , , , , , , , , , , , ,

Governo estuda trem-bala ligando Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília

É isso mesmo que você leu.

O polêmico trem-bala ligando Campinas-São Paulo-Rio nem começou a ser construído e o governo federal já estuda o segundo trem de alta velocidade do Brasil.

Linha que deve ficar pronta até 2020 ligará Campinas, São Paulo e Rio

Além da linha BH-SP-Curitiba, outras linhas já são estudadas pelo governo

 

Da Folha:

Segundo o presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística), Bernardo Figueiredo, já se fala em construir trechos ligando São Paulo a Belo Horizonte, Curitiba e Brasília. “Hoje a ferrovia é competitiva porque a tecnologia mudou, é um serviço muito mais adequado [do que rodovia].”

Figueiredo estima que até a sexta-feira será publicado o edital para contratar o concessionário que vai operar do primeiro trecho de trem de alta velocidade brasileiro, mais conhecido como trem-bala, ligando o Rio de Janeiro a São Paulo e a Campinas.

“A informação que a gente tem é que a área técnica do TCU [Tribunal de Contas da União] já se pronunciou. É possível que a decisão [do TCU] seja na quarta, e o edital saia na sexta”, informou o executivo após palestra na Câmara Americana de Comércio.

A expectativa era de que o edital fosse publicado nesta segunda-feira (26), mas as mudanças feitas no edital, que precisam ser avaliadas pelo TCU, adiaram a sua publicação. (…)

A construção do trem bala Rio-São Paulo será feita em duas etapas, já que o governo não conseguiu que as empresas operadoras se entendessem com as construtoras da via por onde passará o trem.

Segundo Figueiredo, é possível que o governo tenha que construir a linha que ligará as duas cidades, ou fazer uma PPP (Parceria Público-Privada). “Pode ser uma obra pública, uma concessão ou uma PPP”, disse.

A EPL vai desenvolver em 2013 um estudo para definir o modelo e reduzir os riscos de quem construirá a linha, demonstrando a viabilidade comercial do trecho. A ideia é licitar a obra, que poderá ser tocada até por dez empresas, em 2014.

“Em 2013 a gente faz o projeto, porque tem uma discussão sobre o custo e o risco da obra”, disse o executivo. “Vamos fazer um projeto detalhado para não restar duvidas de custo e do risco que ela envolve, e a ideia é licitar no primeiro semestre de 2014.”

O prazo para entrega da obra pelo governo para os concessionários que ganharem a operação será 2020, segundo o edital ainda não publicado. Figueiredo prevê, no entanto, que é possível antecipar o fim da obra para 2018 –quando começaria a operação do trem-bala.

A obra da via que ligará Rio a São Paulo custará cerca de R$ 27 bilhões e a previsão é de que dure cinco anos.

Figueiredo disse, sem dar detalhes, que já se pensa em voltar a construir trilhos no país. Dia 8 será inaugurada em Sete Lagoas (MG) uma fábrica de locomotivas. “Se você criar escala, há condições delas [fábricas para o setor] surgirem. Vai acontecer o mesmo com vagões”, disse.

Figueiredo não deu muitos detalhes do novo TAV brasileiro nessa entrevista, mas a ideia de outras linhas de alta velocidade não é recente. Em notícia de 2008, o Estadão mostrou que o governo já adicionara o trecho BH-SP-CWB no plano nacional de viação, ainda que sem determinar prazos de construção.

Além deste, outros dois trechos já entraram nos estudos: Campinas-Uberlândia (passando por Ribeirão Preto) e Brasília-Goiânia (com parada única em Anápolis).

Vejo dois pontos muito claros quanto a construção de trens de alta velocidade no Brasil, um positivo e um negativo.

Por um lado, estas obras são caríssimas (para o Estado) e não proporcionam o deslocamento da grande população (porque as passagens são quase tão caras quanto passagens aéreas tradicionais e mais caras que as promocionais).

Por outro lado, o TAV é mais rápido que avião (considerando tempo de deslocamento até o aeroporto, check-in, embarque e desembarque), compete em pé de igualdade com ele e consegue deslocar mais passageiros por viagem. Isso reduziria drasticamente um problema grave do Brasil atualmente: a lotação dos aeroportos. O TAV desafogaria os principais corredores aéreos, abrindo espaço para novas rotas e aumentando a integração nacional.

Por isto, acho válido o massivo investimento nesta forma de transporte, porém acho que deveria-se aproveitar para construir trens de baixa velocidade nas mesmas rotas para transporte econômico (ainda que lento) como alternativa ao transporte rodoviário (tanto para passageiros quanto para carga).

E você, o que acha dos projetos de trens de alta velocidade?

Etiquetado , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Brasil sobe cinco posições e é o 48. mais competitivo. Confira o ranking completo aqui.

Segundo o Índice de Competitividade Global (GCI, na sigla em inglês), o Brasil melhorou cinco posições em relação ao ano anterior e ocupa atualmente a 48a colocação no planeta (em uma lista com 143 nações).

Apesar das dificuldades encontradas pelos empresários brasileiros, o país consegue subir cinco posições e assumir a 48a colocação.

A crise europeia parece recrudescer a posição dos países nórdicos, que se distanciam ainda mais na liderança e conseguem assegurar a repetição de resultados positivos do passado: a Suíça lidera pelo quarto ano consecutivo, seguida novamente por Cingapura. Nas terceira e quarta posições, Finlândia e Suécia trocaram de posição.

Em contrapartida, seus vizinhos do sul perdem espaço: Portugal (49.) caiu quatro posições, e hoje é menos competitivo que o Brasil, por exemplo. Espanha (40.) e Itália (46.) também já viram dias melhores. Isto para não falar da Grécia, apenas a 96a colocada, em queda de seis posições – atrás até mesmo da Argentina de Christina Kirchner.

O Chile se mantém como o melhor latino-americano do ranking, na 33a posição geral (duas abaixo do ano anterior). De acordo com o relatório publicado (disponível apenas em inglês, através deste link), uma relativa melhora nas condições macroeconômicas brasileiras, apesar da inflação ainda alta, garantiram a melhoria no ranking. Destacam-se a razoavelmente sofisticada comunidade de negócios e o sétimo maior mercado interno, além do fácil acesso a financiamentos. Por outro lado, a baixa confiança nos políticos (121a posição) e a eficiência do governo (111a melhor), a excessiva regulação governamental (144a colocada) e os gastos desnecessários (135. lugar) contam muito contra o país.

Ainda foram destacadas negativamente a dificuldade em se abrir uma empresa, barrando o empreendedorismo, o excesso de impostos e  a baixa qualidade do ensino, além da infraestrutura de transportes.

Segundo o World Economic Forum:

Vários países da América Latina melhoraram seu desempenho competitivo: O Brasil e o México subiram cinco posições para 48º e 53º respectivamente; o Peru, subiu seis posições para 61º; e o Panamá, nove posições acima, chegando à posição 40º. No entanto, a região como um todo ainda enfrenta desafios importantes em relação ao um quadro institucional frágil, infraestrutura deficiente, alocação ineficaz dos recursos produtivos, resultados educacionais de baixa qualidade e baixa capacidade de inovação.

Apesar de aumentar sua pontuação geral de competitividade, os Estados Unidos continuam a cair no ranking pelo quarto ano seguido, perdendo mais duas posições e chegando à sétima posição. Além das crescentes vulnerabilidades macroeconômicas, alguns aspectos do ambiente institucional do país continuam a despertar preocupações entre líderes de negócios, particularmente a baixa confiança popular nos políticos e uma visível falta de eficiência do governo. De um ponto de vista mais positivo, o país continua a ser uma potência inovadora global e seus mercados funcionam de forma eficaz.

Você pode ler tudo a respeito deste report através deste link. O ranking completo (em excel) pode ser baixado aqui.

Abaixo, um interessante gráfico criado pela The Economist, com a correlação entre PIB per capita e a competitividade. Note os outliers: países com muitos recursos naturais (petróleo, principalmente) podem ter um PIB per capita mais elevado, mesmo com menos competitividade. Isso coloca ainda mais pressão por um crescimento do Brasil no ranking da WEO.

Etiquetado , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Qual o futuro da economia mundial?

O mundo não acaba em 2012. E dificilmente a economia global entrará em recessão.

A pergunta de um trilhão de dólares (ou um bilião, em Portugal… quer entender? Clique aqui) é aquela que todos os economistas com rabo preso morrem de medo de responder. Como eu estou desempregado no momento e não respondo por nenhuma instituição (ou seja, meu palpite não vale um centavo), não tenho com o que me preocupar.

Alguns economistas esperam o pior, como mostrou a Exame:

Apesar dos sutis sinais de recuperação da economia americana no início do ano, como a melhoria nos índices de desemprego, para Lakshman Achuthan, CEO do Economic Cycle Research Institute, este não será um bom ano para os Estados Unidos. Analisando previsões para os indicadores de produção, emprego, renda e vendas, o instituto concluiu que o “crescimento econômico dos Estados Unidos está, na verdade, piorando e não se revitalizando”.

Para Albert Edwards, estrategista da Societe Generale (SocGen), não só a economia americana vai escorregar de novo para a recessão, como a bolha de crédito na China vai estourar e a zona do euro vai desmoronar.  “Se você acha que as coisas estão ruins agora, elas estão prestes a ficar piores”, disse ele, em entrevista ao The Globe and Mail.

Para Bill Gross, o megainvestidor fundador da Pimco, o problema na Europa é apenas um tumor localizado, mas o “câncer no crédito pode estar em metástase”. Em sua coluna no Financial Times, ele disse que o sistema monetário global é “fatalmente falho”, com rendimentos cada vez menores e mais arriscados, produzidos por crises de dívida e as respostas políticas a ela.

Para Peter Schiff, CEO da Euro Pacific Capital, o pior da crise ainda está por vir. Ele defende que a economia americana não está melhorando, mas sim ficando mais “doente” e que verdadeira crise não está no passado e sim no futuro. Para o analista, ao tentar evitar a “dor” da cura, os Estados Unidos só adiaram o sofrimento, que será ainda maior.

Para Marc Farber, investidor e autor da newsletter Gloom Boom & Doom Report, pode haver uma recessão global já no quarto trimestre deste ano ou no início do próximo. Para o investidor, há “100% de chance” que isso aconteça. Em entrevista à CNBC.com, ele destacou que, enquanto o mundo se preocupa apenas com a Grécia e com a Europa, há sinais preocupantes de que a atividade econômica na China e na Índia está diminuindo.

Pouco a pouco, vão sumindo as vozes que acreditam que a economia mundial está melhorando. Curioso que, em 2009, muitos achavam que a crise já havia ficado para trás, enquanto qualquer análise mais atenta apontaria os graves problemas que as políticas monetárias expansionistas (ou seja: encher o mercado de dinheiro para aumentar a liquidez dos mercados e fazer a economia girar novamente) teriam consequências graves.

Como os mercados financeiros são cheios de profecias auto-realizáveis, se os rumores de que a economia mundial deve ir novamente para o buraco, provavelmente ela irá. Mas não acredito que este seja o cenário mais provável.

Os principais líderes mundiais têm tentado controlar a crise do jeito que podem, mas sem realizar reformas substanciais. Ou seja, o cerne do problema não tem sido atacado como deveria. Apenas se tem maquiado o problema, através de medidas pontuais (geralmente envolvendo injeções monetárias aqui ou ali). Há três lugares de que não se pode tirar os olhos, se quisermos saber se a crise vai estourar (como em 15 de setembro de 2008):

– – – Europa: sem dúvida, o mais importante. Mesmo que a Grécia saia do Euro (cenário para que dou probabilidade de 40% atualmente), não é garantido que a crise se agravará substancialmente. Se isto acontecer, a volatilidade aumentará e os investidores virarão rapidamente seus olhos para a Espanha e seus bancos endividados. E como lemos aqui no Economistinha na semana passada, a situação da Espanha é de difícil resolução. Homer (Hollande e Merkel) teriam que abrir a mão e fornecer muito dinheiro tentando equilibrar as contas dos bancos (através do governo) da Espanha, e provavelmente a Europa se tornaria mais unida (diminuindo a independência dos governos nacionais). Provável? Não.

Mas mesmo este cenário é pouco provável. É mais credível que Angela Merkel cederá e mandará mais dinheiro para a Grécia, mesmo não sendo um país muito organizado. A Europa seguiria como está, empurrando o problema com a barriga e ganhando tempo… seriam anos de crescimento baixíssimo. Um Japão na década de 1990 no maior bloco econômico global.

– – EUA: o crescimento econômico americano tem surpreendido nos indicadores mais recentes, mas isto é uma ilusão temporária. Os fundamentos mostram que o desemprego continua alto, o endividamento das famílias ainda é preocupante e a chance de retomada rápida do consumo é baixa. Portanto, os mercados estão se animando sobre sinais pouco confiáveis. Se houver uma reversão rápida e sistemática nos indicadores, os analistas podem mudar de lado na mesma velocidade, elevando o temor de recessão e contraindo o crédito em todo o planeta. A economia mundial poderia ver 2008, all over again.

+ China: é o terceiro ponto que precisa se ter em atenção, mas pelo sentido contrário. Enquanto Europa e Estados Unidos podem se tornar vértices negativos na economia global, a China pode contribuir positivamente. Como os economistas do Bradesco pontuaram em seu Boletim Diário Matinal de hoje:

As especulações são crescentes de que a China lançará um novo pacote de estímulos, que poderia chegar a 2 trilhões de yuans, conforme vinculado na imprensa internacional. É fato que o governo chinês, após a frustração com o desempenho de sua economia em abril, mudou o tom da política econômica, ressaltando as medidas favoráveis ao crescimento. A partir de então lançou estímulos para compra de eletrodomésticos e anunciou incentivos para o setor automotivo; além disso, esperamos redução de impostos e ampliação das facilidades para os investimentos privados. Ainda assim, acreditamos que a elevação dos gastos fiscais voltados às obras de infraestrutura será o motor para evitar uma desaceleração mais forte da economia do país, sendo que a política monetária seguirá aliviando de forma gradual.

Estes são os principais pontos a se ter em atenção.

Não, a economia mundial não vai melhorar muito nos próximos meses. Mas dificilmente irá piorar muito.

Etiquetado , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,